Crianças tímidas e introvertidas

Eu, secretamente (agora não mais), acreditava que éramos nós, pais, que criávamos situações, quase armadilhas, que justificavam alguns dos comportamentos de nossos filhos. Desde que eles são pequenos estamos lá no papel de “cheermoms”, querendo mostrar as gracinhas e conquistas deles ao mundo. É um tal de “Filho, canta aquela música para a tia sicrana!” ou “Filho, dá um beijo na vizinha?” e “O que é isso, menino, parece bicho do mato!”. E assim alimentamos a exposição deles ao mundo sem perceber.

O termo introvertido foi descrito e definido em 1920 pelo famoso psicólogo Carl Jung para descrever uma pessoa que se torna emocional e fisicamente desgastada pelo fato de estar perto de outras pessoas por muito tempo. Neurofisiologistas sugerem que esse comportamento está associado com as “ligações” de partes do sistema nervoso. Quando realizaram o exame de PET scan do cérebro de crianças extrovertidas, a parte do sistemas nervoso dita “luta e fuga” era altamente ativa, enquanto que ao fazerem o mesmo exame, o cérebro de crianças introvertidas mostrava mais atividade na parte do seu sistema nervoso que regula descanso e digestão.

Dr. William Doherty, terapeuta familiar e professor de ciências sociais da família na Universidade de Minnesota, traduziu brilhantemente o que eu tentei falar acima: “Hoje, os pais sentem que precisam ser os condutores da vida social de seus filhos. Quão mais simpático e popular eles forem, maiores as chances de sucesso na vida.” Será? E o que podemos traduzir como sucesso?

Nossos filhos vão nascer com algumas características próprias, mas o meio em que eles vivem e as pessoas com quem convivem farão uma enorme diferença na formação de suas personalidades. Existem crianças tímidas, crianças avessas à socialização e outras introvertidas. Cada uma dessas características possuem pontos distintos a serem observados, algumas são limitadoras e outras podem ser apenas momentâneas.

 

A criança introvertida

Introversão é um “traço de caráter bem marcante e valioso”, segundo o professor de psicologia da Universidade de Harvard, Jerome Kagan. Engana-se quem acha que os introvertidos são mais no “ mundo da lua” do que os outros. Grandes estudiosos e escritores são exemplos de introvertidos que pensam muito e realizam. Um outro erro é achar que introversão e timidez são a mesma coisa ou que todos os introvertidos são tímidos. A grande maioria não é. Essa característica tende a permanecer com a criança para toda sua vida.

Pais de crianças introvertidas tendem a confundir introversão com timidez por terem algumas características que podem se misturar. Crianças introvertidas são:

  • Hesitantes e reservadas.
  • Observa as outras crianças antes de participar de alguma atividade.
  • Alternam períodos de tagarelice com silêncio.
  • Passam muito tempo sozinhas em seu quarto.
  • Na escola é palpável a não participação ou iniciativa em atividades da classe.
  • Se sentem confortáveis em lugares com menos gente.
  • Possuem poucos amigos.
  • Não mostram qualquer sinal de desajuste emocional.

Nº 1 – O primeiro grande passo para ajudar seu filho é aceitar que ele é uma criança introvertida. Especialistas dizem que os pais e outros adultos importantes na rotina dessas crianças precisam parar de forçá-los a ser algo que eles não são. Dessa forma, conseguimos desfazer o sentimento de inadequação e ajudá-los a construir sua auto-estima.

Nº 2 – Ajudá-los a entender como se sentem e explorar seus sentimentos, pois tendem a guardar o que sentem para si. Quando se tem pais atentos e carinhosos, essa angústia pode ir diminuindo quando se compreende e se aceita. Geralmente há um grande medo de se expor ou de se sentirem envergonhados/inadequados.

Nº3 – Crie um tempo para ele poder ficar sozinho se quiser. Crianças introvertidas precisam de algum tempo para processar as atividades, interações, conversas, informações e suas emoções do dia.

Nº4 – Abrace um mundo socialmente introvertido. Seu filho, assim como nós mesmos fazemos, irá procurar outras crianças com personalidade semelhante. Em um primeiro momento, isso pode ser preocupante para você, mas será de grande alívio para ele saber que não está sozinho nessa e vai poder mais e mais compartilhar interesses.

Nº5 – Não exponha seu filho além do necessário. Ele não precisa cantar para a família, nem sair beijando gente que nunca viu na vida ou brincar com o filho da sua prima de quinto grau em uma comemoração. Qualquer exposição social deve ser gradual. Você não precisa fazer exatamente o que ele quer ou alimentar uma vida reclusa, mas o ideal é que você entenda até onde pode esticar a corda sem ela arrebentar. Aos poucos ele irá se sentir mais e mais seguro em novos eventos sociais. Lembrando que a introversão é uma característica dele, assim como a extroversão é a característica de uma outra pessoa próxima de você.

