Mundo Ovo

Probióticos na alimentação infantil


Não é de hoje que se fala em alimentos que são mais que alimentos. Chamados de alimentos funcionais, eles garantem, além da nutrição básica, a promoção da saúde – sábia frase: “o alimento será o seu remédio”. Diante de tanto avanço, cada vez mais se fala do uso também de probióticos na alimentação infantil. Tá estranhando o termo? Tenho certeza que se eu colocar as marcas aqui, você já vai saber do que estou falando. São produtos como Yakult, Chamyto, Actívia, Actimel, Lacto B, Culturelle, dentre outros. Minha proposta aqui é mostrar o que existe de concreto, apesar de todos os apelos publicitários.

Os probióticos fazem parte de um dos grupos dos alimentos funcionais, eles são microrganismos vivos que, quando ingeridos em quantidades adequadas (a dose é muito importante), são capazes de trazer benefícios à nossa saúde (Food and Agriculture Organization of United Nations; World Health Organization, 2001; Sanders, 2003). Já existem diversos benefícios descritos em estudo científicos, sendo um dos principais focos, a melhora da resposta do sistema imunológico, resultando em um aumento da nossa resistência contra microorganismos agressores – que, sendo empregados desde a infância teria papel importante em um crescer mais saudável.

Simplificando: Zilhões de bactérias já vivem dentro do nosso sistema gastrointestinal (no dos nossos filhos também), algumas dessas bactérias são consideradas boas, ajudando a gente a se manter saudável. Essas bactérias estão lá desde o nascimento, quando o trato gastrointestinal do bebê passou a “hospedá-las”, e assim temos bactérias boas, outras ruins. As boas estando em maior número e sendo fortes, conseguem aniquilar as ruins.

Se você amamenta ou amamentou, ajudou ainda mais o seu bebê a acumular bactérias boas, porque o colostro é rico em bactérias lácticas e o leite materno contém substâncias conhecidas como prebióticos (fica para um novo post) que promovem o crescimento de uma flora intestinal saudável. Com o desmame e a introdução alimentar, haverá uma mudança normal da flora intestinal, e isso vai acontecer até certo ponto para depois se tornar a mesma para o resto da vida.

Seria bom se nenhum fator pudesse nos atingir a ponto de causar desequilíbrio dessa sistema. Alimentos, medicamentos (antibióticos) e diversos fatores externos podem interferir, e muito, causando principalmente problemas gastrointestinais. Não deve ser novidade para você que quando seu filho fez uso de antibiótico teve diarréia. Cerca de 20 a 30% das crianças que fazem uso de antibiótoco tendem a desenvolver diarreia. (Daniel Merenstein, MD, Universidade de Georgetown Medical Center, em Washington, DC).

 

Em quais situações os probióticos estão sendo utilizados?

A Academia Americana de Pediatra listou algumas situações onde o uso de probióticos se mostrou bem eficiente.

1) Bebês e crianças com diarréia por gastroenterite vital aguda que ingeriram alimentos probióticos – principalmente iogurte – tiveram uma menor duração da diarréia por cerca de um dia.

2) Outros estudos mostraram que os probióticos foram modestamente eficazes na prevenção de diarreia associada a antibióticos em crianças saudáveis ​​quando comparados com um placebo. Mas não chega a ser um valor expressivo que evidencie que os probióticos possam tratar esse tipo de diarreia.

3) As fórmulas para lactentes suplementadas com probióticos não parecem para causar danos em recém-nascidos saudáveis​​.

4) Bebês de mães que receberam suplementação com Lactobacillus GG diariamente nos últimos meses de gravidez e durante o período de lactação tiveram uma redução bem expressiva de casos de dermatite atópica, mesmo após o crescimento de seus filhos (aos dois e quatro anos de idade).

Probióticos são considerados seguros para crianças saudáveis. E embora mais pesquisas sejam necessárias antes que os médicos possam começar a prescrição de probióticos para doenças específicas da infância (como fazem com antibióticos), certamente vale a pena discutir a ideia com o seu pediatra.

 

Como saber quais os probióticos nos alimentos?

Os dois tipos/categorias mais comuns dessas bactérias benéficas que conhecemos são os Lactobacillus (56 espécies) e as Bifidobactérias (29 espécies). Já existe nos mercados uma grande quantidade de variações (que nos chamamos de cepas) de cada um desses grupos de bactérias (Lactobacillus ).

As melhores fontes de probióticos ​​são os alimentos lácteos: como iogurte, kefir e queijos curados como o gouda (não processado). Também é possível encontrá-los em cápsulas ou em pós para ser adicionado a bebida.

 

Dica: Alguns estudos mostram que as culturas vivas no iogurte podem ajudar as crianças com intolerância à lactose.

 

 

Sobre o uso de probióticos:

Seja qual for o benefício que você quer obter com a ingestão dos probióticos, é importante saber que os efeitos cessam assim que você deixa de consumi-los e a flora intestinal volta ao normal.  (Frank R. Greer, MD, Universidade de Wisconsin)

A indicação de consumo de probióticos em crianças se faz quando a microbiota intestinal do lactente está em formação (18 e 24 meses de idade), pois nesta fase a microbiota é menos complexa e aceita influência de fatores nutricionais.  Ainda não foi estabelecida uma recomendação de ingestão para esse público (para adultos – 5 bilhões de unidades formadoras de colônias (UFC)/dia/g ou ml de produto). Muito ainda precisa se estudar para garantir que todos os benefícios atribuídos aos probióticos se consolide e se torne uma recomendação nutricional nos casos de alterações do sistema digestivo, prevenindo diarreia ou aumentando a imunidade geral em crianças.

 

 

Referências:

Saad SMI. Probióticos e prebióticos: o estado da arte. Rev. Bras. Cienc. Farm. 2006;42(1):1-16.

J. Pediatr. (Rio J.) vol.87 no.4 Porto Alegre July/Aug. 2011.

Chen CC, Walker WA. Probiotics and prebiotics: role in clinical disease states. Adv Pediatr. 2005;52:77-113.

JAMA Pediatr. 2013;167(12):1150-1157. doi:10.1001/jamapediatrics.2013.2572.

 

Crédito de imagem: Prapapá