Mundo Ovo

O medo e a superproteção

 É natural surgirem novos medos depois da maternidade, mas não podemos ficar refém deles e abusar da superproteção.

Vamos falar sobre o medo e a superproteção?

Minhas sobrinhas começaram a voltar da escola de metrô aos treze anos. Moramos no Rio, cidade onde se enfrenta perigos em cada esquina. Minha irmã diz: “morro de medo, mas sinto que preciso soltar elas aos poucos”. Essa é a mesma irmã que, trabalhando em Botafogo, deixou de morar na Barra para morar perto do trabalho. Ela dizia pra todo mundo que era por causa do trânsito. Mas um dia confessou que um dos maiores medos que ela tinha na vida era o de ser assaltada no trânsito e não conseguir tirar as duas bebês da cadeirinha do carro a tempo.

Esses dias uma amiga comentou no Facebook que leu/ouviu uma mãe dizer que pensava em não colocar o filho na escola por que não confiava em ninguém no cuidado com seu filho. Conheço uma pessoa que estava claramente atrapalhando o desenvolvimento da filha que estava começando a andar. Ela tinha tanto medo da menina se machucar que ela ia escorando os passos da filha, que era tolhida antes mesmo de existir a possibilidade dela cair. E essas são apenas algumas das infinitas histórias que a gente presencia ou vive em nossas vidas maternas cotidianas.

Antes de mais nada, essas histórias são verdadeiras e não existe julgamento algum da minha parte e não deveria vir de vocês. Claro que tememos pela segurança dos nossos pequenos. Temos medo. Ainda mais se você, como eu, mora em uma cidade tão linda quanto violenta.

Protegendo excessivamente nossos filhos por conta do medo

Mas o medo nem sempre é racional. Existe o medo palpável de morar na cidade grande e querer minimizar os riscos de algo acontecer com você ou seus filhos. E existe aquele medo de qualquer coisa, que chega de mansinho e se instala, fazendo com que seu primeiro instinto seja superproteger seu filho de qualquer emoção diferente de felicidade. E aqui nem vou exemplificar a lista de medos que passam pela nossa cabeça diariamente sob o risco de colocar mais minhocas nas cabeças das minhas leitoras.

Mas eu quero deixar claro que embora alguns medos sejam tão reais quanto irracionais, eles também existem para serem vencidos. E é por isso que fiquei orgulhosa da minha irmã que, apesar de seu medo totalmente justificado, entendeu que precisava deixar suas ansiedades de lado para que suas filhas pudessem desfrutar de um dos maiores desejos de todo adolescente: liberdade.

O maior problema do medo na maternidade é a nossa tendência de tirar da frente, normalmente com um trator, qualquer impossibilidade de problemas, questões e emoções a serem enfrentados pelos filhos. Quando a gente antecipa tudo, não existe surpresa. Crianças superprotegidas são mais ansiosas e com maiores disfunções afetivas e sociais. Claro, eles crescem sem o mínimo de jogo de cintura. E a mãe também não consegue sustentar esse modelo indefinidamente sem uma alta dose de auto sacrifício pois crianças superprotegidas têm maior necessidade de atenção constante. Vira uma relação quase simbiótica. E uma mãe extremamente culpada quando algo sai, invariavelmente, do script.

Crianças precisam experimentar!

Os pequenos precisam ficar sozinhos para aprenderem que a solidão deixa a gente mais criativo. Devem ficar sem a atenção constante da televisão para que a mente não fique anestesiada e eles possam criar os próprios aviões de papel. Precisam entender que uma hora vão precisar dividir o brinquedo, uma hora vão enfrentar dores – as físicas e as emocionais. Uma hora não vai dar certo e não vai ter batata no jantar.

E nós mesmas precisamos entender que teremos que lidar com dores e chateações, por motivos de que: FILHOS. Vão aparecer viroses intermináveis, joelho ralado, canela roxa, vermes, piolhos, filho que volta mordido da escola, filho que morde na escola, que bate em mãe, que faz pirraça na frente da padaria por causa de picolé, criança que vai colocar algo inapropriado na boca, seja areia da pracinha ou uma rodela de feltro cheia de poeira e cabelo que caiu do pé da mesa de jantar (isso aconteceu aqui em casa. Nojo!)

Por isso tenha medo. Tenha medo e ímpetos de cometer loucuras pela segurança do seu filhotinho. Mas, logo depois, respire fundo! Ache seu centro, medite, pense bem e considere se libertar da sua necessidade de controlar tudo. Das suas ansiedades em prol de uma criança ajustada e preparada para enfrentar suas próprias ansiedades, temores e dores. Que vai até pegar vermes depois de comer a areia da pracinha, mas que vai se divertir tanto enquanto pega o sol da manhã e constrói castelos na areia. Que vai frequentar a escolinha e fazer amigos e brincar em um ambiente diferente do seu lar. E você não deveria cair na armadilha que é ficar olhando para a câmera da escola obsessivamente.

Lembre-se: superproteção não significa que você ama mais!

E mais: eles crescem e não vão (ou não deveriam) estar na barra da sua saia indefinidamente. É difícil. Mas estamos do seu lado.