Na roça com a criançada (e precisa mais do que isso?)

Sábado bem cedinho eu já estava na calçada da casa da minha tia. Era ela que enfiava as crianças em seu fusca rumo ao sítio, onde passei as mais divertidas aventuras que uma criança pode querer. Lá eu acordava logo que amanhecia, enchia a caneca de Nescau e corria para o curral ver o seu Tião tirar o leite bem quentinho da vaca e ir enchendo as canecas de todas as crianças, que ficavam em fila com as mãozinhas esticadas.

Depois do almoço, os adultos nos obrigavam a subir um morro bem íngreme; me lembro do meu tio dizendo que era para facilitar a digestão, acho que ele aprendeu essas loucuras atléticas quando estudou para ser coronel do exército. Ele, aliás, era o exemplo da boa forma e foi o melhor professor/técnico de futebol que os meninos poderiam ter! A gente corria o dia inteiro, brigava pela posse dos cavalos, apostava corrida e pulava no rio. Ahhhh, o rio… Aquela água beeeem limpinha… E tinha até uma pedra para os mais corajosos. Quando a noite chegava, o quarto das beliches nos esperava cheio de histórias de terror contadas pelos adultos. Depois, só nos restava dormir para viver mais aventuras no dia seguinte.

Bom, deve ser por isso que eu faço questão de levar meus filhos para a fazenda do meu pai. Vamos sempre, e sempre para nós quer dizer quase todos os fins de semana! Quando  vejo a alegria da minha filha de dois anos ao saltar do carro e encontrar a grama e meu filho Joaquim fazendo saltos, que para ele são gigantes, na piscina, penso que não posso nem imaginar querer passar um sábado dentro do apartamento. Também fico muito contente quando alguma amiga minha, habitante de alguma capital do Brasil ou até do mundo, traz suas crias para juntar com as nossas… Eu vejo que realmente é muito bom poder comer arroz doce no tacho que minha mamãe mineira faz com maestria no fogão à lenha, que as noites de estrela são perfeitas, que caçar besouros e criar galos e galinhas podem ajudar meus filhos e seus amigos a serem crianças melhores para esse mundo com tanta loucura e tanto apelo ao consumismo.

Outro dia, meu filho Joaquim esperava a carne do churrasco ficar pronta para almoçar com seu amigo, filho da caseira, que mora e estuda na zona rural. Quando cheguei, esbaforida, com a carne, os dois já haviam terminado a refeição todinha; só vi aquele prato raspadinho que toda mãe ama. Então, perguntei: E a carne, não quiseram esperar? Foi quando escutei a seguinte resposta/lição: “Não precisamos comer carne em toda refeição, mamãe. O Aridelson me ensinou seu prato favorito: Arroz, feijão e banana!”

Talvez eles não queiram mais ir para a fazenda com tamanha frequência no futuro, mas tenho a certeza de que, hoje, estou passando o que para mim foi e ainda é um verdadeiro tesouro em minha vida: uma relação bem próxima com a natureza e com a gigante e sofisticada simplicidade da roça.

 

 

*Todas as fotos são da Meireele Gussen Ribeiro

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6 Comentários

  1. Carol Hanks
    4 de junho de 2013 at 15:01 — Responder

    Amei tudo isso. Deu uma saudade enorme……parabéns!

  2. Patricia
    4 de junho de 2013 at 16:06 — Responder

    Meireele,
    seu texto me trouxe muitas lembranças da minha infância. Cresci passando as férias em Petrópolis, no meio de muitas árvores, riachos e muitos bichos. Criava girino, colhia fruta do pé, ralava os joelhos e voltava feliz para casa e comemorava cada conquista.
    Meu filho ainda não fez 3 anos, mas adoraria que ele tivesse metade das grandes aventuras descritas aqui por você.

    Desejo muitas e muitas felicidades. Se vocês abrirem o sítio para visitação, a gente compra o ingresso e vira sócio 🙂

    Bjs em todos

  3. Meireele
    4 de junho de 2013 at 16:30 — Responder

    Olha que delicia! Ensaiei para desabrochar esse texto e parece que consegui uma boa troca, muitas mensagens felizes por também estarem se lembrando de algo bonito, bem vivido que ficou lá trás! Já dizia minha mãe: ” cada um dá o que tem”! Que possamos sempre dar o nosso melhor aos nossos pequenos cidadãos! Ahhhh! O sítio está super aberto!!!

  4. Karoline
    4 de junho de 2013 at 20:32 — Responder

    Oi Meirinha…..seu texto me confirmou o quanto faço bem em levar os meus filhos Mário de 6, e Matias de 2, lá pro sul de Minas, em Alagoa…..onde Judas perdeu a meia rsrsrsr
    Lá não uso relógio, nos orientamos pelo céu….sapato pra quê?? Doces? À vontade…..Mas o melhor de tudo é mostrar pra eles a beleza da simplicidade que só a fazenda sabe nos trazer!!!
    Adorei seu texto….me deu saudade de tudo da minha infancia…até de coisas que nunca vou conseguir mostrar pra eles…..
    Escreva mais pra gente!!!
    Bj,
    Karoline

  5. Meireele
    7 de junho de 2013 at 10:57 — Responder

    Hey meninas lindas do meu Brasil! Que tal alugarmos um buzão e partirmos para roça???? Eu aceito!!!!! Obrigada!

  6. Paulo Renno
    1 de Março de 2014 at 21:48 — Responder

    Sensacional. Voce deve ser uma mãe maravilhosa. Seus filhos estao tendo a melhor das infancias. Parabens! Paulo Renno (PP, Ork, face, beatiful smile)

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