Imaginem duas mães separadas se preparando para a virada do ano + férias das filhas + precisando de um descanso? O que elas fazem? Se juntam, claro. Porque é mais fácil colocar sua filha com uma amiga para elas se distraírem sozinhas, enquanto você bate papo com sua outra amiga adulta por uma semana. O destino? Rio de Janeiro. Minha amiga Tatu veio com a filha, Alice, de seis anos e a sobrinha Agatha de 19 anos. O objetivo era ficar um pouco de papo para o ar, visitar lugares legais para comer e beber, conhecer todas as praias e se desse, um pouco de piscina. Perfeito, né? Só que não.
As meninas se conhecem desde sempre e ficam felizes quando podem se ver. As duas são muito parecidas em história de vida e temperamento. São filhas de pais separados, moram com suas mães assertivas e trabalhadoras e absorvem doses diárias de independência, poder de escolha e são incentivadas a raciocinar e a se expressarem.
Manter a paz entre elas foi dureza. Alice, aos seis anos, achou que mandaria na Victoria, de quatro anos, por causa da idade. Victoria, carne de pescoço, não se deixava dobrar facilmente e não abria mão de expressar as suas vontades. Ao mesmo tempo, Alice queria a companhia da amiga e a Victoria, por sua vez, queria ser mais “adulta”, como a Alice. Elas corriam de mãos dadas e agarradas na mesma frequência em que se empurravam aos berros por motivos diversos.
A dinâmica foi engraçada, pois a Alice achou um jeito de se impor com a Vicky e com isso Lili garantia a sua soberania de mais velha. Victoria, por sua vez, sabia que se ela reclamasse bastante e chorasse alto pra quem quisesse ouvir, uma das três adultas iria acolhê-la, afinal ela era “pequena”. Depois de uma semana passional e entre tapas e beijos, as duas choraram na despedida, não queriam se separar, Alice fez vídeo, Victoria está até hoje imitando o sotaque paulistano da amiga e estão loucas pra se encontrar de novo.
Tatu, de volta a São Paulo, escreveu pra mim esse texto delicioso (e irônico na medida) que mostra um pouco da realidade de filhas únicas cujas mães são separadas. Criadas em um ambiente essencialmente feminino e com mães que, normalmente, são verdadeiros tratores, essas meninas são a prova viva de que existe um pouco de matriarcado no meio de um mundo um bocado machista.
E vocês, mães solteiras de meninas? Também vivem a mesma coisa que a gente? Ou vocês vivem a vida de uma maneira mais mansa?
O que não é ruim, mas é um pouco irritante.
Filhos únicos já são naturalmente mimados: os reis da casa, com todos os quitutes preferidos, as regalias e os brinquedos para si. Nenhum irmão para dizer que eles são café-com-leite na brincadeira, eles chatearem e depois verem que fica tudo bem mesmo assim. É preciso instituir na vida dos filhos únicos muito parquinho e primo para botar na cabeça da criança que é necessário dividir, seja os brinquedos, os quitutes ou a atenção e os afetos.
Os filhos únicos de mães solteiras são ainda piores. Além de brinquedo, comida e regalia eles têm para si toda a atenção da única autoridade sob o teto do lar. Cada “mamãe” é atendido com prontidão e muito provavelmente a rotina da casa gira em torno das necessidades da criança. Um território minado para faniquitos em caso de contrariedade às prioridades do pequeno morador. Que pode piorar.
As – atenção à flexão do artigo – filhas únicas de mães solteiras são imensamente mais propensas às explosões. Verdadeiras tiranas em roupas bufantes de glitter. Ditadoras soberanas disfarçadas de princesas, com coroas e cetros. Podem parecer amáveis e dóceis, mas no momento em que mais de uma destas joias raras são obrigadas a conviver por algum período é certamente instaurada a pior das guerras. A luta pelo poder, pelo comando da situação, do vestido rosa e do DVD do Frozen. É preciso separar as princesas antes que o cabo de guerra com a boneca vire bomba atômica.
Com este cenário de hecatombe, nem entraremos nos detalhes sobre as Filhas Únicas de Mães Solteiras Divorciadas. Um caso em que a princesa da casa recebe doses cavalares de Girl Power logo no café da manhã. Os meninos do parquinho fogem no instante em que suas sapatilhas bailarina pink brilhante tocam a areia, acreditem.
Mas não se aflijam, há chances de bom convívio e paz. Se você é mãe, divorciou, está solteira e tem uma filha única menina aqui vai um bom remédio para atenuar os sintomas: encha a casa de crianças com bastante frequência, empreste o brinquedo dela para estranhos, passe as tardes livres em parquinhos, vá sozinha ao salão e maneire nos mimos e presentes (que os avós já irão se encarregar disso). Nada garante que a adolescência da rebenta está salva, mas pode ser um pouco mais tolerável.
Boa sorte. <3″
Imagem destacada: shutterstock YanLev