Mundo Ovo

Mãe que trabalha x mais tempo com seu filho

Desde que a Victoria nasceu, vivo constantemente me digladiando com o binômio maternidade x carreira. Trabalho muitas horas ao dia, também sinto que não passo horas o suficiente com a minha filha e por fim tenho outros desejos e interesses na vida, além de trabalhar e ser mãe. Ou seja: o dia simplesmente não tem horas o suficiente para eu fazer tudo e bem-feito.

Como eu não nasci com uma conta bancária infinita, eu preciso trabalhar pra viver e sustentar a minha casa. De mais a mais, eu gosto bastante do que faço. Tenho pensamentos obsessivos onde eu seria essa pessoa que ia trabalhar quatro boas e produtivas horas por dia fazendo só uma coisa de cada vez. Mas o fato é que eu adoro entrar em empreitadas, adoro pensar coletivamente, adoro ser editora. Eu sou dessas que fica feliz envolvida em mil projetos.

E eu sou plena na maternidade. Acordo e durmo pensando na minha miudeza. Hoje ela depende menos da minha atenção constante. Já anda livre pela casa, opera sozinha a televisão e seus brinquedos, é independente no banheiro, na hora da refeição, não fica perdendo muito tempo fazendo bobeira (em bons dias) e passou a dormir a noite toda. É verdade o que dizem mães amigas: depois dos três anos a coisa vai mudando de figura. Pelo menos por aqui está sendo assim.

As pessoas estão sempre reclamando que falta tempo, mas vejo menos gente procurando uma solução. Mesmo aqui no Mundo Ovo nos já falamos bastante sobre a falta que o tempo faz na nossa vida. E vejo eu, Mariana e Patricia tentando achar uma forma de conciliar nossa vontade de ver nossos negócios prosperarem, com a vontade de sermos mais e melhores mães e ainda cuidar da própria vida. Parece impossível não é? Desconfio que esse equilíbrio a gente procura até morrer. E se viver é mesmo operar no caos, como fazer para ser uma mãe que trabalha e ainda satisfeita com o seu tempo de maternar?

1. Momentos de qualidade antes do trabalho – Acordávamos sempre tarde e atrasadas, o que era um bocado estressante pra nos duas. Como passamos a dormir melhor, começamos a acordar mais cedo (com despertador e muito snooze). Assim a gente toma banho, toma café e se arruma, mas também dá tempo de brincar e se curtir um bocadinho antes de sairmos porta afora.

2. Aproveitando o trânsito – No carro eu não entro no modo paranóia-do-celular. Nosso trajeto é curto, mas aproveitamos esses 15-20 minutinhos pra bater papo, cantar ou jogar algum jogo. Esse momento no carro também é ótimo para eu perguntar coisas pra ela sobre sentimentos ou algo especifico sobre algum assunto. Ela tende a ficar menos dispersa e fantasiosa quando estamos confinadas no carro.

3. Levar e buscar na escola – Essa é uma tarefa dividida entre eu e o pai dela. Achamos que ela se sente segura dessa maneira. E como é raro que outra pessoa faca essa tarefa no nosso lugar, quando a tia ou a avó entram em cena, normalmente é uma festa.

4. Ficar (realmente) com ela à noite – Chegamos em casa mais ou menos 19h15. Ela capota entre 20h30 e 22h00, dependendo do grau de animação. Ou seja: tempo curtíssimo. Já botamos a fofoca em dia no carro, então quando entramos em casa, ela entra imediatamente no banheiro e tira a roupa, enquanto eu tempero a água do chuveiro. Deixo ela se divertir no banho e fico com um olho no banheiro e outro na cozinha, enquanto preparo a ceia (ela já vem jantada da creche). Sentamos as duas de cara pra TV (sim, tinha que ser na mesa, mas não é) e entre um desenho e outro, a gente continua conversando enquanto come. No pouco tempo que sobra ou continuamos no desenho ou vamos pra minha cama brincar de jogo da memória, lemos livros ou desenhamos. E por fim, mamar e nanar. Só depois que ela dorme é que eu vou pra minha terceira jornada de trabalho. Passei um tempo me aproveitando da independência dela pra dar menos atenção e continuar trabalhando (pra também dormir um pouco mais cedo). Um dia ela chiou: “Mamãe, você precisa parar de trabalhar para brincar um pouco comigo”. Depois dessa clara chantagem emocional, eu voltei a minha atenção exclusivamente pra ela.

5. Planejar o final de semana – Antigamente, sobretudo quando eu ainda era casada e não tinha babá nos finais de semana, esperava acordar pra ver o que ia rolar. Como a gente estava ainda naquela fase que vive exausto (Vicky teve mil problemas com o sono), a gente acabava saindo menos com ela do que deveria. Depois que a babá entrou em cena nossa qualidade de vida melhorou muito. Fabiana conseguiu me ajudar a organizar a rotina de sono da Victoria. E, pra que eu tivesse tempo de dormir mais, ela passou a ir sozinha com a Vicky pra pracinha, programa dos mais amados. E, depois que elas chegavam em casa, era banho, almoço e soneca. E eu fazia parte dos programas da tarde. Mãe descansada é igual a mãe criativa. Passei a convidar os amigos pra brincar em casa, a fazer programas com a turma da creche, dentre outros eventos diversos. Nossa vida ficou mais rica e eu bem mais disposta. E mesmo quando eu preciso virar as madrugadas de sábado trabalhando (tipo agora, por exemplo), ainda assim estou organizada o suficiente para passar um tempo bom e de qualidade com ela na parte da tarde e na maioria das noites.

Pode parecer um pensamento meio bobo e simplista, mas organizar uma rotina mais rígida no meu dia a dia fez com que eu conseguisse ser uma mãe melhor e mais presente. E sim, euzinha da silva, que passei um tempão achando que não ter baba era a solução ideal, mordi a língua quando me vi organizada, descansada e consequentemente feliz com a presença da Fabiana na nossa vida. Foi uma decisão pensada e eu estava muito insegura. Mas não estava sendo possível não ter ninguém. Eu estava infeliz, exausta e meu casamento acabado. Hoje tenho outra vida, sobretudo por causa desse par de mãos extras que tornou mais fácil a vida dessa mãe solteira que vos fala.

Olhe pra dentro da sua casa. Analise o seu lar, reveja seu estilo de vida, veja o que é possível modificar. Mesmo que você trabalhe muito e perca um tempão no deslocamento ou ainda dependa de outras pessoas para levar e pegar na escola, não importa. O tempo que você passa com o seu filho não precisa ser longo, mas precisa necessariamente ser de qualidade. Não é impossível e você vai conseguir. Conte com a gente. E se você tem outras boas ideias, que tal compartilhar com a gente? Vamos vencer a falta de tempo?

 

Imagem: Donnie Ray Jones