Outro dia fui na Saara, o maior comércio popular do Rio de Janeiro, fazer uma matéria sobre inadimplência. Perguntei às pessoas se elas estavam tendo dificuldades de fechar as contas no final do mês. A maioria disse que sim, que sempre entrava no cheque especial, que já se enrolou com dívidas, que o salário não é suficiente para pagar as contas. Ou seja, se esse é o seu caso, saiba que não está sozinho!
Muita gente aproveitou, nos últimos anos, a queda dos juros e o aumento da oferta de crédito para fazer dívidas. No ano passado, com a renda já bastante comprometida, as pessoas começaram a parar de contrair mais dívidas. Os bancos também ficaram mais seletivos na hora de liberar dinheiro. O que aconteceu? De meados de 2012 para cá, a inadimplência começou a diminuir. Mas uma pedra no caminho pode dificultar a trajetória de queda da inadimplência: a inflação.
Os preços estão subindo acima da meta do governo. Cada vez que a gente vai às compras percebe que o dinheiro já não dá mais para pagar as mesmas coisas. O IBGE mostrou que as vendas dos supermercados caíram porque as pessoas estão gastando mais com os alimentos e deixando de comprar outros itens. O tomate virou vilão. Mas o tomate é só um exemplo de muitas altas. Também subiram muito a batata, a cenoura, o alho, a cebola… Isso aconteceu porque as lavouras foram afetadas por problemas climáticos. Mas isso é um fenômeno passageiro. Com a melhora do clima, os alimentos já estão começando a subir menos e alguns já estão em queda.
O problema é que não são apenas os alimentos que estão pressionando o nosso bolso. Os serviços estão subindo ainda mais. Faz três anos que a inflação dos serviços sobe acima do teto da meta. A meta é 4,5%, mas pode chegar até 6,5%, exatamente para acomodar coisas inesperadas, como o problema com a safra. Mas a alta dos serviços não é passageira. Parece que veio para ficar. Serviços são salão de beleza, mecânico, pintor, empregada doméstica, estacionamento, aluguel… Tudo isso está subindo com força. E por que? Porque a renda e o emprego estão em alta. Se tem gente para pagar, os preços sobem.
Mas chegamos num ponto em que as pessoas já não estão dando conta da inflação. Os sinais de alta do endividamento estão reaparecendo. A Serasa divulgou esta semana o maior aumento no número de cheques sem fundos em quase três anos. O economista da Serasa, Carlos Henrique de Almeida, me disse que a inflação está piorando a situação financeira das pessoas, mas que inadimplência deve continuar caindo, embora em ritmo mais lento.
Os juros básicos da economia começaram a subir na semana passada, justamente para desencorajar o consumo e frear a alta dos preços. O economista Armando Castelar me disse que a alta dos juros podem ajudar a reduzir a inadimplência, porque as pessoas vão pensar duas vezes antes de pegar dinheiro a taxas mais caras. Agora, quem usa normalmente linhas de crédito com taxas pós-fixadas, como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial, vai pagar mais juros. E isso pode virar uma bola de neve. Principalmente para as famílias de baixa renda, que são hoje as mais endividadas.
Estar com as contas em ordem não é tarefa fácil. Agora, com a inflação mais alta, o desafio se tornou ainda maior. Muita gente me disse no Saara que está se adaptando aos novos tempos, andando mais de ônibus, indo menos ao salão… Pense onde é possível economizar. Mas não abra mão do que é fundamental para você! Afinal, a gente merece! Sempre!
Imagem: Global Post