Para quem já teve o prazer de assistir ao novo filme da Disney “Frozen”, fica evidente o quanto a história da princesa, que é amaldiçoada por uma bruxa e salva por um príncipe, está diferente. A princesa Elsa tem um dom de congelar e brincar com a neve. Esse dom está diretamente ligado a seu estado emocional. Quanto maior a raiva e o medo, maior o descontrole. A incapacidade de se conter faz com que ela se isole cada vez mais até que qualquer contato com outra pessoa se torna um gatilho. Sua irmã mais nova, Ana, foi a primeira a sofrer com os deslizes dos poderes mágicos de Elsa e também se vê banida do contato fraterno para ficar “protegida”. É claro que essa suposta proteção faz com que ambas sintam-se solitárias.
Seus pais lhe ensinam que o melhor a fazer é encobrir, não sentir, não deixar ninguém saber. Essas três coisas seriam fundamentais para ser sempre uma menina boazinha. Ano após ano de isolamento não a ajudaram em seu auto controle até que, longe de todos, ela começa a conhecer os próprios limites. No final, entende que só era possível não ser prisioneira de suas emoções, deixando a irmã se aproximar com um gesto de amor verdadeiro.
Para aqueles que ainda não perceberam a similaridade entre o filme e o que é ensinado diariamente às crianças e adolescentes, aproximarei um pouco mais. De uns anos para cá, armas de brinquedo foram banidas das brinquedotecas politicamente corretas. As cantigas tiveram suas letras modificadas para que criança alguma achasse que era aceitável “atirar o pau no gato”, e por aí vai. Qualquer traço de agressividade vinda de uma criança é considerada inaceitável e a transforma em uma “criança feia e má”. As crianças vão aprendendo a tamponar as emoções, ao invés de aprender a entende-las e trabalhá-las. É claro que o convívio em sociedade pressupõe um auto-controle, afinal, não é possível fazer tudo o que ser quer a tempo e hora. Entretanto, fingir que não existem, gera ansiedade, inquietação, depressão, compulsão e vários outros transtornos extremamente atuais.
Em um mundo onde a quantidade não deixa espaço para a qualidade, conversas superficiais ocupam o lugar de relações íntimas. É fácil se perder nas tarefas do dia a dia e se dar conta de que não está sabendo mais o que acontece entre seu filho e os amigos ou mesmo como o seu filho se sente. A única maneira de uma criança aprender a lidar com suas emoções é através dos adultos. Infelizmente muitas crianças estão aprendendo que só é possível viver diminuindo o sofrimento através de medicações: não sentindo. A tentativa é de se colocar cada vez mais distante das próprias fragilidades. Cada um constrói o seu reino de isolamento. Ainda bem que não pegaria bem para a Disney receitar anti-depressivos ou ansiolíticos para suas princesas, senão o “felizes para sempre” de Elsa, princesa de Arendelle, teria sido bem diferente.