Mundo Ovo

Carta para a mãe cansada

Querida mãe cansada, ou melhor, exausta,

Penso em você com frequência. Mais importante: já fui você. Ocasionalmente ainda sou você, mas a verdade é que – graças aos deuses –, o cansaço materno não me afronta mais.

Por isso te escrevo. Para dizer que você não está sozinha. E você pode estar exausta demais para sequer olhar e se importar com o seu entorno, mas quando você conseguir dormir mais do que 4 horas seguidas você vai lembrar das minhas palavras. VOCÊ. NÃO. É. A. ÚNICA.

Saber isso é de um alívio imenso, acredite em mim. Por que você se sente um E.T. Você se acha incompetente. Cadê você linda, magra, de peito em pé, de barriga sarada, descansada e de bochechas coradas? Porque você não está igual àquela blogueira famosa, igual a atriz da novela, a cantora de axé? Todo mundo pariu e tirou foto linda, leve e loura no Instagram duas semanas depois do parto. Por que não você? O que há de errado na sua vida?

Amiga, não há nada de errado com você.

Lembro que o obstetra assistente chegou pra mim na maternidade e me disse sábias palavras que ecoam até hoje na minha mente (ele mesmo, estava com um bebê de meses em casa): a primeira semana você vai chorar todos os dias. De felicidade, de tristeza, de exaustão. Mas você vai sobreviver. O primeiro mês você tem certeza de que vai morrer de cansaço. Mas os meses vão passar e quando você piscar passou 1 ano. E aí você já sabe que aguenta o tranco.

E foi assim mesmo. Só fui dormir uma noite completa mais de dois anos depois do nascimento da Victoria. Eu trabalhava (trabalho) e minha licença-maternidade foi só de um mês (Chefe não tira licença, ou assim eu acreditava. Hoje lutaria comigo mesma por seis meses). E Vicky quando foi pra creche sofreu todas as crechites e mais algumas pneumonias. A cereja do bolo foi me separar quando ela tinha 2 anos. Mas quando chegou aí, eu já tinha um calo no lombo. Sabia que dava para aguentar o tranco. Só que eu quase não acreditei nisso por muitos meses!

E essa carta não é só para as mães de bebês que não dormem, (reza a lenda que existem bebês que dormem 12 horas por noite desde sempre). Por que o cansaço é generalizado. É a mudança na rotina, controlar os maus-hábitos, as ansiedades, a depressão pós-parto, o marido ausente, a falta de apoio e empoderamento, a solidão, o medo. Todas essas emoções que borbulham na superfície. Te deixa sempre alerta e meio refém. Um zumbi que se alimenta dessa montanha-russa de emoções.

Eu, relembro com calafrios, fiquei exaurida de toda energia. E é por isso que eu te entendo tanto. É por isso que todos os meus posts sobre o sono do bebê fazem tanto sucesso. Por que eu fui você.

Mas a vida fica melhor. E hoje eu só não durmo direito por causa de uma insônia recorrente. 5 anos se passaram. Nos dias de semana eu acordo duas horas mais cedo do que ela e organizo um pedação da minha manhã antes de levá-la para a escola. Nos finais de semana, ela já acorda sozinha e me deixa dormir mais algumas horas enquanto come uma banana e vê desenho com suas bonecas. O mundo volta sim a ficar colorido. Suas amigas sem filhos vão adorar ensiná-la a subir em árvores e fotografar esses momentos doces, enquanto você senta na sombra e saboreia uma água de coco.

Crianças não são tão frágeis quanto parecem. E você é uma força da natureza. Lembre-se do seu superpoder: você cria vida. Você faz qualquer coisa.

Se você quer uma receita de bolo para passar por isso, infelizmente não tenho uma.

Mas se você se lembrar diariamente:

Tudo isso parece um sonho impossível. Mas tente. 5 minutos de cada vez, 1 item por vez. Não se perca no caos. Aprenda a operar no caos. Por que o caos não muda muito nessa sandice que é a maternidade. Mas como você vai encará-lo é que fará a diferença. E essa é das regras de ouro da maternidade, tal qual trocar fralda com uma mão ou amamentar sem abrir os olhos.

E eu já fui você. E, ó, deu tudo certo. E meu ombro virtual está aqui pra você chorar, gritar, xingar. O cansaço parece infinito. Mas um dia você doma o bicho.

 

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