Sobre caridade e desprendimento

Há algumas semanas atrás minha filha foi convidada para uma festa de aniversário, e como o pequeno aniversariante não morava no Brasil, os pais pediram doação de produtos não-perecíveis como leite em pó, fraldas descartáveis e material de higiene para um orfanato. A justificativa era simples: a festa era grande e seria muita bagagem para levar de volta. E mais: como eles moram nos Estados Unidos, o menino já tem de tudo e muito. Não precisa de mais nada, sobretudo com os preços abusivos praticados no Brasil.

Essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. Um casal de amigos, que não eram casados no papel, embora morassem juntos há mais de uma década, resolveram oficializar a união e também fizeram uma festança pra comemorar. Como já tinham casa montada, pediram doações para atender uma comunidade carente onde ambos eram voluntários.

E, nessa semana, recebemos o convite de aniversário de uma amiguinha no qual os pais pedem que as crianças não levem presentes e sim peguem um de seus brinquedos usados (e que não queiram mais) e entreguem para a aniversariante. Os pais justificam dizendo que os brinquedos estão muito caros, as crianças enjoam rápido e eles são descartados ainda novos. Então eles acharam que reciclar presentes seria uma boa ideia. E a filhota ficaria igualmente feliz em ter brinquedos diferentes.

No nosso mundo de excessos e consumismo exacerbado, fiquei feliz de perceber atitudes altruístas em amigos tão queridos. É fato que, ao mesmo tempo em que existe uma parcela enorme da população que gasta e consome tanto sem nem perceber, existe outro grupo de pessoas que assiste chocado a essa ansiedade generalizada e está tomando horror a palavra consumo, de forma até bem extrema. Já falamos um pouco sobre isso aqui.

E, com o aniversário da Victoria chegando, chega também a hora da limpa nos armários de roupa e brinquedos. E enquanto eu separo aquilo que vai para as instituições que ajudamos regularmente, penso que vou separar uns três ou quatro brinquedos que não queremos mais e promover um troca-troca entre os amiguinhos da creche. É uma forma de aprender com meus amigos. E também ensinar um pouco sobre desprendimento entre os pequenos.

 

Imagem: http://www.freedigitalphotos.net

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3 Comentários

  1. Marisol França
    26 de junho de 2013 at 17:23 — Responder

    Camila, aqui em Estocolmo é muito comum fazer trocas de brinquedos ou as crianças armarem uma barraquinha em frente de casa e vender as coisinhas delas. Hoje mesmo fui com minha filha num festival de teatro que tinha uma barraca de trocas de brinquedos. Ela deixou uma boneca de pano e um bicho de pelúcia, saiu de lá super feliz com um livro e um conjuntinho de ferramentas. Muito legal o seu artigo.

    • Camila
      26 de junho de 2013 at 17:48 — Responder

      Marisol, em primeiro lugar obrigada por ler a gente de tão longe 🙂 Aqui no Brasil tem muitas feiras troca-troca de brinquedos também. Aqui no Mundo Ovo a gente já promoveu uma feira que foi um super sucesso! O que eu achei legal é que rolou isso ao invés de presentes de aniversário, que são quase uma instituição, né? Minha filha, que está perto de fazer 3 anos, lembra até hoje da sua primeira troca: um urso de pelúcia que ela trocou pelo seu primeiro conjunto de panelinhas. Até hoje ela olha pras panelinhas e fala: “mamãe, esse a gente trocou pelo ursinho, né?”. Uma delícia sem fim. Um beijo

  2. FABIO PEDRA DE VASCONCELOS
    29 de junho de 2013 at 11:48 — Responder

    UMA LIÇÃO DE VIDA ABRAÇOS FABIO PEDRA

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