Papai Noel existe?
Essa é a pergunta que a gente nunca quer ouvir. Ela tem um significado enorme, e o principal deles é que estão deixando de acreditar na fantasia.
Acreditar x não acreditar em Papai Noel foi tema de uma reunião emergencial na escola em que eu estudava lá nos idos de 1981. A confusão se deu porque eu, no alto dos meus oito anos e na segunda série primária, perguntei em alto e bom tom em sala de aula se Papai Noel existia ou não.
A cena até hoje está gravada na minha mente. Lembro que era uma pergunta fora de hora, tipo:
– Turma! Quem sabe quanto é dois mais dois?
– Tia Lia, Papai Noel existe?
Imagino que tia Lia tenha ficado em maus lençóis. Porque depois do susto a turma se dividiu em uma disputa acirrada. Os “inocentes” que ainda acreditavam e os “maduros” que achavam que quem acreditava era otário.
Confesso que não me recordo mais qual foi a resposta dela
Mas acho que foi alguma coisa pela tangente, afinal não era papel dela dar a má notícia. Mas a minha maior lembrança era a angústia que eu estava sentindo em relação ao tema. Ele existia? Não existia? Tinha existido? Qual era a verdade por trás do mito? Eu tinha oito anos, a primeira infância já tinha ficado pra trás.
Depois da discussão acalorada com meus amiguinhos, acabou a minha fantasia; minha mãe me contou que eu chorei muito, foi uma decepção enorme e que por fim ela sacou do coração de mãe uma história muito comprida de que ele já havia existido, que hoje em dia quem fazia esse papel eram os pais e que um dia eu ia ser o Papai Noel dos meus filhos.
Li recentemente um bom artigo do sociólogo Gérald Bronner na revista Mente e Cérebro falando justamente sobre os traumas das crianças em relação aos mitos da infância e como isso poderia repercutir na vida adulta. E pensei num passo a passo para você que tem um filho que quase não acredita mais em Papai Noel e como você pode fazê-lo passar por essa fase de transição sem muito sofrimento.
- Lembre-se primeiramente que acreditar em Papai Noel, princesas, fadas e no Batman faz parte desse mundo de fantasia que parece bobo para nós adultos, mas é através desse mundo mágico que eles conseguem entender várias questões existenciais.
- Essa desconfiança acontece cada vez mais cedo. Famílias que se preocupam em perpetuar esses mitos por mais tempo, garantem uma infância mais prolongada.
- Mas a verdade é que quando eles começam a questionar a existência do Papai Noel é porque já raciocinaram que algumas peças não encaixam e começam a procurar por furos na história. Eu acho que esse é o momento da conversa. Como você pretende falar eu não sei, mas deixo você usar a história da minha mãe tranquilamente (risos).
- Quando minhas sobrinhas, hoje com 10 anos, decidiram não acreditar mais em Papai Noel (e como elas eram as únicas crianças na família a gente fez questão de estender a história por muiiitooo tempo), pedimos que elas continuassem na brincadeira, não só porque era divertidíssimo, mas porque era a vez da Victoria de acreditar em tudo aquilo. E hoje nós ficamos orgulhosos que elas fazem exatamente a mesma farra e proporcionam para a pequena Vicky momentos de felicidade, ansiedade e, por que não, uma pontinha de medo desse velhinho desconhecido.
- Se não houver outras crianças por perto, incentive o pequenino a curtir tudo sobre a celebração. E assim, a fantasia estará sempre presente. Aqui, entre meu irmão crescer e as sobrinhas nascerem, tivemos um vácuo de crianças de mais de uma década. Mas como amamos o Natal, sempre curtimos muito toda a fantasia, com ou sem Papai Noel.
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