Lembro até hoje do dia em que o berço chegou e o quarto do meu filho ficou pronto. Estava começando a escurecer quando os montadores foram embora deixando para trás alguns sacos plásticos vazios. Quando terminei de limpar tudo, sentei aliviada na poltrona branca de amamentação, em silêncio, deixando a escuridão invadir lentamente a janela, certa que tinha construído o lugar mais seguro do mundo para o meu filho.
Duas semanas depois, lá estava eu com o meu filho nos braços, embrulhado como um pacotinho de presente (e ele era um), na porta da maternidade, quando de repente o mundo virou potencialmente perigoso em segundos. Tive medo de tropeçar com ele na escada, receio da chuva, pavor do vento, fobia de espirro, pânico de fumaça e fiquei muito nervosa ao imaginar o trajeto de 10 minutos até a nossa casa. Quanto perigo… E se um ônibus fechar o nosso carro? E se um motorista distraído bater na minha traseira? E se eu avançar um sinal e causar um acidente? Obviamente, nada aconteceu, mas nunca vou me esquecer do alívio que eu senti ao abrir a porta do quarto e encontrar nosso pequeno oásis de paz. Ufa! Desejei nunca mais sair de casa e achei isso possível por alguns minutos loucos patrocinados pelos hormônios.
Os dias passavam e as demandas da vida continuavam: banhos de sol, passeios na pracinha, vacinas, idas ao pediatra. E tudo era difícil, sair era penoso. Eu queria voltar correndo para aquele quartinho com cheiro calmante de bebê. Até que um dia, meu maior medo como moradora do Rio virou realidade: um assalto próximo à pracinha que meu filho frequentava e um tiro disparado a esmo fez com que todo mundo saísse correndo em pânico com as crianças no colo. Eu tinha acabado de chegar do trabalho para encontrar a babá e meu filho, e só tive tempo de correr junto com todo mundo. Os porteiros abriram os portões dos prédios próximos para que nos abrigássemos. Ninguém se machucou, foi apenas um grande susto, mas que susto.
O mais curioso foi que esse episódio fez com que eu relaxasse ao invés de me deixar mais preocupada. Percebi que mesmo comigo ao lado, não tenho o poder de parar o mundo, nem de proteger meu filho de tudo. Ser superprotetora não é um superpoder, é medo em excesso e não posso criar um filho com medo da vida. Meu filho é forte e eu também.
*Crédito da imagem: 1upLego