Mundo Ovo

Mãe no mundo – Próxima parada: Los Angeles


Era uma vez uma “eu”. Sonhadora, trabalhadeira, festeira e esperando por aquele amor arrebatador. Era uma vez um “ele”. Igualzinho a mim.

Ele e eu nos encontramos e começamos a viver o nosso amor. Isso foi há 13 anos.

Depois de muitas viagens e romance, eu e ele resolvemos mudar para a Califórnia e lá pelas tantas, veio a conversa sobre ter um bebê.

Um mês depois, o “assunto” principal da conversa estava lá devidamente instalado na minha barriga. Aos 36 anos, sem plano de saúde, trabalhando como loucos, aproveitando a vida em festas e viagens e morando numa casa zero perfil “família“, entramos de bom grado em uma nova fase.

Na primeira gravidez, fiz tudo como manda o figurinoA cada consulta, um ultrassom. Glicose por volta do quinto mês, quando tambése faz a amniocentese (por causa da idade, minha gravidez era considerada de alto risco). Não é obrigatório, mas aconselhável, o que aqui dá no mesmo. Coube a mim e ao Mark decidirmos. No início do sétimo mês, as ultras passaram a ser em 4D, sem custos adicionais (pelo menos na minha médica). Por volta desta época, entramos no cursinho de preparação para a vida com filho.

Em nenhum momento a minha obstreta cogitou cesariana, mesmo sabendo que as medidas do meu pequeno não eram tão pequenas assimComo eu não sabia se teríamos família por perto, sempre quis parto normal por acreditar que a recuperação seria mais rápida.

Como o Mark estava viajando muito a trabalho e éramos marinheiros de primeira viagem, contratamos uma “doula“. Foi realmente fundamental, sobretudo para o papai. Durante o meu trabalho de parto – 36 horas no hospital –, o trabalho da doula foi importante para explicar o que estava acontecendo.

Sempre perguntamos as coisas mais loucas para a minha obstetra. E por mais maluca e non-sense que fosse a pergunta, ela sempre respondia. Muitas vezes, até ria com a gente. Ela também ligava pessoalmente para dar resultados de exames. Mais para o final da gravidez, quando já estava me sentindo mais pesada, perguntamos o que poderíamos fazer para antecipar o nascimento de forma natural. Ela sugeriu caminhadas, sexo e até um pouquinho de vinho para ajudar a relaxar.

No sábado antes de ele nascer, tive um sangramento. Ligamos para a doula e ela disse para deixar tudo pronto e observar. No domingo, dia dos Pais aqui, smos, passeamos, andei, andei, comi, comi. Na segunda de madrugada comecei a ter contrações. Fomos ao consultório e o médico de plantão disse que só estava com 1cm de dilatação e que podia voltar para casa. Voltamos e continuei trabalhando em casa, entre uma contração e outra. À tardeminha médica telefonou e pediu que retornássemos ao consultório. Já estava com 3cm de dilatação. Ela falou: vai comer alguma coisa que o seu bebê chega hoje! Uma semana antes da data prevista.

Entramos no hospital às 18 horas de segunda-feira (18 de junho) e Noah nasceu na tarde seguinte (19 de junho).  A todo o momento, não só a minha médica, como a doula e as enfermeiras  me lembravam que eu não precisava sentir dor. Se precisasse da “epidural, bastava pedir. Lembro que elas sempre falavam: “ninguém vai lhe dar um troféu ou 1 milhão de dólares pelo seu sofrimento. Queremos que a sua experiência do parto seja boa e feliz. Você é que importa”.  Pedi anestesia algumas horas depois de dar entrada no hospital. Senti as contrações, mas a dor não era absurda. Era uma cólica e uma pressão leve.

O tempo todo as enfermeiras checavam se estava tudo bem, me acariciavam, brincavam e nos deixavam muito tranquilos. Mas como por muito tempo não saí dos 8cm, a médica levantou a possibilidade da cesárea por causa dos riscos para o bebê.

Quando todos saíram do quarto para preparar a transferência para o centro cirúrgico, comecei a conversar com o bebê (não sabia ainda se era menino ou menina), pedindo para ele/ela sair porque eu queria muito ir para casa e que nós tínhamos um plano. Quando todos voltaram para o quarto e a médica checou a dilatação, meu filho já estava coroando.

Noah nasceu de parto normal com quase 5kg e 51cm. Foram três empurrões e em menos de 10 minutos o memenino entrava neste mundo. Nem sueiAssim que o parto terminou, fui transferida para o quarto de recuperação.

