Semana retrasada estava em uma sala de espera com meu filho. Achei que ele brincava alheio à televisão, que estava ligada na Globonews, até que se deu o seguinte diálogo:
– Mãe, tem jornal todo dia?
– Tem.
– Sempre com notícias novas?
– Sim.
– Nossa, como é que as pessoas conseguem fazer tanta coisa ruim e errada no mundo de um dia pro outro?
Você saberia responder?
A semana passada foi bem difícil. Um monte de notícias ruins acumuladas ao longos dos últimos meses, vindas do Rio de Janeiro, desaguou nas mortes dos meninos no Dendê e do ciclista na Lagoa. A imagem da mãe chorando a morte precoce do filho não sai da minha cabeça, assim como o sangue do médico se esvaindo. Como falar sobre maternidade sem contextualizá-la no mundo em que vivemos?
Se a gente se sente desamparada, como amparar nossas crianças? O que se diz? Como se ensina a enfrentar um mundo assim? Como se educa para que a indignação não se transforme em um discurso de ódio? Como se transmite otimismo para que eles acreditem que possam ser agentes de mudança?
Talvez a maioria de vocês que lê nosso site tenha filhos menores e ainda consiga poupá-los desse tipo de notícia – pelo menos as que chegam pelos jornais, não as que batem à nossa porta. Imagine como é nas áreas de risco, onde violência não bate em porta alguma e atravessa as paredes…
Meu filho já tem 9 anos, lê as manchetes nas bancas e faz muitas perguntas. Como conversar sobre esse lado do mundo?
A infância é repleta de descobertas maravilhosas: a primeira vez que uma onda molha o pé, a textura da areia, o gosto da primeira fruta… Mas e quando a criança se depara pela primeira vez com a violência, com a injustiça, com o racismo, com o ódio? Pior, e quando ela cresce em ambientes assim?
O que falar? O que poupar? Como explicar tanta coisa inexplicável?
Você saberia responder?
*Crédito da imagem do texto Os filhos e o mundo: Shutterstock
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