Percebo que, hoje em dia falta uma boa dose de intimidade nas relações. Isso não é algo que se possa comprar na farmácia, nas lojas ou numa viagem à Índia. A intimidade nas relações parte da que temos com nós mesmos. Saber o que somos, o que gostamos, o que queremos e como lidamos com o mundo é fundamental para estabelecimento de uma relação íntima com aqueles que amamos.
Falo de uma intimidade que não é ficar pelado na frente dos filhos, tomar banho junto ou ir ao banheiro de porta aberta, e sim daquela ponte sólida que construímos com o outro e que facilita o intercâmbio. É aquela ligação que as mães têm com seus bebês nos primeiros meses de vida e que possibilita um entendimento do que eles estão passando, quando acolhê-los, quando lhes dar limites, ou quando alimentá-los. Essa ligação muitas vezes se perde com o corre-corre do dia a dia ou com os desafios de cada idade.
Quanto mais nos conhecemos, mais conseguimos ver o outro como ele é, sem que ele vire nosso espelho. É tão fácil enxergar os filhos como uma imagem de nossas dificuldades ou de nossos desejos frustrados. Difícil é percebê-los como seres diferentes de nós, com características, desejos e percursos próprios.
Não é preciso passar o dia inteiro junto para manter a intimidade. Ser mãe full time também não é receita de sucesso já que estar atenta às necessidades físicas (banho, alimentação, sono, etc.) não significa estar atenta às necessidades emocionais. É comum ficar tão assoberbada de tarefas que não sobra espaço para de fato enxergar o outro.
Se seu filho não quer ir à escola, qual é o motivo? Dificuldades acadêmicas, conflitos com os amigos, problemas em se separar de você, cansaço por sobrecarga? Uma boa dose de intimidade certamente encurta o caminho para a resposta certa.
Participar da rotina, das amizades, do lazer, das alegrias, das frustrações, dos medos e desejos, são os tijolos para a construção de relações íntimas, sólidas e certamente gratificantes.
Imagem: Glyn Lowe