Em agosto, um mês antes do meu aniversário, minha mãe pegava o telefone e começava a discar. Buffet? Animação? Nada disso, ela ligava para minha tia mesmo. As duas eram responsáveis pela idealização e decoração de todas as minhas festas infantis.
Os docinhos ficavam por conta de minha avó, uma doceira de mão cheia. Além da preparação das festas, todos os anos, nós, os netos, ganhávamos de presente uma caixa linda com o nosso doce predileto. Os meus eram “suspiros errados” (gostava quando ficavam meio puxa dentro. Minha avó era tão incrível que dominava até a técnica do erro favorito de cada um).
Claro que mesmo sendo hábil na cozinha, enrolar os docinhos da festa era uma tarefa que envolvia todo mundo na casa. Lembro de ver até visita sentada à mesa da cozinha com as mãos engorduradas de manteiga (para que a massa não grudasse), enrolando brigadeiros. Nós, as crianças, adorávamos ajudar e cabia a nós passar as bolinhas prontas no prato com granulado. Um ia para caixa e outro para a nossa barriga. “Assim não vai sobrar nada pra festa!”, ralhavam os adultos.
No meu aniversário de 3 anos, minha mãe e minha tia foram longe e transformaram o play do meu prédio em um zoológico. Fizeram mais de 10 bichos enormes para decorar as paredes. Lembro até hoje como elas ampliavam as figuras: escolhiam uma imagem em um livro ou revista, quadriculavam como se fosse uma grade, colocando letras nas colunas e números nas linhas, e depois faziam o mesmo no papel maior, para em seguida transpor os traços do desenho, quadradinho por quadradinho. Achava aquilo incrível, mas nunca fui capaz de ajudar.
Além dos bichos, em uma parede havia um balanço embaixo de uma árvore com as lembrancinhas da festa. Em outra parede, elas colocaram um papel pardo enorme com vários pequenos lápis de cera presos para as crianças desenharem.
O que eu achava e ainda acho incrível até hoje é que as atividades das festas não eram direcionadas. Pelo menos as minhas comemorações nunca contaram com a presença de um animador – no máximo um rápido teatrinho de fantoches ou uma breve sessão de cinema (que significava uma TV e um videocassete passando desenho animado). As crianças inventavam suas próprias brincadeiras e se divertiam como bem entendessem, geralmente capitaneadas pelos primos mais velhos. Era um tempo livre precioso para crianças de todas as idades brincarem juntas, momento tão raro nos dias de hoje.
Não lembro com muitos detalhes das minhas festas de criança, mas lembro perfeitamente da preparação de cada uma delas: da cozinha da casa da minha avó a todo o vapor, dos primos roubando docinhos antes da festa, de raspar a massa de bolo com os dedos e das risadas. Para mim, ali sempre esteve a verdadeira comemoração.