Acontece nas melhores famílias, uma hora os casais se desentendem. Por mais que se tente evitar, vai chegar um dia, em uma semana estressante, que você vai estar sem paciência, ele também, um vai dar uma indireta, outro uma resposta atravessada, ninguém vai fazer questão de apaziguar nada e, sem que vocês se deem conta, o climão estará instalado em casa, espalhado em todos os cômodos, como os brinquedos bagunçados do seu filho.
Mesmo que a briga não aconteça na frente das crianças, o que deve ser evitado ao máximo, os filhos vão perceber que alguma coisa aconteceu, que o carinhos e as palavras não são mais tão frequentes quanto antes, tampouco a paciência.
E você se vê perdida, com um monte de compromisso pra dar conta, um filho que começa a ficar choroso sem motivo e um nó no relacionamento para desatar. E como dar tempo ao tempo se nem o primeiro tempo você tem?
Enquanto os dias se arrastam lentamente, você vai ter que aprender a lidar com a ansiedade, a angústia, a raiva, o medo e o amor entalado. As palavras somem, você fica mais quieta e cola na boca fechada um sorriso falso para garantir para seu filho que tudo vai ficar bem.
Vai ficar tudo bem, você acredita de verdade, mas até lá, em algum momento, irritada, você vai brigar com a criança sem motivo, para se arrepender no instante seguinte, se desculpando e desabafando o que você não contou nem para sua melhor amiga: “Mamãe, está triste, muito chateada. Acontece, mas vai passar.”
E isso vai tirar um peso do seu peito, que continuará dolorido, mas menos apertado, porque ser sincera faz bem. Você ensinou tantas vezes que não pode mentir e mesmo assim se esqueceu disso, como é possível? Um adulto com medo de contar a verdade para uma criança. E seu filho te dá um beijo no rosto, como se tivesse um machucadinho ali, e repete sua frase: “vai passar”. Você constata feliz que é mais fácil para ele lidar com uma informação concreta do que com suposições, e o vento zune na janela como um suspiro de alívio.
O tempo passa, a casa dorme e vocês dois, marido e mulher, podem conversar novamente no quarto. E atrás das portas fechadas, entre lágrimas e gemidos, a harmonia se impõe. E a cada dia que passa, a rotina martela mais um prego na briga, que vai ficando presa espremida na caixa das lembranças ruins que a gente guarda no armário de cima.
Você promete para si mesma que não vai mais passar por isso, mas sabe que outros desentendimentos ainda vêm pela frente, porque a vida é para os fortes. Desde que as mãos continuem dadas e os pés apontando para a mesma direção, tudo vai ficar bem. Você prometeu para seu filho, e ele não aceita mentiras.
Crédito da imagem: Leslie Duss