Quando Victoria nasceu, eu fiquei feliz de poder contar com a minha mãe e a minha irmã para me ajudarem. Minha mãe, até hoje, é bastante disposta e presente na vida das netas, e minha irmã, apesar de ser quase dois anos mais jovem do que eu, já tinha filhas de 7 anos.
Elas me ajudaram bastante na escolha do enxoval e até hoje me dão dicas valiosas. Mas, na medida em que os anos avançam, vejo minha mãe questionar muitas das práticas da maternidade atual – as que eu pratico e as que ela lê/vê por aí. A gente culpa o conflito entre gerações, mas tenho certeza de que, em alguns momentos, ela acha que eu não bato lá muito bem.
1. Parto domiciliar
Minha mãe ficou grávida de mim na época em que não existia nem ultrassonografia e cesárea era moda. Não só moda, mas status. Sim, era mais moderno fazer cesárea do que parto normal, olha só o absurdo! Ela concorda que as mulheres devem lutar por seus partos normais, mas parto domiciliar não entra na cabeça dela, de jeito nenhum.
2. Fraldas de pano
Quando eu e minha irmã nascemos, com 1 ano e 10 meses de diferença entre nós, não existiam fraldas descartáveis. E máquina de lavar roupa era coisa de gente rica. Então imagina lavar a montoeira de fralda de pano, de dois bumbuns ao mesmo tempo, na mão? Acho que ela ficou meio traumatizada.
Minha mãe é uma grande advogada dos bumbuns sem fralda. As netas, enquanto estavam em casa, viviam peladas ou amarradas com uma simples fraldinha de pano. Mas daí a abandonar totalmente as fraldas descartáveis por fraldas de pano? Não existe discurso ecológico que a convença de que não estamos todas doidas.
3. Bumbum sem pomada
Parte do meu enxoval doado foi composto de pomadas “anti-assaduras” de diversas marcas, nacionais e importadas. Quando eu anunciei que Victoria teria um bumbum sem pomada e seria medicada somente em caso de necessidade aguda, eu achei que ela iria tentar tirar a guarda do bebê, hahahaha. Hoje, passada a fase das fraldas e minha filha tendo sofrido muito pouco de assaduras, vejo ela orgulhosa de que eu me informo e procuro alternativas antes de aplicar medicamentos sem absoluta necessidade.
4. Ajuda holística
Minha mãe sempre conta, para quem quiser ouvir, que a filha dela está a um passo de começar a abraçar árvores por aí (eu abraço, mas ela não sabe disso). Eu me trato com homeopatia, acupuntura, reiki e terapia ayurvédica. Eu acho que astrologia ajuda uma pessoa a se conhecer melhor e eu acho ainda que serve como guia para conhecermos nossos filhos. Ando pesquisando bastante sobre cromoterapia e, aos poucos, eu e Vicky estamos introduzindo meditação nas nossas vidas, além da pequenina adorar Ioga. E minha mãe me olha estupefata, tentando entender aonde eu quero chegar.
5. Blá blá blá
Essa é a maior reclamação da minha mãe em relação a forma que eu crio a Victoria. Ela acha que eu falo muito, explico com detalhes, esmiúço as histórias para que a minha filha entenda o porquê das coisas. Ela diz que criança tem que ouvir “sim” e “não” e que não precisa entender tanto assim. Eu discordo veementemente. O caminho é mais longo, isso eu concordo, mas acho que quero criar uma filha que pense por si própria e consiga questionar aquilo que lhe é apresentado.
6. Sobremesa
Minha mãe tá sempre barganhando com sobremesa. Na minha casa sobremesa é fruta e doces só existem de vez em quando. Eu venho perdendo a batalha contra a obesidade faz algum tempo e não quero que a Victoria desenvolva a mesma relação com a comida que eu. Por isso invisto em orgânicos, em refeições com hora marcada, em muitas frutas e, aos poucos e com leveza, venho diminuindo cada vez mais o consumo de industrializados. Mas nossa família ama doces – chocolates, bolos, sobremesas. Não existe uma refeição no restaurante que não seja seguida de sobremesa. Mas, em casa sobremesa é fruta. Luto MESMO diariamente para que ela não consuma doces em dias de semana e, depois que passei a prestar atenção de verdade é que percebi que o quão difícil é, de forma que estávamos consumindo muito mais açúcar do que deveríamos.
Minha mãe compreende que eu não quero ter uma filha viciada em açúcar. Mas ela também é da turma que acha que em casa de vó pode tudo. E que uma sobremesa só não faz mal.
E por aí? Como anda o conflito entre as gerações da sua família?