Terça-feira de noite, 23h12, todos estão dormindo em casa e eu faço grandes planos para o dia seguinte mentalmente enquanto ajusto o relógio do celular. Amanhã vou acordar bem cedo, correr na academia, tomar banho, brincar um pouquinho com o pequeno, ir para o trabalho, ser brilhante, fazer a unha na hora do almoço, comer uma refeição saudável, voltar para o trabalho, aproveitar que não tenho nenhuma reunião marcada e terminar de responder meus 40 emails atrasados, sair na hora certa, buscar meu filho na creche, dar jantar, colocar ele para dormir cedo, ligar o som, abrir o vinho, ver um filme e namorar. Amanhã vou dar conta.
Apago a luz do abajur confiante.
Meia noite e três ouço um chorinho no quarto ao lado e me levanto. Troco a fralda, dou de mamar, coloco para arrotar e praticamente flutuando coloco meu bebê de volta ao berço sem fazer nenhum barulho. Volto para a cama pensando em como amanhã vai ser incrível, “o dia em que eu vou dar conta de tudo”, inclusive das minhas unhas, mas o sono não vem. Vou à cozinha, bebo um copo de água enquanto olho pela janela. Ligo a TV do quarto e vejo uma reprise de Friends sem som para não acordar o meu marido, embora quisesse muito que ele acordasse. Mas sou madura e fico em silêncio. Começa outro episódio. Como já tinha visto esse mais de cinco vezes, o sono vem avassalador e durmo.
Acordo com outra série passando na TV e outro choro. 2h42 e ele chorando de novo? Ele está quentinho. Pego o termômetro e, sim, é febre. Dou o peito de novo. Ele não quer e não para de chorar. Dou remédio. Ando pela casa, primeiro com ele no colo, depois com ele no carrinho. O pai acorda, nos revezamos. Ofereço o peito novamente, ele se acalma e o coloco para dormir na minha cama. Até ás 6h acordo de meia em meia hora para ver se a febre cedeu. Ele mama de novo antes de 7h e dorme, ou melhor, dormimos até ás 9h e já estou super atrasada. Pelo menos, nem sinal da febre. Adeus academia… Tomo um banho voando, coloco a primeira roupa que eu vejo pela frente, deixo ele na casa da minha mãe e chego no trabalho atrasada.
Desmarco a manicure, ligo pra lanchonete fast food e almoço na frente do computador. Passo mais tempo ligando para casa e falando com o pediatra do que trabalhando, e os emails atrasados continuarão atrasados mais um dia, porque tenho que sair cedo para buscá-lo. Descubro que a minha camisa está furada.
Chego em casa, dou o banho e o jantar em piloto automático. Claro que justamente hoje o pai chega tarde. Fingindo que sou a mulher maravilha, insisto para a gente ficar juntos e assistir um filminho. Durmo nos créditos da abertura.
Semana que vem eu tento ser incrível de novo.
(Esse post foi escrito quando meu filho era pequeno, com algumas modificações, permanece mais atual do que nunca…)