Carta para uma amiga sem filho

(Tive filho antes da maioria das minhas amigas. Durante um período foi difícil conciliar as minhas novas atribuições como mãe e minha vida social. Essa é a carta que eu gostaria de ter escrito para minhas amigas na época explicando como estava me sentindo. Espero que sirva para ajudar alguém que está passando pela mesma situação hoje.)

 

Querida amiga,

Sim, nós continuamos amigas. Sim, eu ainda gosto e me importo com você. Acontece que a vida mudou um pouquinho desde a chegada do meu filho. Eu sei que você está achando tudo uma grande frescura. Sei que o filho do Beto frequenta bares desde dois meses. Que o filho da Carina ficou dormindo no carrinho na última festa que teve na sua casa até 2 da manhã. Que o filho da sua prima fica quieto desenhando na mesa enquanto vocês almoçam por duas horas. E que o filho do Leandro é ótimo porque não chora.

Meu filho chora. Ele é ótimo, mas chora. Na verdade, toda a criança chora. Até o filho do Leandro. Chorar é a primeira forma de comunicação dos bebês, a maneira que eles têm para avisar quando alguma coisa está errada e eu fico aliviada por ser assim. Se com choro já é difícil identificar o que eles querem, imagina sem.

Adoraria te ver sim, mas, atualmente, meus horários andam meio malucos. Comemoro quando acordo e ainda não está escuro do lado de fora. Por causa disso, meio dia já estou morrendo de fome e 22h estou bocejando. Adoraria almoçar com você, esse é um programa que eu ainda consigo fazer com certa facilidade, mas você pode ligar no dia anterior pra gente combinar? E dá para ser um pouquinho mais cedo? Eu não posso garantir que ele vai ficar quieto na mesa o tempo todo como o filho da sua prima. Provavelmente eu precise levantar algumas vezes. Mas vamos adorar te encontrar.

Eu sei que você está me achando uma chata, muito exagerada, uma generala do lar, mas é que a rotina é fundamental aqui em casa. Traz segurança para todos nós e a ilusão de que a vida ainda pode ser controlada e menos caótica. Faz diferença quando a gente troca muito os horários. Ele pode até dormir na sua casa durante uma festa, mas imagina ter que transportá-lo no meio da noite? Ele dormindo tão confortável e eu tendo que acordá-lo? E a preocupação de sair de madrugada pelas ruas do Rio de Janeiro com um bebê? E se ele chegar em casa e resolver ficar acordado? De vez em quando vale fazer um sacrifício, claro, mas não quero que essa seja a nossa rotina. Tem que ser bom para todo mundo, principalmente para ele.

Muita gente cria o filho de outra maneira, eu sei. Mas esse é o jeito que escolhi criar meu filho por enquanto. Pode ser que mês que vem tudo mude. Que eu convença a avó dele a ficar aqui em casa algumas noites e tenha vontade de sair novamente. Por enquanto eu não tenho tanta. Minhas melhores noitadas têm acontecido aqui em casa mesmo. Queria que você tivesse um pouco de paciência e amor. Muita coisa mudou. It’s the end of the world as we know it, mas é um mundo bem mais bonito esse que estou vivendo agora. Você continua nele. And I feel fine.

 

It’s the end of the world as we know it (and I feel fine) é essa música aqui do REM:

 

*Crédito da imagem de destaque do texto Carta para uma amiga sem filho:  AJU_photography

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10 Comentários

  1. 28 de Maio de 2014 at 9:27 — Responder

    Adorei. Acho que eu mesma poderia ter escrito! rs Almoço nem tento mais, agora estou tentando somente tomar um café e nem isso consigo. E vamo que vamo! bjks

    • Mariana
      29 de Maio de 2014 at 14:44 — Responder

      Já, já você consegue, Adriana! Beijos

  2. 28 de Maio de 2014 at 13:39 — Responder

    Gente, AMEI este texto!
    Perdi algumas amigas que não entenderam meu momento, ainda mais sendo mãe de primeira viagem, mas enfim, acho que quem foi, foi pq simplesmente não entendeu meu momento, minha alegria e não quis participar dele também, né?
    Beijos

    • Mariana
      29 de Maio de 2014 at 14:49 — Responder

      É um momento de ajustes para todo mundo mesmo, Paola. Algumas amigas minhas se aproximaram, outras se afastaram por um período e reapareceram depois… Tomara que você consiga conversar com elas sobre isso em algum momento e, quem sabe assim, um dia se reaproximem? Beijos

  3. PATRICIA
    28 de Maio de 2014 at 14:52 — Responder

    Muito bacana!!! Como gostaria de enviar essa carta para muitas pessoas…rsrs

    • Mariana
      29 de Maio de 2014 at 14:50 — Responder

      Eu também não enviei na época, Patricia, mas foi engraçado que minhas amigas que leram agora me ligaram. Algumas pediram desculpa e outras disseram: “tá perdoada!”. Hahaha

  4. Simone
    28 de Maio de 2014 at 23:56 — Responder

    Perfeito , vc conseguiu resumir em palavras um turbilhão de emoções e mudanças que acontecem com a chegada de um filho , e que muitas vezes é até difícil explicar … Amei o texto , muito bom!!! Bjs

    • Mariana
      29 de Maio de 2014 at 14:53 — Responder

      Que bom que você gostou, Simone, obrigada. Foi muito importante ter escrito ele e ouvir que outras pessoas se sentiram assim também. Beijo grande

  5. 30 de junho de 2014 at 14:59 — Responder

    Mariana, simplesmente amei, me identifiquei muito, adoraria reproduzir o texto em meu blog com os devidos créditos, tem algum problema? Beijos
    Alessandra

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