Como sobrevivi à minha mãe

“Filhinha, mamãe quase te matou uma centena de vezes!” é a frase que a gente mais ouve lá em casa. Eu sou a mais velha de três irmãos e quando eu nasci minha mãe era a famosa marinheira de primeira viagem. Marinheira de primeira viagem sem tecnologia, o que por si só já é muito pior.

 

Flashback para 1973

  • A bíblia das mães era só A Vida do Bebê, do Dr. Rinaldo de Lamare
  • Todo pediatra dava antibióticos para tudo
  • Não havia campanhas para o parto normal e nem para o aleitamento materno
  • Não existia internet, grupos de apoio, revistas específicas, campanhas, mães blogueiras e ombro amigo virtual
  • Nem pensem em gadgets diversos como babá eletrônica. Querida, não existia FRALDA DESCARTÁVEL. E máquina de lavar roupa era coisa de gente rica. Fez a conta?

 

Volta pra 2012

Então pensa que eu era um bebezinho indefeso com uma mãe à beira de um ataque de nervos e que tinha parado de trabalhar. A grana era curta e não só não havia máquina de lavar roupa, como não tinha chance alguma de contratar ajuda externa. Minha avó (que morava no Méier enquanto nós morávamos em Ipanema) dava aquela força extra, mas não tava exatamente ali do lado.

Então eu, o bebezinho indefeso, aguentei torturas diversas: mami, ao invés de furar o bico da mamadeira para aumentar o fluxo, cortou com a tesoura. Eu vomitava jatos “à la exorcista” e ela não entendia o porquê. Até que eu comecei a perder peso e ela me levou na pediatra que quase deu nela de vassoura. Eu também era alérgica a calça plástica e até mami perceber isso, demorou. A dica foi quando ela tentou trocar a minha fralda e a pele do bumbum quase saiu junto. Quando eu era mais velha e minha irmã Mariana já havia nascido, mamãe obrigou a gente a ficar sentada na mesa da cozinha até terminar de comer TODA a salada com tomates. E a gente chorando horrores, lógico. Logo depois ela descobriu que estava tudo azedo. E por fim, estávamos em família, curtindo um fim de tarde no deque em Angra dos Reis, meu pai me ninando na rede… Bom, só para te dizer que, sabe-se lá como, eu escorreguei do colo dele e voei do deque. Minha sorte é que eu fiquei presa

nos galhos da árvore, senão eu não estaria aqui para contar essa história. Até hoje quando alguém canta a música da Camélia que caiu do galho eu tenho arrepios.

(Pausa pra alguém chamar o serviço social, eu sei.)

Eu me lembro de quase todas essas histórias e tantas outras. Aliás, nada disso deve ter sido tão dramático assim, mas é mais divertido pensar que sim. Porque no meio dessas “barbaridades” todas também vieram montes de acertos e ensinamentos que eu e Mariana incorporamos na nossa vida com as nossas filhas.

Pra começar que a gente é uma família com F maiúsculo. Daquelas que vive junto e misturado. Onde todo mundo se mete, tira férias juntos, fala ao telefone 600 vezes ao dia e precisa se ver toda semana. TODA SEMANA. Um saco, eu sei.

Como filha, aprendi com meus pais que não tem tempo feio que não possa melhorar. Eu posso contar com eles pra tudo. Foi com a minha mãe e com a minha avó que eu aprendi que religião a gente aprende em casa. E que pratica no dia a dia. Com meu pai eu aprendi que é trabalhando que se ganha a vida. E que não existe outra maneira de ser, a não ser honesto.

E de tudo o que eu aprendi com eles e que considero o maior acerto de todos, está o de amar a minha filha e o meu marido acima de tudo. Que minhas sobrinhas são quase minhas filhas. Que mesmo rabugenta, cansada e irritada o olhar é sempre de amor. E que mesmo separado, tá todo mundo no mesmo barco.

Também aprendi, ao contrário do que dizem os inúmeros manuais de pais da atualidade, que não se deve deixar criança chorando sozinha, e que não há problemas se a criança quiser dormir com os pais. E que todo mundo precisa comer saudavelmente, mas se quiser comer uma bobagem de vez em quando não é o fim do mundo. E que de vez em quando é bom deixar o bebê sem fralda, pra deixar a pele “respirar”. E que homeopatia é ótimo. E falar com o psicólogo da escola, também. E que tem que acordar cedo, pegar sol pra secar o catarro e mais tantas pequenezas do dia a dia.

No final das contas eu aprendi que quem tem uma família bacana como a minha tem tudo. E dá vontade de aumentar a prole imediatamente. Só pra começar tudo de novo.
Imagem: Iáfa Cac | www.thekiwistudio.com

 

 

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6 Comentários

  1. Lu
    29 de novembro de 2012 at 10:05 — Responder

    MELHOR POST !!!!!!!!!

  2. Cris
    30 de novembro de 2012 at 21:14 — Responder

    Adorei!!!!

  3. 1 de dezembro de 2012 at 19:16 — Responder

    Que delícia de família!

  4. Patrícia Valverde
    6 de dezembro de 2012 at 11:14 — Responder

    Que liiiiiindo!!!!
    Amei!

    • Camila
      11 de dezembro de 2012 at 9:26 — Responder

      🙂 você bem sabe que a família ripinica rende bons posts. Beijoca

  5. Andressa
    27 de agosto de 2015 at 10:31 — Responder

    Amei!!! Sempre acompanho vocês!!

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