Outro dia Victoria quis subir na estante para pegar um livro que estava bem no alto. Na mesma hora dei uma bronca bem dada, mais motivada pelo terror do que por aborrecimento. Ela tomou um susto e disse em um tom bem magoado: “Mamãe, se você gritar comigo de novo eu não vou gostar mais de você!”. Quase morri, gente! Sei que ela não estava realmente querendo dizer aquilo, era mais uma forma de ela expressar seu descontentamento com a minha gritaria, coisa que detesta. Mas, naquele momento, passei pra mim mesma o atestado de pior mãe do mundo. E ainda por cima: assinado pela minha filha.
Acho que sou uma boa mãe. Não excelente, mas boa o suficiente. Existem muitas coisas que eu gostaria de mudar em mim e melhorar, mas no geral, considero a Victoria uma menina de sorte. Apesar de me sentir confiante na maior parte do tempo, em alguns dias não tem jeito: acho mesmo que não levo tanto jeito assim pra ser mãe.
Geralmente acabo me descontrolando assim depois de um dia difícil. Pode ser por causa de um problema grande ou acúmulo daqueles probleminhas de todos os dias, como não ter dinheiro sobrando no final do mês, me esquecer de deixar o cheque do encanador, encontrar a geladeira vazia, me sentir exausta e ter que lidar com a filha mal humorada. Nesses dias, tudo o que a gente quer é pedir uma pizza, deitar na cama e ficar zapeando a TV até dormir. Mas como não é possível, você improvisa um jantar rapidinho enquanto a criança faminta está rabiscando o sofá de canetinha, virou o copo de água na sua cama, fez xixi no chão de propósito e está te olhando desafiadoramente para ver se você vai fazer alguma coisa. Aí você briga, ela chora, você termina o jantar de qualquer jeito, alimenta a ferinha, dá banho, briga mais um pouco porque ela virou seu shampoo preferido na boneca enquanto você pegava a toalha, ela chora mais, você dá a chupeta, coloca o pijama, deita com a criança no seu quarto e liga a TV pra ela adormecer vendo desenho. Uma hora depois, a criança finalmente dormiu, só que já são 10h da noite e você continua com a roupa do trabalho, não jantou, não pagou a conta do cartão de crédito e tudo o que você quer fazer é fugir para as colinas. Aí você corre para pagar o cartão antes das 11h da noite, toma um banho demorado enquanto lamenta não ter mais o seu shampoo predileto, coloca o pijama, desiste de jantar, faz uma pipoca no micro-ondas mesmo e deita bem depois da meia noite, porque teve que limpar o xixi no chão, arrumar a bagunça e tentar remover, sem sucesso, a canetinha do seu sofá.
O parágrafo ficou longo, eu sei, mas dias assim parecem intermináveis mesmo… Confessa, você não se identificou nem um pouquinho? Nunca passou por um desses dias que já não começam dando certo e vai escalando numa sucessão de erros até que você se vê chorando sentada no chão enquanto procura a tampa da maldita canetinha?
Agora, mais calma, em um dia bom e sem tempestades à vista, posso te dizer isso: não existe vida perfeita. Mesmo que você tenha mais dinheiro, menos dieta para fazer, mais tempo, mais ajuda, mais tudo, tem horas que você vai duvidar da sua capacidade de ser mãe e seu filho não vai deixar você se esquecer disso. Então espera passar o dia, coma a sua pipoca sem culpa, vai ler um livro para se distrair e amanhã você começa tudo de novo. Não sei na sua casa, mas na minha parece que os sonhos levam pra longe os problemas e o mau-humor. Minha filha acorda com um sorriso, diz “bom dia” bem agarradinha. E enquanto tomamos café da manhã juntas e contamos histórias, ainda a ouço falar com a boca cheia de requeijão: “Mamãe, eu te amo tanto!” e tudo fica fácil de novo.
Nessas horas eu me lembro da minha mãe, com duas filhas pequenas em uma época que não existia máquina de lavar roupa, fralda descartável e ela não tinha nenhuma ajuda externa. Como deve ter sido difícil a tarefa de equilibrar a quantidade de sim e não, fazer todo o serviço da casa e ainda ficar de olho pra gente não se jogar da janela, afinal não existiam redes de segurança na década de 1970. Realmente, ela era e é mesmo a melhor mãe do mundo, aceito satisfeita o segundo lugar.
Hoje, no papel de mãe, eu me pergunto: será que a minha mãe também se sentia assim? Será que eu sou a única a questionar minha capacidade materna e ela se achava a heroína que de fato era? Vocês também passam pelos mesmos momentos e questionam a própria sanidade enquanto aplaudem de pé o quanto a sua própria mãe também deve ter sofrido com seus arroubos de franqueza? Conta pra gente a sua história! E mais: que tal celebrar todo o amor que você sente pela sua mãe compartilhando uma história de amor com ela usando a hashtag #AmoComoVocêAma, marcando sua mãe neste post ou clicando aqui.
Esse post faz parte da ação #AmoComoVocêAma, um movimento de Comfort para mostrar que não importam as falhas e defeitos de nossas mães, a gente ama o jeito que elas nos amam. Também abraçam essa causa as mães Shirley (www.macetesdemae.com), Luiza e Hilan (www.potencialgestante.com.br).