O relógio do futuro

Meu filho desenhou um relógio que ia até o número 19. Eu, adulta chata, óbvia e um pouco tapada que sou, disse que o desenho estava muito bonito, mas que tinha um errinho ali, pois um relógio de ponteiros só vai até o número 12. Ele me respondeu que não tinha nada errado, não, que aquele era um relógio do futuro.

Era uma criança fazendo o que sabe fazer de melhor, deixar a imaginação correr solta, mas para mim foi muito mais. Era ele me dizendo, gentilmente: olha, mãe, essas 24 horas aqui do nosso dia não estão sendo suficientes e talvez nunca mais sejam, está na hora de mudar logo esse negócio. A gente precisa de um novo relógio. A gente precisa de mais tempo.

E é verdade, não tem dado tempo. Eu não aguento mais mandar ele andar logo. Não aguento mais brigar porque ele demora para comer, porque ele demora para trocar de roupa, quando na verdade sou eu que estou fazendo as coisas rapidamente demais. Um coelho de maratona que sai em disparada e acaba o dia exausta sem conseguir cruzar a linha de chegada.

No exercício de imaginar o futuro, a gente pensa sempre em aparelhos que irão possibilitar que a gente faça cada vez mais em menos tempo. Mas eu quero ser capaz de fazer menos em mais tempo também. Não me entenda mal, adoro tecnologia, mas além de computadores, Skype e avanços científicos, quero também um futuro sem muitos carros e com relógios de corda que badalem 19 vezes, frequentemente quebrem (sobretudo nos fins de semana) e não tenham peças sobressalentes para o conserto.

E esse post vai ser curtinho assim porque já vou ali ficar com ele enquanto meu dia não tem 38 horas.