Os seus, os meus e os nossos defeitos

Eu tenho defeitos, um monte. Desculpe pela indiscrição, mas você também. Todo mundo tem. Seu filho, aquela coisinha linda que você ama de paixão, também tem os dele. Mas, convém lembrar, que ele tem os defeitos dele, não os seus. Vocês dois podem ter traços parecidos, alguns comportamentos familiares, mas isso não significa que ele herdou o que existe de pior em você ou nasceu para superar todas as suas frustrações.

É engraçada a trajetória dos nossos defeitos ao longo da vida. Quando a gente é criança, não identificamos com clareza quais são e nem estamos muito preocupados com isso. Na adolescência, só sabemos falar deles – e uma espinha na ponta do nariz ganha proporções gigantescas. Nos relacionamentos amorosos, viramos experts em descobrir e apontar os defeitos do outro. A idade pode trazer alguns inconvenientes, mas ainda bem que ela traz também a maturidade, que torna mais fácil identificá-los e aceitá-los.

Se já é tão difícil lidar com nossos próprios defeitos ao longo da vida, imagina com a chegada da maternidade. É muita expectativa. São tantos desejos e anseios pesando ainda na barriga… Logo depois do nascimento, na ânsia de conhecer melhor aquela criaturinha, começamos a rotular nossos filhos de acordo com nossas experiências, antes mesmo de eles se expressarem. Mas será que é realmente possível afirmar que um bebê de 1 mês puxou ao pai e não gosta de dormir ou é dengoso que nem a mãe?

Algumas mães insistem em aprisionar as crianças em sentenças definitivas como: “não adianta, ela é mal humorada como eu”, apontando para uma coisica de dois meses, ou “é teimoso que nem o pai”, acusando, mesmo sem ter a intenção, um bebê de menos de 1 ano. Imagina isso na cabecinha de uma criança… Difícil não se convencer, depois de ouvir a mesma coisa durante anos, que você não é o que os seus pais dizem que você é. Quais as chances de uma criança que cresceu com a etiqueta de bagunceiro colado na testa não virar um adulto desorganizado?

Isso não quer dizer que você não deve reconhecer os defeitos do seu filho e ajudá-lo, nem significa que ele não vai ter nenhum defeito em comum com os pais. O meu filho, por exemplo, é muito indeciso, como eu (sofro para escolher a cor de uma escova de dentes na farmácia). Eu nunca contei isso pra ele e peço, encarecidamente, para vocês guardarem segredo também. Optei por deixar o rótulo de lado e fazer um trabalho de formiguinha: diariamente incentivo que ele faça escolhas com mais segurança. Depois de anos sofrendo com isso, tenho algumas ideias do que pode ajudá-lo a superar a indecisão.

O que eu tento fazer como mãe é deixar que meu filho seja ele, que os defeitos sejam dele também, assim como as suas qualidades. Divido experiências, ensino e aprendo, mas sobretudo tenho um profundo respeito por aquele serzinho que se revela a cada dia. Toda manhã, ao acordar, depois de um beijo estalado na bochecha, tenho vontade de dizer: muito prazer em te conhecer, meu filho. Mas fico quieta. Ele não ia entender nada.

 

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Crédito de imagem:  jetheriot

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3 Comentários

  1. Alice
    28 de junho de 2013 at 8:52 — Responder

    Realmente, Mariana.Nós muitas vezes erramos nesse ponto.Normalmente tento não expor os meu defeitos para a Sophia, também sou muito indecisa mas tento com ela respostas mais decisivas.Outro defeito (mortal) Ciume, eu sou muito ciumenta e tento praticar com ela o total desapego, para que ela tenha os defeitos dela e não os meus;
    Os seus assuntos são otimos, sempre atuais, gosto muito!

    • Mariana
      28 de junho de 2013 at 10:55 — Responder

      Só a gente parar para pensar a respeito já é meio caminho andado, né, Alice? 😉
      Ah, e obrigada pelo elogio!
      Bjs!

  2. 8 de julho de 2013 at 18:01 — Responder

    Lindo e inspirador este texto. Adorei.

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