Mundo Ovo

Mãe e separada: uma nova dinâmica familiar

Separar nunca é fácil. Não importa o quão moderna e cabeça feita você seja. Separar com filhos em qualquer idade é ainda mais difícil. Se você deixou ou foi deixada, se você achou que não dava mais ou se tomou uma rasteira da vida, a verdade é que vem pela frente um período de luto gigantesco. E no meio de toda dor ainda existe um ou mais filhotes que precisam mais do que nunca da mãe. Que é você. Que está sofrendo. E também precisa de colo.

Faz alguns meses que esse post está na nossa pauta, mas eu vinha adiando. É uma dor que eu ainda vivo, é um luto que ainda não acabou. Mas também acho que enquanto o sentimento ainda está “fresco”, ele pode ser mais útil para outras mães que estejam passando pelo mesmo momento. Ou que estão considerando a separação. E isso foi o que aprendi desde que me separei e passei a viver nessa realidade alternativa.

Você tem o poder

Você é forte, autossuficiente, coordena casa, trabalho, filhos, funcionários, supermercado, depilação com cera e academia. Você sabe trocar pneu, paga todas as contas, leva criança em médico, atura a manha do filho que não quer abrir a boca no dentista e está sempre bem vestida. E de salto. E de unha feita. Então jamais se subestime. Mãe e separada: dá pra ser. Você acha que vai morrer de coração partido, mas não vai. Vai dar a volta por cima e achar outra forma de se reinventar e ser feliz. Por você. E pelos seus filhos.

Chore até não poder mais

Apesar de você ser a inspiração do William Moulton Marston quando ele criou a Mulher Maravilha, a verdade é que você está se sentindo a pior das criaturas. Afinal não é fácil ver destruída a família que você criou com tanto cuidado. Então viva o luto. Chore até cansar e depois chore mais. Veja filmes arrasa quarteirão, apele para as frases piegas, ouça música triste nas alturas e cante com elas. Mas faça tudo isso escondida das crianças. Espere todo mundo dormir, despacha o povo pra casa da avó, do pai ou até dos padrinhos. Mas existe a mãe e a mulher. E a mãe é sempre o porto seguro. Ela não pode falhar nesse momento.

Não dá pra pirar

E justamente porque a mãe é O pilar da força é que não dá pra pirar, senão você desestabiliza os seus filhos. Não dá pra voltar a ter 18 anos. Até porque essa é uma condição essencialmente masculina. E eu digo isso sem amargura. Mas é fato que, se foi você quem ficou com os filhos, não pode passar a viver uma vida hardcore de sexo, drogas e rock and roll. Isso não combina com a maternidade. Suas amigas sem filhos, casadas ou não, vão tentar te animar a viver experiências antropológicas, e em um primeiro momento isso até pode parecer a solução pros seus problemas (e você vai sim se divertir em conhecer um monte de gente nova). Mas, de verdade? Você já viveu as maluquices há uma vida atrás e voltar pra ela, com filhos em casa, vai ser muito, MUITO bizarro.

Como conciliar a vida antiga com a vida nova?

Essa foi uma das piores sensações para mim. A sensação de que eu fiquei presa com a vida velha – mesma casa, minha filha, mesmos (inúmeros) afazeres – enquanto o ex vivia essa nova vida sem responsabilidades com o passado. Afinal você era o passado. E eu me senti aprisionada e muito ressentida disso. Minha vontade era tacar fogo na casa, pegar a minha filha no colo, não olhar pra trás e me mudar pra Nova York. Só que esse desespero passa. E aos poucos fui percebendo que eu tinha era ficado com a parte boa: eu ia criar a minha filha, tinha ficado com a casa e tudo o que existia dentro dela. Os móveis, as fotos e as memórias boas. E olhando ao meu redor, eu não mudaria quase nada. A TV ia continuar no mesmo lugar e eu não ia trocar o colchão. Ao invés de tacar fogo, resolvi imprimir pequenas mudanças, ocupando as gavetas vazias e reorganizando os espaços. Para completar o girl power falta pintar um cômodo de pink. Ainda estamos analisando.

O que fazer pelos seus filhos de A a Z

Ser mãe é fazer alguns sacrifícios. É também analisar cada situação por nove ângulos diferentes e fazer o melhor pelas crianças. Apresentar um manual de comportamento aqui seria no mínimo leviano, pois cada família tem uma dinâmica, mesmo as desfeitas. E cada casal acaba de um jeito. Então, só posso falar da minha experiência e de como as coisas estão rolando aqui em casa.

 Claro que nem tudo foi perfeito. Ela sofreu loucamente no primeiro mês quando chegava em casa e o pai não estava lá esperando por ela, como acontecia todas as noites. Ela sempre preferiu dormir com a gente, mas depois que ele saiu de casa, nunca mais saiu da minha cama e não gosta que ninguém mais durma nela, além de nós duas. Mas, oito meses depois, todo mundo sobreviveu. O desespero é uma lembrança amarga, porém distante, e estamos reconstruindo nossas vidas. E a Vicky é uma criança feliz, esperta, carinhosa, cheia de amigos e com duas famílias apaixonadas por ela. E unidas pra sempre por causa dela. 

E quanto a você? Olha… esse post poderia ser muito maior do que já é. São tantos detalhes, tantas nuances e as pessoas sentem/agem de maneiras distintas… Você não está sozinha. Mesmo quando você estiver urrando em casa de solidão, lembra que o maior clichê do mundo é também o mais verdadeiro: o tempo ameniza tudo, inclusive a dor que é viver o seu luto e dos seus filhos, que parece tão insuportável.

Depois dessa reorganização necessária e principalmente depois de você superar os seus medos é que vem a parte mais leve da coisa: você vai relaxar, conhecer novas pessoas, novos carinhas. Vai se apaixonar por homens inadequados, beijar pela primeira vez de novo, fazer mais sexo bom e amar um sujeito bacana. E você é uma mulher moderna, então vai mais ou menos tirar de letra essa coisa dos meus, dos seus e dos nossos. Pode parecer uma maluquice pensar nisso agora. Mas não tenha medo. Tampa o nariz, fecha os olhos e se joga na vida!

 

Imagem: www.freedigitalphotos.net