Meu filho é fisicamente muito parecido comigo. Temos o mesmo olho, e acho que por esse traço ser o mais marcante à primeira vista, a maioria das pessoas logo chama a atenção para a nossa semelhança.
Ele também é muito parecido comigo emocionalmente: se por um lado nosso senso de humor torna a vida mais fácil, por outros somos emotivos e sensíveis demais, muito afetados pelo que acontece a nossa volta, o que coloca um peso extra nas costas para enfrentar a vida.
Era esperado geneticamente que tivéssemos traços em comum, claro, mas confesso que nem sempre é simples lidar com uma pessoa tão parecida comigo. Ao contrário do que eu imaginava, isso não torna tudo mais fácil. A verdade é que acabo me projetando e acho que as dificuldades dele são minhas, que aquele sofrimento ali é meu, que aquele defeito é o pior de todos, e constato como vai ser difícil pra ele trilhar alguns caminhos.
Ao mesmo tempo que eu quero ajudá-lo a perder menos tempo com alguns problemas que eu já sei que não levam ninguém a lugar nenhum, bate um fatalismo que diz: “mas nem você ainda aprendeu a superar isso, como você vai poder ajudá-lo?”. E acabo me perguntando, um pouco culpada, por que ele não puxou apenas o meu (bom) gosto musical e minha facilidade para dormir?
E todos os dias está ali ao meu lado aquele pequeno espelho de parque de diversões mostrando uma imagem minha distorcida, mais baixa, mais bonita, mas ainda sim todas elas reflexos meus. E eu me esforço diariamente para deixar ele ser ele e não o que eu gostaria de ser se tivesse a chance de recomeçar. Porque ele não é o meu recomeço. Ele é o início de uma história nova, a história dele.
*Crédito da imagem: cwangdom