Nº 6 – Use a tecnologia a favor do seu filho, mas com moderação. Pequenos já alfabetizados se sentem protegidos pela tela do computador (tablet) e conseguem se comunicar de forma mais clara com seus pais. Ele se sente seguro e confortável em seu espaço “virtual”. Essa forma de comunicação, porém, não pode substituir a conversa olho no olho de todo o dia, mas talvez seja um meio de você obter mais informações do que não conseguiria na conversa da hora do jantar. E não se esqueça de tornar o meio virtual seguro para o seu filho.

 

 

A criança tímida 

Quem nunca teve seu filho se escondendo nas pernas ou abaixando a cabeça quando alguém lhe dirige a palavra que atire a primeira rosa. Um certo grau de timidez é normal e saudável logo na primeira infância – 15 a 20% das crianças são tímidas ou mostram algum sinal de inibição. Esse é um período em que a criança está conquistando autonomia e entendendo o mundo onde vive.

Não há nada de errado em ser tímido. A timidez é um comportamento composto por 3 componentes – genético, personalidade e do ambiente – gerando uma ansiedade exagerada em situações sociais que podem diminuir à medida que as crianças crescem – que é o que normalmente acontece. Um estudo em que Dr. Kagan acompanhou 250 crianças desde a infância mostrou que dois terços das crianças que eram tímidas aos 3 anos de idade se tornaram mais extrovertidas e sociáveis por volta dos 11 anos. O problema aparece quando essa tal timidez limita a vida da criança e da família.

Pais de crianças com um certo grau de timidez se preocupam demais, principalmente se eles não tiveram que lidar com isso quando crianças. Pode ser que seu filho:

  • Não queira ir para a escola ou fazer alguma atividade extra;
  • Tenha dificuldade em fazer amigos;
  • Fique ansioso sempre que percebe ter que participar de alguma atividade social (como aniversários);

E sendo tímido:

  • É um ótimo ouvinte e presta atenção em tudo;
  • Apesar de quieto, faz contato “olho no olho” e não foge das pessoas queridas;
  • O comportamento é bom, não é um grande fazedor de birras ou causador de problemas.

Se a timidez é uma característica do seu filho, aprenda a estimular o que ela oferece de melhor. E você pode começar deixando de justificar o comportamento do seu pequeno com a frase “é porque ele(a) é tímido(a)!”.

Um estudo da Universidade de Maryland acredita que as mães exercem um papel especial nesse processo, tanto de forma positiva como de forma negativa, especialmente dos 4 aos 7 anos de idade de seu filhos. Se a gente já achava que a fruta não caia longe do pé, agora temos certeza. O que fazer?

  • Pais tímidos precisam desenvolver seus contatos sociais para ajudar seus pequenos a sair dessa concha. O ambiente familiar é importante, mas é preciso que outros relacionamentos sejam cultivados.
  • Superproteção é algo bem ruim para crianças tímidas. Quanto maior for a ansiedade dos pais e a tensão no ambiente, mais retraída a criança ficará, evitando se expor.
  • Dê voz ao seu filho. Quando qualquer pergunta for dirigida a ele, deixe que ele mesmo responda coisas simples como nome e idade.
  • Deixe que seu filho faça suas próprias escolhas. Em um restaurante, deixe que ele faça o pedido. Separe duas mudas de roupas e pergunte qual ele gostaria de vestir. Tarefas simples e de grande valor.
  • Elogie cada iniciativa de superação do seu pequeno.
  • Não force um convívio social. Um passo de cada vez para ter os pés seguros no chão.
  • Crie situações onde seu filho possa tomar a iniciativa e aos poucos ir se sentindo à vontade.
  • Reforce positivamente a imagem do seu pequeno. Assim ele será capaz de se sentir aceito e diminuir cada vez mais o medo de se expor.
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3 Comentários

  1. Jacqueline
    10 de Abril de 2016 at 15:31 — Responder

    Seu filho é introvertido, Patrícia? Se sim, será que você estaria disposta a responder algumas perguntas sobre esse tema? Estou cursando jornalismo e estou escrevendo uma reportagem sobre o assunto.

    • Patricia
      11 de Abril de 2016 at 13:02 — Responder

      Oi Jacqueline,
      eu achava que ele era, mas os sinais firam seguindo por um outro caminho.

  2. Paloma
    4 de julho de 2019 at 16:47 — Responder

    Acho que minha filha é introvetida, podem me ajudar?

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