Por que desprincesar as meninas

Em janeiro deste ano, quando visitamos a Flórida, muita gente interagia com a Victoria e ela, extrovertida, interagia de volta. Eram garçons, comissários de bordo, polícia no aeroporto, atendentes, vendedores de loja entre outros que, por algum motivo, achavam que seria legal bater papo com essa menina simpática. E praticamente todo mundo começava a interação com: “Hello, Princess!” (Olá, princesa).

Ela adorava a oportunidade de falar com todo mundo em português ou em seu inglês macarrônico, sem timidez. Até que um dia ela questionou: “Mãe, essas pessoas acham mesmo que eu sou uma princesa? