A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno, de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária. Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que isso significa.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem seu autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe – solidários – criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem abraçar.
Texto cedido gentilmente ao Dr João Maurício pela Dra. Márcia Neder, psicanalista, Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP.
Crédito de imagem: Todd Baker << technowannabe
5 Comentários
Perfeito, mas difícil hein…. Precisa de muito desapego, mas é isso aí, já dizia a velha máxima: Filho a gente cria pro mundo….
Não sei até que ponto isto está dentro da realidade. Fui uma criança criada “debaixo da asa da mãe” e hoje, casada, mãe e profissional em ascensão , ainda continuo “dependente” da presença da minha mãe.
Enxergo em minha mãe não só um porto seguro, mas também uma grande amiga. Ao longo da vida sempre criamos laços de dependências com alguém seja uma amiga ou o marido, se esse laço for criado com alguém que eu sei que daria a própria vida por mim, para mim é a melhor escolha.
Mais um artigo desse site que nao fala o que se propoe. Sempre me decepciono. O titulo diz “como” ser uma mae desnecessaria. Mas o texto mal fala o que é ser desnecessaria e só. =/
Oi Aline tudo bem? Essa é uma rápida reflexão de uma psicóloga para um pediatra. E ela fala rapidamente que o caminho para nos tornarmos mães desnecessárias é oferecendo recursos para nossos filhos para que sejam independentes. Se você sentiu falta de ler algo mais mastigado e mais longo, com dicas práticas, acho que o caminho seria você acessar nossos inúmeros posts que falam sobre independência. Você pode começar por aqui
http://mundoovo.com.br/2015/o-que-aprender-com-montessori/
http://mundoovo.com.br/2015/crianca-independente-quanto-de-atencao-devemos-dar-aos-nossos-filhos/
http://mundoovo.com.br/2015/montessori-em-casa-como-seu-filho-pode-ajudar-nas-tarefas-domesticas/
http://mundoovo.com.br/2015/como-proporcionar-seguranca-e-autoestima-para-o-seu-filho/
http://mundoovo.com.br/2013/o-caminho-para-a-independencia/
http://mundoovo.com.br/2014/crianca-independente/
http://mundoovo.com.br/2013/pequeninos-e-independentes-3/
Acho que faltou interpretação de texto para algumas pessoas, mas não é todo mundo que consegue ler nas entrelinhas o que fica subentendido…. Parabéns pelo site, amei todos os seus posts!