Mundo Ovo

Controlando o joystick, como uma mãe gamer administra o videogame do filho


O videogame existe na nossa casa desde muito antes do nosso filho nascer. É um hobby que trago desde a infância e, ainda bem, compartilho com o meu marido. Portanto, a dúvida sobre qual a idade certa para se comprar o primeiro videogame (ou se ele teria um) nunca existiu por aqui.

Com os aparelhos disponíveis e plugados no centro da sala, um Wii e um Playstation 3, a questão era quando iríamos deixá-lo jogar pela primeira vez. Com 2/3 anos, ele começou a arriscar os primeiros passos no Wii. Como o controle acompanha o gesto através de sensores, essa é uma plataforma bem acessível para crianças menores, pois certos jogos exigem apenas movimentos amplos. É possível jogar sentado no sofá com o controle na posição horizontal ou usando o sensor de movimento, o que exige que o jogador fique de pé e se movimente. Existe uma infinidade de acessórios para acoplar no controle, que variam entre espadas, tacos de golfe e até bonecos de pelúcia. É a plataforma com mais títulos para crianças entre 3 e 10 anos.

Enquanto o pequeno se encantava com o Wii, nosso PlayStation 3 continuava proibido: “Videogame de adultos”, dizíamos. Confesso que não lembro exatamente quando ele começou a jogar o PS3, mas depois que dominou o joystick cheio de botões, bem mais complexo do que o do Wii, praticamente abandonou o outro videogame.

É bem mais difícil encontrar jogos de PS3 apropriados para crianças pequenas. Muitos títulos são apenas para adultos. Sim, para adultos. Não pense que videogame é coisa de criança e todos os jogos estão liberados a partir de 8/10 anos. Conheço muitos pais que passaram anos na dúvida se iriam dar ou não um videogame para os seus filhos, e depois do aparelho comprado, nunca mais tiveram nenhum tipo de cuidado. E é nesse momento que mais se faz necessária a supervisão de um adulto. É importante verificar a indicação etária dos jogos e assistir os filhos jogando de vez em quando para observar o comportamento deles (e, por que não, jogar junto e se divertir também?). Senão é como ter uma TV por assinatura, deixar todos os canais liberados e o controle remoto na mão da criança. Por que com videogame seria diferente? A quantidade de crianças que joga GTA – um jogo proibido para menores de 18 anos em que o protagonista vive no submundo do crime e pode matar, roubar, beber e até fazer sexo – sempre me impressionou. Eu jogo, mas nunca deixaria meu filho pequeno jogar.

Acreditava que, como mãe, minha preocupação deveria ser apenas escolher jogos apropriados para a idade do meu filho, porém, descobri na prática que esse não é o único critério que deve ser levado em conta. O jogo de videogame, por mais bobo que seja, tem muitos estímulos e gera uma excitação muito grande na criança, uma espécie de fissura. Comecei a perceber que meu filho estava ficando nervoso jogando e não conseguia desligar o videogame quando a gente pedia. Sempre tinha briga. E esse comportamento não vinha do fato dele ter atirado em alguém ou dado socos em uma luta, mas da tarefa exasperante de recolher estrelas no jogo hiper colorido do Mario Bros, por exemplo. Jogar videogame é trabalhoso e frustrante na maior parte do tempo, acreditem. Para o meu espanto e tristeza, o videogame não estava dando certo na nossa casa. Meu filho não tinha maturidade ainda. O jeito foi colocar os aparelhos no alto do armário por um período.

Depois de um tempo, aos 4 anos e meio, resolvemos deixar nosso filho jogar novamente. No início deu certo, mas depois as brigas, sempre na hora de desligar o aparelho, voltaram. Ele ficava muito bravo e irritado. Meia hora depois, tudo voltava ao normal.

(Engraçado, estou escrevendo esse texto depois de jogar videogame. Comprei um jogo novo, absolutamente bobo, sem violência nenhuma. Planejei jogar 30 minutos e fiquei quase duas horas e meia na frente da televisão. No final, estava irritada e nervosa, não conseguia desligar. Se para um adulto é difícil, imagina para uma criança pequena… Costumo dormir cedo e já são 1h20 da manhã e estou ligada como se fosse o meio do dia.)

Mais do que proibir, eu precisava ensiná-lo a administrar o videogame. Já havíamos tentando antes cronometrar o tempo de uso, mas sempre tinha confusão na hora de desligar. Estabelecemos uma regra simples que acabou com esse problema aqui em casa. Sabe de quem é a responsabilidade de controlar o tempo? Dele. Antes de começar a jogar ele aciona um timer que apita quando o tempo esgota. Depois disso, ele tem mais 10 minutos para desligar. Como eu jogo, sei que às vezes não dá para desligar no mesmo segundo, então ele tem um tempinho a mais para achar um checkpoint. 😉 Parece mentira, mas nossos problemas diminuíram muito depois disso. Hoje em dia ele prefere jogar jogos diferentes e divide o tempo : 4 jogos/15 minutos cada ou 2 jogos/30 minutos. Enfim, quem administra o tempo é ele.

Sempre que possível, sento no sofá para observar o comportamento dele jogando. Quando sinto que está ficando muito irritado em alguma fase, paro um pouco o jogo e conversamos. Falo que às vezes é chato mesmo, mas ele precisa aprender a se controlar, se não vou achar que videogame não faz bem pra ele. É uma ótima oportunidade para ajudá-lo a lidar com a frustração, que sabemos que é um problema difícil para as crianças no mundo real também.

Hoje meu filho tem 6 anos e o videogame aqui de casa continua no centro da sala. As regras são poucas, mas inflexíveis: ele pode jogar uma hora de videogame durante um dia da semana (que volta e meia ele esquece) e uma hora aos sábados e mais uma hora aos domingos. Ficou nervoso demais, a gente desliga o videogame, respira e conversa. E assim vamos caminhando, pulando e recolhendo estrelinhas juntos, até a próxima fase.