Em uma visita de rotina ao pediatra, fiz a queixa de que o pequeno não estava aceitando frutas de jeito nenhum. Apesar de uma boa alimentação, o pediatra prescreveu um complexo vitamínico para que não houvesse qualquer prejuízo a saúde e crescimento do meu pequeno. Passei na farmácia, comprei o produto indicado e já ofereci a primeira dose naquele mesmo dia. No meio da noite, o Adam acordou várias vezes querendo o “mamá”. Um pesadelo! Mais duas noites se seguiram e o pesadelo dessa fome louca acontecia mesmo ele tendo se alimentado bem durante todo o dia.
A prescrição de vitaminas para o meu filho não foi com o propósito de “abrir” ou estimular o apetite dele, apesar de ser uma recomendação clássica (dos tempos da minha avó) e eu havia me esquecido por completo de que os Biotônicos da vida ainda existiam. Como nutricionista, não posso me esquecer de que (ainda) não há qualquer estudo que justifique o ocorrido. Alguns poucos centros de saúde mundo afora tentam buscar uma ligação entre uso suplementar de vitaminas e aumento de apetite. Na verdade, a falta de apetite é um sintoma de carência de vitaminas, principalmente as do complexo B (B12), o que torna ainda mais enlouquecedor o fato de que meu filho virou uma draga alimentar. A pergunta que fica é: quem nasceu primeiro, a fome ou a suplementação?
Pela lógica:
A abordagem para perda de apetite é bem mais ampla do que a tentativa de usar algum Biotônico. Uma análise do comportamento alimentar do pequeno deve ser feita na busca de identificar onde está o “erro”. O quanto ele come, em qual horário e o que come são algumas das perguntas que precisam ser respondidas.
Não existe nenhum mecanismo fisiológico (reações do nosso organismo) que justifique esse efeito do aumento do apetite.
É normal que em alguma fase do seu crescimento e desenvolvimento, a criança apresente perda de apetite. Seja porque direcionam sua atenção para outras situações do dia, ou porque a fase dos grandes estirões já não é tão forte que justifique uma maior necessidade de consumir alimentos em maior quantidade e/ou frequência.
A diminuição do apetite que não vem acompanhada de déficit de crescimento ou alterações na saúde deve ser interpretada com normalidade. Talvez o metabolismo da criança em questão não precise de tanto alimento assim para se manter, ela achou um ritmo e segue feliz e saudável. Umas crianças naturalmente comerão mais e outras menos.
Não se deve forçar a ingestão alimentar. Mas é bom ter atenção, crianças que não têm fome de comida também não terão fome de guloseimas.
Buscando respostas para o “efeito draga” vi que um dos poucos estudos realizados, um único estudo (de 1938), concluiu que a ingestão de uma alimentação rica em vitaminas do complexo B ajuda a regular o apetite, desse jeito não há umas oscilação entre períodos de fome e outros de inapetência. Aprofundando a pesquisa, achei uma declaração do Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria (de 1958 – tirando a teias de aranha do caminho) que concluiu não haver dados suficientes para atestar que o uso das vitaminas B12 e B1 pudessem ser consideradas com estimulantes de apetite em crianças.
Diante de tudo isso, a mãe e a nutricionista que dividem espaço aqui no meu cérebro continuam intrigadas e cada uma tenta defender um ponto. Quem ganhou a batalha? A mãe. Nada de complemento vitamínico por aqui, inseri mais frutas e alguns vegetais na vitamina e assim estamos seguindo, com saúde.
Crédito de imagem: Josephers