Mundo Ovo

Escovar os dentes com creme dental fluoretado, sim ou não?


Na semana passada rolou mais um bafafá com a Bela Gil, agora com relação à escovação dos dentes. Existe toda uma regulamentação com relação ao uso de flúor desde o aparecimento do primeiro dentinho do bebê, por motivos bem estudados e documentados. Não quero dizer com isso que a cúrcuma não tenha poderes medicinais, eu estou mais é torcendo que a utilização de alimentos possa ser sempre o nosso melhor remédio, essa também é a minha praia – questionar, buscar o que é mais saudável para a minha família -, mas adotar essa “dica” como “creme dental ”, preciso de muito mais informação do que o depoimento dela (que aliás tem dentes lindos e brancos!).

Não posso deixar de comentar que nos estudos que a Bela Gil publicou em sua página sobre odontologia, nenhum deles fala sobre prevenção de cáries ou ainda tem o foco na área odontopediátrica, nenhum deles é um estudo clínico e muitos deles ressaltam o poder anti-inflamatório (problemas na gengiva) ou foram feitos em ratos.

 

O flúor?

O flúor é estudado exaustivamente há décadas e assim como em qualquer estudo existirão limitações e avanços. O fato é que se descobriu que ele possui ação benéfica na prevenção e redução da prevalência da cárie, por estar aumentado na saliva e permanecendo assim pelo menos 40 minutos após a escovação. Na superfície dos dentes limpas pela escovação, ele reage formando uma camada de fluoreto de cálcio na superfície do esmalte-dentina ajudando a combater os microrganismos produtores de cárie e a fortalecer o esmalte da superfície.

 

A recomendação:

A OMS (WHO, 1994) recomeda que esforços devem ser feitos para permitir o uso generalizado de cremes dentais fluoretados nos países “em desenvolvimento”, ressaltando que os dentifrícios com flúor devem conter no rótulo aviso de que crianças de até seis anos devem escovar seus dentes sob supervisão de um adulto e em quantidade de pasta adequada a cada idade.

No Brasil, a chamada fluoretação (a associação de flúor ao tratamento de águas de abastecimento público) passou a ser lei federal em 1974, que criou as Políticas Públicas de Saúde Oral. Esta medida é uma das quatro formas comunitárias de se absorver o flúor. Ressalta-se porém em toda a comunicação que é preciso tomar cuidado com a quantidade de flúor ingerida, pois o excesso da substância pode provocar diferentes graus de fluorose dental.

Associação Brasileira de Odontopediatria (ABO) recomenda que a partir da erupção do primeiro dente, todo bebê deve receber escovação, duas vezes por dia, com creme dental fluoretado.

Há pouco tempo, a American Dental Association (ADA) mudou a recomendação e passou a seguir a da OMS, invalidando a anterior que pregava o uso do creme dental somente a partir dos dois anos de idade. A Associação Americana de Pediatria também é a favor dessa mudança. A nova medida tem como objetivo combater o aumento do número de cáries em crianças, dado que estudos comprovaram que 25% das crianças americanas já teve cáries antes mesmo de entrar no jardim de infância (The Journal of the American Dental Association).

 

O que é fluorose?

A fluorose dentária é o resultado da ingestão excessiva e continuada de flúor durante o desenvolvimento dental. A maior manifestação é opacidade do esmalte devido a alterações no processo de mineralização. O grau dessas alterações vai depender da dose de flúor a que a criança está exposta. A fluorose dentária leve causa apenas alterações estéticas, caracterizadas por pigmentação branca no esmalte dentário – os dentes permanentes nascem com manchas brancas -, mas, em outros casos, o excesso de flúor pode ocasionar manchas mais amareladas, além de vômitos e alterações gastrointestinais, como diarreia.

O creme dental é considerado como o maior fator de risco de desenvolvimento de fluorose na dentição permanente, mas ainda não há evidência da associação entre a sua prevalência e uso de creme dental fluoretado antes dos 3 anos de idade. Desta forma, recomenda-se que se siga a quantidade recomendada de creme dental de acordo com cada idade, lembrando ainda que o creme dental não é alimento ou brinquedo e deve ficar fora do alcance das crianças.

 

Qual a pasta indicada? Quanto de creme dental se deve usar?

Associação Brasileira de Odontopediatria (ABO) recomenda que a concentração de flúor no creme dental deve ser de 1.100 PPM (partes por milhão). Os pais devem ler o rótulo e procurar por produtos que tenham uma concentração de flúor entre 1100 e 1450 ppm (partes por milhão). Se a concentração de flúor for inferior a 500 ppm, não protege das cáries.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que os cremes dentais com baixa concentração de flúor não são eficientes contra as cáries e que não conseguem evitar a fluorose. Fica claro que o problema não é a concentração do flúor apenas no creme dental, mas a ingestão de grandes quantidades de flúor.

A ação de colocar o creme dental na escova da criança é de responsabilidade dos pais e deve ser feita de acordo com as recomendações abaixo:

A recomendação da Associação Brasileira de Odontopediatria é que os pais procurem orientação de um odontopediatra para o profissional avaliar as necessidades individuais da criança

 

Pastas de dentes disponíveis no mercado:

Ao chegar ao mercado ou farmácia, olhe bem todos os rótulos. Sei que as letras são pequenas, vale tirar uma foto com o celular e ampliar se for o caso (acredite, algumas inscrições são mínimas).

Bitufo Ben 10 ou Monster High

Colgate Smiles

Malvatrikids F-Infantil

Malvatrikids Junior Gel

Oral-B Stages Disney

Sanifill Kids

Tandy

 

Boni baby Disney Pooh

Colgate My first

Gel Dental Infantil Weleda

Gel Dental Sem Fluór Bitufo

Malvatrikids baby

Fluor kin (abaixo tem 500 ppm) 

Sanifill Fase 1

 

Alternativas:

Já existe no mercado brasileiro alguns cremes dentais que utilizam produtos como o xilitol e a malva ao invés de flúor. Alguns (poucos) estudos mostram que o xilitol tem capacidade de tratar e prevenir a cárie, apesar de a um custo mais alto. A malva tem ação anti-inflamatória e antimicrobiana, mas também precisa de mais estudos para que essa alternativa seja viável.

 

Eu continuo acreditando que a diferença entre remédio e veneno é a dose. A diferença entre o efeito do flúor que usamos na água e na pasta e o efeito tóxico é a dosagem. Espero que a cúrcuma, o óleo de coco e outros ingredientes da nossa cozinha, que já entraram na limpeza de nossas casas, possam habitar o gabinete do nosso banheiro e se espalhar por aí. Mas para isso, estamos aguardando ansiosamente os estudos científicos que comprovem sua eficácia.