Você não precisa criar o seu filho sozinha

It takes a village to raise a child (ou “é preciso uma aldeia para criar uma criança”, em tradução livre) é uma expressão largamente usada nos sistemas educacionais e comissões governamentais brasileiras, e significa que para educar uma criança é preciso união entre escola, família e a sociedade. Sua origem é atribuída a um provérbio africano (ou vários) que ensina a verdade eterna: nenhum homem, mulher ou família é uma ilha.

Na maternidade, seu significado é óbvio: uma criança é resultado não somente da influência e do cuidado dos pais, mas também da escola e das pessoas que a cercam. E essa é uma reflexão que eu faço diariamente nos meus cuidados com a Victoria.

Essa semana li um post maravilhoso da Carolina Pombo e da Grace Barbosa do blog Mãezíssima. Elas falam dos conceitos de maternagem que são lindos na teoria, mas opressores na vida real. E elas usaram uma expressão que considerei definitiva: modelos sacrificiais de maternidade. Entendi tanto depois que li isso!

Penso na mãe que leu que para criar bem seu bebê ela precisa carregá-lo no corpo, dormir com ele na mesma cama, amamentar em livre demanda. Tudo isso sozinha, porque seu companheiro trabalha todos os dias, já que licença-paternidade de cinco dias é uma piada de mau-gosto. E como tudo isso é mais bacana se for prolongado, ela parou de trabalhar por pelo menos dois anos, afinal a creche tem fila de espera, é cara demais e a qualidade é duvidosa.

Tô me desviando do assunto? Pode parecer, mas não tô não. Essa mãe acaba isolada. Na ânsia de fazer o melhor pro bebê, esqueceu-se de uma coisa vital: o próprio bem-estar. E cara leitora: se uma mãe não está bem, o bebê também não está.

E é aqui que eu volto para a frase it takes a village to raise a child. É muito penoso ser a única pessoa responsável por criar uma criança ajustada e feliz. Eu amo ser mãe e apoio a maior parte dos conceitos da maternidade consciente, mas não acho que seja possível fazer tudo sozinha. É preciso uma comunidade com pensamentos similares e afinidades. Seja a creche/escola, seja um grupo de apoio da sua cidade, quiçá do seu bairro e que pode ser limitado às funções educacionais, mas não somente.

Nos Estados Unidos é comum grupos de mães – amigas ou não – que se ajudam no dia-a-dia: oferecem a casa para que as crianças brinquem juntas, organizam caronas, fazem revezamento de babysitting e, para os que ainda não frequentam a escola, contratam profissionais especializados em psicomotricidade ou estímulo aos pequeninos por algumas horas ao dia. Elas já entenderam que sozinha não se chega a lugar algum e que um grupo unido e coeso é mais forte.

Na França é mais comum o conceito de “creche parental”, onde ele é completamente administrado pelos pais e profissionais especializados contratados e abriga cerca de 20 crianças, com o objetivo de ser um espaço acolhedor e ao mesmo tempo uma alternativa às creches tradicionais. Você lê mais aqui (artigo em francês).

Já existe no Brasil cooperativas de mães e grupos de cuidados coletivos. O movimento é muito interessante e traz esse senso de acolhimento que mães de crianças pequenas, sobretudo bebês, mais sentem falta. O Portal Aprendiz foi um bom ponto de partida para eu entender mais sobre o que está sendo construído. E ainda, Grace Barbosa, Bruno Pizzi e Camila Fernandes ensinam como formar uma cooperativa de mães ou creche parental. Se você procura apoio para montar o próprio grupo ou gostaria de saber como se encaixar em algum grupo, junte-se aqui.

 

Imagem: emerylj

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2 Comentários

  1. 26 de Maio de 2014 at 21:07 — Responder

    Adorei esse post, Camila. Excelente abordagem. É tão necessária uma rede de apoio, “a village” para apoiar essa mãe e participar do desenvolvimento da criança… Adorei!! Beijos

  2. Isabela
    27 de Maio de 2014 at 8:22 — Responder

    Eee, agora sim Ca!
    Excelente tema…e ótimo ponto de vista.

    Beijos

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