Quando participei do programa Encontro com Fátima Bernardes em janeiro, conheci a filósofa Tania Zagury. E no meio de um bate-papo bem interessante, ela falou: “antigamente os pais queriam que seus filhos fossem boas pessoas, honestas e trabalhadoras. Essa nova geração de pais e mães quer apenas que os filhos sejam felizes”. Na hora eu concordei, mas no fundo eu ainda não tinha entendido direito. Fiquei pensando: mas qual o problema de querer que o filho seja feliz?
Passei alguns dias matutando sobre a observação dela e, depois, lendo mais sobre temas como sonho, felicidade, limites e amor, deu aquele estalo e finalmente consegui entender (eu acho) sobre o que ela falava.
Os pais que focam somente em satisfazer as vontades dos filhos para que estes sejam felizes têm dificuldades em estabelecer limites. Se a criança faz birra pra comer legumes e você acaba deixando que ele coma só o arroz com feijão, você está prejudicando a saúde dele em prol dessa suposta felicidade. Estudar às vezes não é tão divertido como brincar, arrumar o armário é mais chato do que assistir televisão, mas tudo isso tem um valor na formação do indivíduo. Se tudo o que for chato ou trabalhoso ou vai requerer esforço e empenho dos pais é deixado em segundo plano para priorizar sempre a felicidade, mesmo que momentânea dos filhos, aí pode haver um problema. E estabelecer limites na infância é daquelas coisas que seu filho só vai te agradecer décadas depois.
Além de estabelecer as regras do jogo felicidade x limite, nossa geração também tem um problema crônico e ele se chama culpa. Com a vida enrolada de trabalho, além de outros afazeres e interesses na vida pessoal, às vezes falta tempo pra educar. E sem tempo para os filhos, os pais se sentem culpados, pois gostariam de fazer mais. E nos raros momentos em que ficam juntos, tendem a relaxar com a desculpa de que o tempo que passam juntos precisa ser feliz.
Mas o que limite e culpa tem a ver com querer que o filho seja feliz? No fundo, tudo. Vivemos num mundo imediatista onde todo mundo quer qualquer coisa em segundos. E ser feliz está incluído neste pacote. Você quer ser feliz e quer que seu filho seja feliz hoje e agora. Mas essa felicidade não é construída em cima de valores, mas em cima de satisfação imediata. O consumismo exagerado e a obesidade podem ser frutos dessa satisfação imediata, de querer que seu filho seja feliz naquele exato e efêmero momento.
O problema das coisas efêmeras é que elas não duram pra sempre e você segue querendo mais. E crianças insatisfeitas porque não estão vivendo momentos felizes a cada três minutos viram adultos impacientes, sempre correndo atrás do próprio rabo, pois a felicidade é uma droga poderosa. Você quer sempre e nas mais altas doses. Só que a gente sabe que viver não é assim, né?
Mas e aí? Eu não quero que a minha filha seja feliz? É claro que eu quero. Quero isso e muito mais. Quero que ela cresça cercada por uma mãe e um pai que a amam acima de tudo. Que ela tenha tios, primos e avós próximos para que ela tenha noção de família.
Quero que ela seja feliz na escola, que faça bons amigos, que goste de estudar. Quero que ela siga curiosa, interessada e inteligente. Quero que ela se alimente bem e goste de coisas saudáveis, preze o tempo que passamos juntas, entenda que a mãe dela nasceu com vocação para ser empreendedora e por isso trabalha muito. Quero que ela escolha uma profissão que goste e que se sinta plena com as próprias escolhas. Isso pra mim é ser feliz. Mas quero também que ela esteja preparada para os obstáculos que a vida vai colocar no caminho dela. E uma educação pé no chão e cheia de bom senso é que vai dar essa segurança para torná-la uma vencedora.
Imagem: Tanozzo