Mundo Ovo

Aprendendo a dividir – Ei, mãe, estamos falando de você!


Se você acha que esse post contém dicas preciosas para ensinar o seu filho a dividir os brinquedos, desculpa te desapontar, mas não é bem sobre isso que eu ando refletindo. O que está na minha cabeça há tempos é justamente o seu lado nessa equação: você passa tanto tempo do seu dia ensinando o seu filho a dividir tudo – os brinquedos, a comida, a atenção –, que se esqueceu de refletir sobre como você lida com a divisão da sua própria vida.

Tudo começa com uma divisão do seu próprio papel. Você é uma mulher. Aí você vira namorada e depois esposa. Além de mulher e esposa de alguém, você também é uma profissional. Além de mulher, esposa e profissional, você também é mãe. Quer dizer: no mínimo rola um 4 em 1. Se você não é mais casada, você é ex alguma coisa de alguém. Também é um papel oras, com um fardo dolorido de se carregar. Mas se você acha que basta organizar todos os papeis emocionais e não deixar a peteca cair, engana-se. Tem mais.

Mãe nunca mais toma banho sozinha. Aliás, banho é o de menos. Mãe só faz cocô com torcida organizada, sentada no banquinho querendo saber por que o cheiro tá ruim, por que você tá demorando e se pode dar tchau pro seu cocô. Pois é.

Mãe também não dorme mais sozinha espalhada na cama. Normalmente tem um bebê com uma fralda semi vazada bem na sua cara. Ou uma criança que cisma que só pode dormir se os pés estiverem pousados nas suas costelas. Ou dividindo travesseiro. Na pontinha da cama.

Mãe não consegue mais ver um filme sossegada na televisão da sala, pois ela está sempre ligada naquele canal irritante de desenhos animados. Não consegue mais ver um filme impróprio, cheio de sexo, tensão e tiroteio, sem ser baixinho e trancada em algum cômodo, afinal não queremos traumatizar as crianças.

Mãe também não come mais chocolate impunemente. Afinal, você vai ter que dividir com muita tristeza aquele seu chocolate importado caríssimo cheio de caramelo e flor de sal ou não quer comer chocolate na frente dos filhos para que eles não se espelhem no seu vício. Você passa a comer chocolate aborrecida ou culpada. Ou os dois.

Mãe também não faz mais sexo espontâneo ou casual. Se casada, tem que esperar que os astros se alinhem com as condições climáticas, e é batata que no momento em que seu marido der o primeiro beijo na sua nuca (lembra disso ainda?), o bebê vai espernear sem dó e nem piedade. Se solteira, jamais vai conseguir sair, conhecer um mocinho deslumbrante e levar ele para sua humilde residência, numa dose de ousadia que você nem sabia que tinha. Novamente os astros, novamente as condições climáticas e por fim contar que as crianças estejam na casa do pai ou até do padeiro nesta noite.

Eu poderia continuar pra sempre, afinal mãe é aquele quebra-cabeças difícil de 1000 peças. Mas não se engane, você não é infeliz e nem desejaria que fosse lá muito diferente. Mas acho que a gente tem pouco tempo pra refletir o quanto nos afastamos da nossa própria essência quando somos tanta coisa para tanta gente, quando nos doamos para tantas pessoas e nos esquecemos de que, de vez em quando, a gente precisa montar esse quebra-cabeça pra se sentir inteira.

E aí? Já refletiu sobre isso hoje?

 

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