Mundo Ovo

Por que as crianças não brincam mais fora de casa?


Um estudo recente realizado com 8.950 crianças e publicado no Arquives of Pediatrics & Adolescente Medicine evidenciou que metade das crianças de 1 a 4 anos não estão brincando fora de casa. De acordo com a pesquisa, as meninas brincam menos fora de casa do que os meninos e as mães levam 2 vezes mais as crianças para brincar fora de casa do que os pais. Alguma semelhança com o que vemos por aqui?

Não sei como é na sua casa, mas aqui sempre foi uma luta achar algum lugar legal para levar o Adam quando pequeno. As pracinhas do bairro estão mal conservadas e muitas vezes oferecendo risco aos pequenos, e mesmo assim estão lotadas por falta de alternativas para os pequenos correrem por aí, como eu fazia na minha infância. Para algumas crianças o play do prédio é o lugar mais “fora de casa” que frequentam e esse play nem sempre irá oferecer o tanto de estímulos que um lugar ao ar livre ofereceria. Para outras crianças, a realidade é a da vida em creche e, tendo isso em mente, precisamos escolher uma que tenha alguma área aberta e disponível para livre expressão de movimentos e explorações.

De acordo com a Academia Americana de Pediatria a recomendação é que as crianças brinquem fora de casa (em ambientes abertos, a casa do coleguinha não vale) para serem mais ativos e também pegarem sol, aumentando os níveis circulantes de vitamina D.

Crianças nessa idade precisam de 60 minutos de atividade física de moderada à intensa por dia, especialmente nos 3 primeiros anos de vida. Brincar fora de casa é uma maneira importante de prevenir obesidade na infância e por toda sua vida. A socialização, o contato com a natureza e aumento da criatividade são alguns das benefícios do entretenimento ao ar livre, enumera o médico Christian Müller, do Departamento de Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Se a atividade ar ao livre é essencial para o crescimento e desenvolvimento motor, visual e cognitivo das crianças, por que estamos tanto dentro de casa? Listo abaixo reflexões sobre o assunto.

  1. Na minha época de criança eu não me lembro de ter tantos brinquedos em casa e muito menos um (ou dois) cantos da casa recheados deles. O legal era brincar com o amigo, a gente podia até se encontrar no play e juntos, cada um levando o seu brinquedo, criávamos novas brincadeiras. Sem falar que para brincar de todo tipo de pique e outros jogos de criança é preciso que existam ao menos 2 pessoas.
  2. Os jogos eletrônicos dominam casas com crianças bem pequenas. E vídeo game não é um tipo de atividade que gaste lá muita energia, alguns estudo comprovam que dependendo da personalidade da criança e do tipo de jogo, podem até mesmo causar crises de ansiedade.
  3. Um pouco de comodismo. A pracinha é longe, a gente sai cedo e volta tarde do trabalho… Entendo que é a realidade de muita gente, mas precisamos entender que certas mudanças precisam ser feitas. Se só é possível ir para o parque no final de semana, que assim seja. Acredite, você também irá colher os benefícios de uma vida mais livre e se divertir brincando com o seu filho.
  4. Algumas crianças já são ocupadas demais para brincar. Estudam em período integral e saem da escola para a natação ou a capoeira, estudam uma segunda língua e chegam em casa exaustas. Será que não estamos roubando alguma coisa desses pequeninos?
  5. Ameaças reais. Crianças mais velhas não saem sozinhas nem no próprio prédio. O conceito de vizinhança mudou, nem todos os vizinhos são cordiais e o medo de que nossos filhos sofram algum abuso é sim palpável e real. Por mais que tenhamos prédios “teoricamente” mais seguros, crianças de 8 anos não descem para o play sozinhas. Na minha época de criança, eu podia ir até onde a voz da minha mãe me chamando para jantar pudesse ser ouvida.
  6. Investir na comunidade. Aqui no meu prédio quase não temos crianças, mas os moradores com filhos decidiram arcar com algumas despesas para tornar o playground uma área que seja utilizável. Estamos mudando o piso, compramos alguns brinquedos, vamos pintar uma das paredes com tinta de quadro negro e até uma horta está em nossos planos.

Crédito da imagem em destaque via Shutterstock