Uma geladeira recheada para chamar de minha

Ontem jantei com uma amiga, grávida de nove meses. Entre outros mil assuntos, conversamos sobre todas as mudanças que um bebê traz pra vida da gente. Sobretudo quando a maternidade vem tardiamente: ambas estamos chegando aos 40. Entre a liberdade de poder beber todas sem preocupação, fazer noitada sem hora pra acordar no dia seguinte e poder viajar despreocupadamente sem precisar armar aquele circo, falamos também de alimentação. E foi aí que aconteceu uma das mudanças mais drásticas dentro do meu lar.

Parece que foi há três vidas atrás. Eu e marido, casados há seis anos. A vida era uma sucessão de trabalhar até altas madrugadas, se mudar a cada dois anos e passar muito tempo separados por conta de carreira. Mas quando estávamos juntos era sempre uma festa e a esbórnia se estendia até a cozinha: a gente cozinhava só para os amigos ou festinhas especiais a dois. No dia a dia a nossa geladeira tinha cerveja, mate diet com limão, pão de queijo, nuggets e comida de plástico. Fora que segunda a gente ia jantar com aquela amiga querida. Na terça era dia de choppinho com os amigos. Na quarta a gente pegava um cineminha e aproveitava e jantava por lá mesmo. Na quinta pedia delivery e na sexta rolava aquela depressão. Era dia de ir ao hortifruti, comprar frutas, legumes e vegetais e jurar que segunda-feira ia começar a dieta. Aí no inicio da semana já tava tudo meio murcho porque, convenhamos, a gente tava na rua desde segunda-feira encontrando os amigos, indo no lançamento do livro do outro amigo, planejando uma festinha na casa de um outro grupo e você já sabe aonde eu quero chegar, certo?

Aí chegou a Victoria. Com a Victoria chegou também uma super ajudante para o meu lar. Uma ajudante que fazia de tudo inclusive comida. E supermercado. E eu estava em casa com um bebê. E minha casa passou a ter de tudo um pouco. E eu comecei a usar a minha mesa de jantar para algo além de colocar um milhão de livros e papeis em cima. Mas ainda era meio irregular.

Quando a Victoria entrou no maravilhoso mundo da alimentação sólida, a minha super ajudante foi ainda de mais ajuda. Elaboramos cardápios e ela ia ao hortifruti duas vezes por semana. Na medida em que Vicky foi crescendo a geladeira foi ficando mais recheada: iogurtes, sucos naturais, água de coco, uma variedade de pelo menos cinco frutas por semana, folhas, temperos e legumes variados. Batata doce, gente. Sabe há quanto tempo eu não comia uma batata doce?

E com isso a gente deu uma sossegada em casa (não por causa da comida, mas do bebê) e a geladeira estava tal qual a de pessoas adultas e responsáveis. Ainda existe a cerveja belga e uns três tipos de queijos fedidos. E o marido não vive sem salaminho. Mas agora também tem a horta orgânica que chega na portaria semanalmente e na minha casa não pode faltar milho. Nos finais de semana, principalmente, fazemos todas as refeições juntos para que a Victoria aprenda a comer direito. Em dias de semana a gente chega em casa e come umas frutas picadinhas  e tomamos um iogurte e comemos um pãozinho na chapa. Às vezes com ovo mexido. E muita água.

O resultado disso é uma pele mais bonita, quinze quilos a menos (tudo bem que o cálculo na vesícula ajudou um bocado nesse processo) e tudo funcionando mais ou menos direito. Ainda rola muito chocolate e picolés ocasionais. Mas quando eu quero comer uma besteira, normalmente eu espero ela dormir. E como ela não dorme cedo, às vezes eu me esqueço de comer. E o marido acabou trocando o salgadinho sabor churrasco pelo biscoito de polvilho.

O caminho para uma vida mais saudável ainda é longo. No fundo, eu e marido somos pessoas altamente indisciplinadas. Mas a gente tenta acertar mais do que errar, porque a gente tem a Vicky. E isso faz com que a gente queira fazer tudo um pouquinho melhor.

 

A imagem da geladeira sonho de consumo é daqui

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9 Comentários

  1. Patricia
    15 de agosto de 2012 at 12:27 — Responder

    A geladeira de consumo é mesmo uma graça, mas com certeza, a mensagem que você passa vai ser tornar o desejo de consumo de muitas famílias.

  2. Camila
    15 de agosto de 2012 at 12:44 — Responder

    Amiga, você bem sabe da luta diária que é querer fazer tudo certinho e ainda assim lutar com as gulas e ansiedades alimentares do dia a dia. Mas alguns dias são melhores do que outros, né? Beijoca saudosa

  3. Patrícia Valverde
    15 de agosto de 2012 at 13:04 — Responder

    Eu me emocionei lendo isso. Por todos os motivos. Um beijão

  4. Camila
    15 de agosto de 2012 at 13:42 — Responder

    Patricia, quando eu pesei na balança todos os prós e contras da maternidade a mudança de estilo de vida foi o que mais me assustou. Afinal eram 30 e muitos anos de freedom total e uma vida recheada de milhares de interesses. Mas a maternidade me trouxe, além de olheiras, muita coisa bacana. Emocionalmente é uma vida muito rica. Em questão de tempo eu sempre penso: na boa? o que é que eu fazia com tanto livre? E na prática é um aprendizado diário. Todo dia você aprende uma coisa diferente com aquela pequena versão de você mesma. Com a Vicky eu me enxergo diariamente com outros olhos. E quando eu tenho aquela bolota dormindo agarradinha comigo eu paro de pensar. Os prós vencem de longe.

  5. Renata
    15 de agosto de 2012 at 13:50 — Responder

    Lindo texto. Me emocionei com esse final. 🙂

  6. Mariana
    15 de agosto de 2012 at 15:50 — Responder

    Também fiquei com lágrimas nos olhos. :*

  7. Renata
    15 de agosto de 2012 at 16:36 — Responder

    Amei o texto, Cami! E fiquei com gostinho de quero mais. Parabéns pela evolução! Bjs

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