Histórias de elefantes

 

Um dia contei para o meu filho que, quando tinha a idade dele, meu sonho era ser, quando crescesse, adestradora de elefantes em um circo. Ele olhou para mim e perguntou espantado, claramente sem entender: “Ué, mãe, mas você já é adulta, por que não é adestradora de elefantes então?”

Fiquei muda, não sabia o que responder. Aquela pergunta me acertou em cheio, pois era bem parecida com a que eu me fazia a cada manhã quando olhava no espelho: por que ficaram pelo caminho tantos projetos, sonhos e desejos?

Meu filho tinha acabado de me contar que queria ser bombeiro e jogador de futebol. E mais: ele tinha tanta certeza que a vida seria exatamente do jeito que ele desejava… Eu não podia simplesmente responder: “não sou adestradora de elefantes, porque a vida não é exatamente como a gente planeja na sua idade, querido…” Definitivamente não tenho direito de dizer que os sonhos dele são bobagens ou impossíveis de serem alcançados.

Mas como dar esperanças para que ele conquiste o que deseja e doses de realidade suficientes para que entenda que nem sempre as coisas vão sair como ele espera? Como mostrar que o mundo não é cor de rosa, mas pode ser azul, e nem por isso menos bonito. Tem guerra, mortes, briga e poluição. Tem paz, nascimento, amor e natureza. E que às vezes é um tanto melhor quando as coisas não saem do jeito que a gente planeja.

Vamos aos poucos nessa dura tarefa. Cada dia que passa percebo que o meu filho cresce e suporta mais uma dose de realidade em seus ombros: que aquele menino que ele vê todo o dia na rua não tem casa nem comida, que existem países que estão em guerra e que algumas pessoas fazem maldades com as outras. E dia após dia, injeto autoestima para ele ir longe e forro o chão com resignação para que ele aprenda a suportar frustrações durante as quedas.

Enquanto ele me observava com seus olhos verdes grandes e curiosos, esperando uma resposta,  eu só conseguia pensar que talvez ainda haja tempo para subir em um elefante com um collant branco brilhante e uma pena na cabeça. Meu filho não pode tudo, mas pode tantas coisas ( eu também!). Uma delas é me fazer pensar que nós, que somos pais, temos uma mania recorrente em pensar que preparamos os filhos para a vida…

 

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*Crédito da imagem:  Lucas Santana

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2 Comentários

  1. 15 de julho de 2013 at 14:14 — Responder

    Que lindo, Mari! beijo

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