Mundo Ovo

A corrida desenfreada pelo consumo de produtos infantis


Com a explosão de produtos de consumo para bebês e crianças, a informação que chega de forma imediata em seu e-mail ou browser e o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, pais estão enlouquecendo com todo o tipo de parafernália. Almofadas com forma de mãos para dar sensação de calor humano, viseiras para não cair água no rosto na hora do banho, baldes calmantes, joelheiras e capacetes para bebês que estão aprendendo a engatinhar e andar. Pais de todo o mundo estão perdendo a habilidade de improvisar sem um gadget por perto. E mais: estão se endividando por isso.

Grávida e sendo apresentada a um novo mundo, fiquei muito agoniada com a sensação de que eu precisava dar tudo e comprar tudo para a minha filha. Eu tenho a consciência de que eu preciso criar meus filhos para se acostumarem com a ideia de que, nessa vida, precisamos fazer escolhas inteligentes. E o quanto consumimos tem papel fundamental na minha cartilha de mãe.

Por fim, peguei uma lista tradicional de enxoval, diminui pela metade e foi o que eu adquiri. Victoria quando nasceu não tinha um brinquedo. Ela não teve móbile. Logo depois comprei uns mordedores e brinquedinhos da Lamaze. Ela herdou uns brinquedos das primas e seguimos em frente.

Não que eu não tenha cometido pecados em nome do consumo. De verdade: ela precisava de uma sapatilha newborn da Burberry? Uma bolsa espetacular da mesma marca? Um quimono de matelassê? No verão carioca? Que ela odiou, porque deixava seus bracinhos imóveis? Claro que não. Mas mãe de primeira viagem é assim. A gente pensa naquele “acessório” (sim, você não se imaginava com aquele lindo bebê no seu colo, adornando sua figura? risos), plácido ao seu lado e pensa que nada menos do que as melhores grifes vão tocar naquele lindo corpinho cheiroso.

E tudo bem. Tudo bem desde que a gente tenha consciência de que não precisamos de tudo isso. Que podemos consumir supérfluos desde que com parcimônia. E que, principalmente, devemos nos dar conta de que precisamos viver com menos. Porque o dinheiro que você gastou para que seu filho tivesse andador que senta, andador que empurra, jumperoo e todos os derivados que tem a mesma utilidade não é realmente necessário. Porque você também não quer criar um filho que precise de “coisas” e passe a maior parte do tempo querendo comprar e se comparando com os amiguinhos que tem mais ou menos. Porque isso é para nós, adultos sem noção, que nascemos em outra época e estamos muito preocupados com o nosso status.

E, no fim, seu filho gosta mesmo é de brincar com embalagem e tampinha de garrafa. Claro que ele gosta. Todos são assim. Principalmente se ele for bebê de creche. Porque na educação infantil brincar com sucata tem papel pedagógico fundamental. Estimula a imaginação, coordenação motora e funciona como agente transformador no papel do futuro cidadão.

E toda essa tranqueira, sobretudo quando são bebês, não substitui o fato de que, no fundo, tudo o que eles querem é que a gente chegue logo do trabalho pra poder brincar de cavalinho. Não o cavalinho de madeira importado, que vibra e faz sons de relincho em oito línguas. Mas nas costas do papai e com beijos da mamãe.