Mundo Ovo

Cama compartilhada – Duas filhas, duas experiências


Tive minha primeira filha com 23 anos. Depois de ler muitos textos a respeito que corroboravam minha ideia de deixá-la perto de mim para dormir, segui meus instintos e coloquei-a ao meu lado na cama.

Ela era o tipo de bebê que não gostava de ficar sozinha nenhum instante, eu brincava que o berço dava choque! Ficava no colo o dia inteiro. Dormíamos juntas, ela mamava em livre demanda sem nem me acordar, e foi assim durante uns quatro meses. Depois desse tempo, coloquei o berço dela grudado na minha cama sem a grade, e seguiu assim até ela fazer dois anos de idade.

Para gente era o lógico a acontecer, pois trabalhávamos fora, eu e meu esposo, em horário integral, e o tempo que tínhamos um ao lado do outro era nessa hora do sono. Ter ela conosco nunca atrapalhou nossa vida como casal. Com dois anos o berço ganhou a grade e voltou para a parede. Com quatro anos ela saiu do meu quarto para o quartinho dela. Não foram transições simples. Foram choradas, com idas e vindas, mas foram no tempo certo para a gente.

Escutei muito de amigos e família que ela seria muito dependente, blá, blá, blá… Eu respondia, dizendo não acreditar que quando ela tivesse o namorado dela, iria levá-lo para o meu quarto para dormir…

Com dois anos e meio, minha filha já viajava com minha mãe e passava 15 dias fora sem nenhum problema. Aos quatro anos, dormia fora na casa de familiares ou amiguinhas, feliz da vida. E aos sete anos, passou um mês fora, na casa da avó em outro Estado. Com oito e dez, viajou sozinha com o coral para outra cidade.

Ela tem o QI acima da média, é a primeira da turma, representante de classe, cantora lírica que se apresenta no Teatro Municipal em grandes obras, totalmente resolvida e independente. Tenho certeza absoluta que foi o apoio e proximidade que tivemos com ela na sua primeira infância que fizeram com que ela fosse a pessoa equilibrada e independente que é hoje!

Agora, 12 anos depois, veio para mim um segundo casamento, e com ele um segundo bebê. Eu e meu novo marido estavámos decididos que queríamos manter o bebê perto, mas não na nossa cama, sem nenhum radicalismo… Queríamos poder tê-la conosco na cama, mas que ela não fosse dependente disso para dormir.

Ela nasceu, um bebê pequenino, de menos de 2.5kg, e durante duas semanas não conseguíamos pensar em deixá-la longe. Ficou grudada com a gente na cama. Percebi que não era igual, e à medida em que ela crescia, foi mostrando que não era exatamente essa a preferência dela. Minha segunda filha dorme melhor no berço dela.

Nova criança, nova pesonalidade, nova vontade. Ela gosta de ser ninada e colocada para dormir, não teve o sincronismo comigo de dormir e mal acordar para mamar. Dormindo com a gente, no início da noite ela acorda muito, resmunga mais, fica na agonia entre mamar ou dormir. O resultado é que ela dorme no berço, a menos de um metro da minha cama, e feliz, porque ela decidiu assim, e assim funcionamos. Ela acorda para mamar de madrugada, é ninada, e volta para o berço. Às vezes a coloco semi-desperta no berço e ela adormece sozinha. Quando está menos sonolenta, lá para às 5h ou 6h da manhã, a colocamos na nossa cama, e por esse período, ela curte dormir conosco.

Quando ela estiver acordando só uma vez para mamar, vai para o quarto da irmã mais velha, que não vê a hora disso acontecer!

Minha conclusão é que as crianças são diferentes, por si só. Podemos pensar em rotinas de treinamento para que durmam em seus cantinhos, ou em ficar grudados com eles 100% do tempo. A verdade é que cada bebê tem suas necessidades e cabe aos pais saber identificá-las e respeitá-las, atendendo sempre, para que possamos promover seu pleno desenvolvimento emocional, cognitivo e intelectual.