Tanto Noah quanto Rio, meu segundo filho, nasceram no hospital Saint Johns, em Santa Monica. O hospital é administrado pela Maria Shriver (ex-mulher do governador da California, Arnold Schwarzenegger). Os leitos são verdadeiros quartos de hotel.

Dois dias depois estávamos em casa. Esse é o tempo de internação aqui nos Estados Unidos para parto normal. A recuperação foi excelente. Minha família chegou de surpresa uma semana depois, o que ajudou muito na transição para a nova fase de nossas vidas.

Um ano depois do nascimento do Noah, começamos a conversar sobre um segundo bebê. Seis meses após começarmos a tentar, sem sucesso, decidimos voltar a minha obstetra. E foi a hora de tratamento de fertilidade. Acabei nas mãos da melhor médica de fertilidade de Los Angeles que, para nossa felicidade, é brasileira. O tratamento com ela foi reconfortante. Sempre nos beijando e abraçando, sempre positiva, ligando pessoalmente para mim para dar os resultados. Mas ao final de seis meses, já não aguentava as injeções hormonais diárias, o sexo programado e a ansiedade a cada mês esperando um resultado positivo. Decidimos tentar acupuntura, ioga e uma dieta específica e balanceada. Fizemos todos os tratamentos juntos. Após três meses, estava grávida do meu segundo menino.

Como era uma gravidez de alto risco – estava com 40 anos -, o acompanhamento médico foi intenso. Fizemos aconselhamento genético e teste para detectar qualquer anomalia logo no inicio da gravidez. Aos três meses fiz um exame que retira microscópicas partes da placenta para detectar problemas. Havia risco de aborto e os nossos corações estavam na boca. Nem pensar em perder esse bebezinho que tanto queríamosNo quinto mês fiz outra amniocentese. Graças a Deus, nenhum dos dois exames, super delicados, afetaram a minha gestação.

Mas o intenso acompanhamento continuava. Eram visitas a minha obstreta e a um centro especializado em saúde fetal, em Beverly Hills. Nunca me esquecerei o imenso carinho de todos. Não apenas do médico, como também das enfermeiras, recepcionistas e conselheiras.

Por volta do sexto e sétimo mês, após passar dois meses no Brasil, voltamos para Los Angeles e peguei uma infecção respiratória que me deixou doente por 40 dias. Tomei muito antibiótico. Também descobrimos que estava com diabetes gestacional. Por causa da diabetes – e os fatores naturais, somos altos – o bebê cresceu muito rápido.

Começamos a conversar sobre a indução e antecipação do parto. Fiz outra amniocentece para confirmar o amadurecimento dos pulmões do bebê e confirmamos a indução ao trabalho de parto um mês antes do dia previsto para o nascimento.

Os últimos dois meses de acompanhamento da gravidez foram feitos em um consultório especializado em genética, com ultrasom 4D em flat screen. Foram feitos todos os exames possíveis e necessários para garantir um final de gravidez bem sucedido. O mais interessante foi a falta de pressão para uma cesáreamesmo com os médicos sempre comentando como o bebê já estava grande. Eles acreditavam que como tive o primeiro filho de parto normal, sem problemas apesar de grande, nada impediria de ter o segundo.

Fui pra o hospital no dia 21 de fevereiro, uma segunda-feira, e o meu Rio nasceu na tarde seguinte. Fiz indução e não pedi epidural até 8cm de dilatação. A partir daí nãaguentei mais. Infelizmente o meu cérvix começou a inchar e a cabecinha do bebê ficou presa. Ele era maior do que o esperado. Acabei fazendo uma cesárea. A minha família chegou no dia 21 pela manhã e conseguiu acompanhar o trabalho de parto e a cesárea. Eles ficaram conosco por seis meses, uma ajuda incrível.

Eu realmente odiei a cesárea. Achei a recuperação terrível por causa da retenção de líquidos e o incômodo na região da incisão. Infelizmente, não havia outra escolha.

Por razões ainda desconhecidas para a medicina, o meu Rio nasceu com um defeito chamado craniocinostosis, onde os ossos do crânio do bebê se solidificam antes do tempo. Isso faz com que a criança tenha a cabeça em forma de bola de futebol americano. Outros riscos são complicações de desenvolvimento e convulsões, uma vez que o cérebro não tem espaço para crescer. Desde as primeiras visitas ao pediatra essa hipótese foi levantada e finalmente confirmada quando o Rio estava com 4 meses de idade. A recomendação aqui nos Estados Unidos é que a cirurgia reparadora seja feita antes dos 6 meses.

Rio foi operado pelo melhor cirurgião plástico eneurologista dos Estados Unidos no dia 3 de agosto de 2011. A recuperação foi (e é) surpreendente. Mas isso é uma outra “mommy story que eu conto depois para vocês.