Mundo Ovo

Mãe, posso tomar banho de roupa? Pode.


De vez em quando eu me acho uma mãe muito chata. O dia inteiro cobrando, mandando, exigindo, brigando, ensinando. Pareço um disco arranhado repetindo não… não… não… não… não… não…

Leio diversas matérias afirmando que vivemos em um mundo no qual os pais não impõem limites aos seus filhos, que não sabemos dizer não. No afã de não ser uma mãe omissa, acabo exagerando para o outro lado e viro uma metralhadora de nãos. O que surte o mesmo efeito de falar sim para tudo. Em um dia repleto de recusas, o pobrezinho do não acaba perdendo a força e virando um verdadeiro estímulo para a criança fazer justamente o contrário.

Acredito que os nossos nãos precisam ser valorizados e usados em momentos oportunos. E quando eles forem usados, serem um verdadeiro NÃO, solene, em caixa alta e irrevogável.

Em um desses dias chatos, em que eu repetia não no automático e olhava mais para o relógio do que para o rostinho do meu filho, aconteceu o seguinte diálogo:

–  Mãe, posso colocar primeiro a meia e depois a calça?

–  Não, primeiro a calça.

– Ah, mãe, deixa.

–  Não.

Parei e olhei aquela situação de fora, como se eu fosse uma outra pessoa. Mas por que diabos eu estava falando não? Qual diferença de colocar primeiro a meia e depois a calça? Se ele ainda tivesse pedido para colocar primeiro a calça e depois a cueca… Claro que pode. Sim!

Fiquei pensando nessa cena durante todo o dia no trabalho. Quando cheguei em casa à noite e fui dar banho nele, começou a enrolação. Eu, cansada, com pressa, com fome, falei:

– Filho, tira logo essa roupa senão vou te colocar debaixo do chuveiro de roupa e tudo!

– Ah, mãe, eu quero!!! Posso tomar banho de roupa?

E eu respondi sim. Meu filho ficou tão surpreso com a resposta que hesitou. Perguntou em sequência: “Sério? Jura? Posso mesmo?”. Dizendo sim, eu levantei ele no colo e o coloquei debaixo do chuveiro de roupa e tudo. Foi uma farra. Ele se divertia tanto que não resisti e acabei entrando no chuveiro de roupa também para ver se era tão legal assim. E foi.

Depois dessa experiência, passei a reavaliar vários nãos automáticos da nossa rotina e economizei alguns para usá-los em momentos mais oportunos. Além dos nãos, aproveitei para reavaliar também a própria rotina em si. Nesse processo, já deixei ele jantar apenas doce, estragar o apetite antes do almoço, falar um palavrão embaixo das cobertas e sair na rua de pijamas.

Saber dizer sim é uma arte.