A proposta era boa profissionalmente. Mas exigia que eu passasse um mês fora de casa, em outra cidade, longe de filho e marido. Aceitei, mas fiquei com o coração apertado e sem saber direito como conciliar maternidade e carreira. Me senti a pior mãe do mundo e imaginei que a rotina de casa viraria um caos. Os deveres de casa ficariam podres, com aquele preto quando passa a borracha e não apaga direito, os recados na agenda seriam lidos com atraso e ele não levaria algum material ou dinheiro que a professora tivesse pedido… Fora o cascão que ficaria no pescoço e nas dobras dos braços e as unhas de gavião. Ah, e o casaco que ficaria esquecido em cima da mesa!
Dividi as angústias com o meu marido, que me acalmou, dizendo que tudo ia dar certo, que eu estava exagerando como sempre… E ainda disse que fazia muito mais coisas do que eu pela nossa casa e pelo nosso filho! Aí foi ele que exagerou! Como ele pode pensar que faz mais do que eu??? Sem noção! E falei: vai ser bom eu me afastar pra você me dar mais valor. Ele deu de ombros, desdenhando do meu drama (como sempre) e eu fui correndo escrever uma lista de tarefas diárias que o sabichão não podia esquecer. Afinal, ele ia esquecer… Conversei com a empregada e com o filho, pedindo para eles colaborarem com o papai, que ficaria sobrecarregado durante aqueles trinta longos dias… E fui! Com o coração apertado…
Nos primeiros dias, liguei para conferir se a rotina estava sendo cumprida. Perguntei se a empregada tinha feito a lancheira direito, se tinha colocado o casaco na mochila, se o papai tinha lido a agenda… E todos diziam que tudo estava indo bem. O meu marido falou para eu parar de perguntar tudo todos os dias e para confiar nele. Então resolvi dar um crédito a ele. Parei de perguntar e entreguei a Deus!
Comecei a curtir a minha estada em São Paulo. Não precisava me preocupar com casa, filho, marido. Só comigo! Nossa, depois de tanto tempo poder passar um mês cuidando só de mim era um sonho! Um mês!!! Aproveitei para dormir bem, esparramada na cama de casal do hotel, acordar com calma, ler jornal, fazer exercícios, trabalhar sem interrupções, sair com amigos, ler um bom livro… Eu estava trabalhando muito, mas sobrava tempo para mim!
Mas combinei que passaria os finais de semana em casa. E cheguei no primeiro sábado de manhã morrendo de saudades! Gabriel pulou no meu pescoço e me encheu de beijos! O pai estava com uma cara de exausto, com olheiras, visivelmente abatido. Mas disfarçou bem. Veio sorrindo como se estivesse tudo sob controle.
Eles me disseram que tinha dado tudo certo. Mas logo vi uma apostila da escola no meu quarto e pensei: hum, se está largada aqui é porque não fez o dever… Olhei na agenda e… Na mosca! E ainda tinha um recado da professora cobrando um pedido que não tinha sido entregue no prazo. E pensei: não deu tudo certo…
Conversei com eles, que admitiram alguns probleminhas, mas prometeram se esforçar mais nas semanas seguintes. Meu marido falou para eu pegar leve porque a rotina estava pesada. Ué???? Não seria tranquilo??? Mas fiquei com pena e não falei nada. Eu sabia que estava pesado mesmo. Mas agora ele estava sentindo que eu fazia muita falta e eu gostei disso.
O final de semana foi maravilhoso! Eu estava tão feliz de revê-los que aproveitei cada segundo. Até ensinei o meu filho a tirar a rodinha da bicicleta! Sabe aquelas coisas que você vai adiando porque nunca tem tempo? Sobrou tempo para curtir a minha família. Porque durante a semana eu tinha me curtido muito.
Na segunda-feira voltei para São Paulo com o meu coração mais leve. E parece que eles se entenderam melhor na segunda semana. Os dias foram passando e a rotina foi melhorando. Eu estava orgulhosa e feliz por ver que eles tinham se entendido do jeito deles. Vi que as coisas não tinham que ser só do meu jeito para darem certo. Isso me fez um bem danado. Sentia muitas saudades, mas estava curtindo muito a experiência de estar sozinha! Usei todos os meus cremes, ouvi música alta, vi meus programas de TV…
E assim se passou um mês. Gabriel amadureceu. A professora disse que ele estava mais independente. Pensei: tadinho, teve que se virar! Fernando estava exausto… disse que sentia dores no peito! O negócio foi pesado! Estava orgulhosa dos dois e de mim, por ter conseguido aproveitar a experiência. As mudanças foram importantes para todos nós. Fernando tirou uns dias de descanso. Sozinho! Achei que ele não fosse mais voltar! Mas voltou.
Nota Mundo Ovo: esse post faz mais sentido se você ler o outro lado da moeda. Olha só o que o Fernando disse sobre a experiência, aqui.