O período que a mulher fica na maternidade com seu recém-nascido é uma espécie de limbo. Vocês, que já são mães, não tiveram essa sensação? Uma hora você está vivendo sua vida atribulada, carregando o seu barrigão pra todo canto. Aí você vai ter o seu bebê. Ele é seu. Mas também é das enfermeiras, do berçário, dos amigos e da família que vão visitar, câmeras em punho, dizendo que o seu bebê parece só com o pai.
Me lembro vividamente da sensação de estar em suspensão da vida. Lá tinha gente me monitorando e me ajudando. Meu barrigão sumiu, embora ainda estivesse com um certo desconforto, era um desconforto diferente. Eu tava comendo uma comida estranha, dormindo numa cama esquisita, num quarto meio feioso e a bebê, que eu ainda não tinha muita intimidade, fazia muitas aparições para aprender a mamar, descansar, para ser fotografada e ter um monte de gente babando em cima dela.
Chegou o dia de ir pra casa. A manhã tava linda, o quarto tinha uma vista incrível pro Cristo Redentor. Mais fotos. Já tava tudo no carro. Aí chega aquela coisa linda, de cinema, pra ir embora. Ela mama, dá um arrotinho e dorme.
Agora sim, vamos embora. Lá fomos eu, marido, bebê e minha mãe. E no curto caminho entre a maternidade e a minha casa, rolou um pânico: Meu Deus, e agora? O que eu preciso fazer quando chegar em casa? Era meio-dia. Quando era a hora dela comer? E tomar banho? E dormir? Eu já me sentia a pessoa mais despreparada do universo. Mas a minha mãe tava lá. A minha empregada também. O marido também, mas ele tava no mesmo barco que eu. O barco dos sem-noção.
Lembro que as duas assumiram as rédeas daquele dia e a minha empregada me deu um caderninho para eu anotar a rotina da Victoria e meus remédios. “Vai ser mais fácil pra contar pro pediatra e pra sua médica”. Combinamos que ela tomaria banho às 11 h e às 18 h. E de resto a gente ia se ajeitando. Depois do leitinho do hospital, ela acordaria 3 horas depois e assim começava a rotina de mamar, arrotar, trocar fralda, dormir. O bebê dormia e eu descansava. Nem sempre eu dormia. Também via televisão, entrava na Internet, recebia os amigos e ia de hora em hora checar se ela estava respirando. Mas, em dois ou três dias eu já era mãe profissional e parecia que eu tinha nascido com aquele conhecimento todo.
Claro que cada uma de nós vive um tipo de experiência, e cada uma sente de uma maneira. Mas em comum temos os momentos de ansiedade, sem saber o que fazer naquelas primeiras 24 a 72 horas de mudança radical de vida. Minha dica é que você não vá sozinha pra casa. Se você tiver a companhia da sua mãe, irmã, sogra, uma empregada antiga ou uma super amiga que já seja mãe, facilita muito. Esses primeiros dias é um turbilhão de emoções. Hormônios em polvorosa, neuroses, pânicos diversos e ataques de choro. Tudo isso é normal. Você está fragilizada. Mas isso passa rápido. E mais rápido ainda você estará dominando a situação como se tivesse feito isso a vida toda.