Ser mãe e ser mais um monte de coisas

Pretendi falar nesse post sobre as soluções que as mães acharam para conciliar vida profissional com a maternidade. Mas a verdade é que, enquanto buscava inspiração para começar a escrever, pensei nas amigas daqui e de fora, também na irmã e nas primas e percebi o quanto a vida de todas nós virou de cabeça pra baixo quando viramos mães. E, enquanto eu escrevo o post, posso afirmar que o texto não vai sair do jeito que eu planejei inicialmente e acho também que ele vai virar uma trilogia.

O mais fácil é falar daquilo que me é mais familiar: a vida continuou igual, só que pior. Como assim? Muito simples: eu continuei trabalhando um milhão de horas por dia, mas agora em horários esquisitos (porque a criança não dorme, porque quer atenção ou porque está doente e a madrugada é pra isso mesmo) e me tornei uma profissional mais instável, porque acabo deixando uns furos desconfortáveis aqui e ali.

Por exemplo: agora são quatro da matina. Escrevo esse post agora porque estou sempre atrasada nas minhas pautas que são decididas em conjunto com um tempão de antecedência. De quebra eu ainda tenho o meu lado A de editora executiva. E por lá as coisas não andam melhores. Estou sempre devendo. Uma sensação de estar pelo menos uns quatro meses atrasada nas tarefas. Demoro séculos pra conseguir responder um monte de emails. E, como estou sempre atrasada, tarefas prazerosas viraram verdadeiros pepinos difíceis de serem descascados e eu virei essa pessoa: que não curte a maioria dos projetos e esta sempre descascando um pepino. Chato, mas eu prometi pra mim mesma que 2013 vai ser diferente e que muita coisa vai mudar. Não eu não vou largar o Mundo Ovo. Ou a Pinakotheke. E muito menos a Memória Visual. Vou continuar sendo a mesma profissional de antes. Mas a to do list vai ter que ser mais organizada. E eu vou ter que dizer mais não para projetos que vão me dar mais dor de cabeça do que prestigio (e dinheiro), tornar minha equipe cada vez menos dependente de mim (2012 já melhorou nesse sentido) e ser menos dispersa.

Porque sim. A maternidade deixou em mim aquela burrice gestacional, que é quando as mães não conseguem se concentrar em nada. Acho que isso não vai passar nunca. Eu sempre tive uma tendência à dispersão, é fato. Ser multitarefa faz isso com as pessoas. Mas agora piorou demais. Não sei se é pura exaustão, ou uma diversidade de interesses. Mas a verdade é que eu passei a não funcionar sem uma boa agenda (de papel) para anotar o horário de cada encontro, almoço, coquetel ou reunião e um bom caderno (de papel) para anotar uma interminável lista de afazeres que vão desde concluir grandes projetos como um site, ate agendar um simples exame de sangue.

Já sei: você me viu toda arrumada na matéria para o Jornal O Globo e pensou: essas meninas tão com tudo, não? Pois é: não mesmo. Porque minhas amigas de Mundo Ovo se sentem exatamente iguais em suas vidas e tentam, igualmente sem sucesso, organizar maternidade, com suas carreiras paralelas, com seus respectivos maridos e ao mesmo tempo manter aquela meia perna depilada.

E não tem ajuda extra que corrija as imperfeições. Acho que nem um clone ia ajudar na montanha russa de tarefas em que a gente se afunda. Ou a culpa que a gente sente por não ter uma vida organizada que vai deixar seu filho mais seguro e seu marido menos chateado porque ele colocou uma simples garrafa de vinho há quase um mês na geladeira e vocês ainda não conseguiram degustá-la. Ou você mesma com uma sensação de dever cumprido no final do dia. Porque se você esta sempre “devendo”, o dia termina nunca, correto? Você só dormiu porque caiu exausta na cama.

Não me leve a mal. Isso aqui não é um desabafo e eu não quero jogar tudo pro alto. Eu AMO o que eu faço e sinceramente não existe mais nada que eu deseje ser além de editora. Da Pinakotheke, Memória Visual e do Mundo Ovo. E saber que já se é aquilo que pensou que seria quando crescesse é de um conforto no coração imensurável.

A insatisfação com quem se é e com o que se faz é o que nos torna humanos, eu creio. Se acomodar, jamais. Senão a vida acaba. E essa lista de afazeres interminável é o que me move todos os dias. A lista de afazeres concreta, das minúcias do dia a dia, mas também a lista das tarefas da pessoa que eu venho me tornando nessa jornada full time de mãe, mulher, profissional e esposa.

Nas próximas semanas prometo me aprofundar mais sobre o tema “maternidade e o mercado de trabalho”. Quero falar com as amigas e com as leitoras. Saber o que pensam as mães que, como eu, trabalham full time naquilo que já faziam antes da maternidade. Mas também com as mães que trocaram as respectivas carreiras por conta da nova vida. E ainda as que chutaram o balde e foram viver a maternidade em sua plenitude.

Quer participar? Contar um pouco o que aconteceu com a sua vida? Manda um email para camila@mundoovo.com.br.

 

 

Imagem: Mike Licht, Notions Capital.com

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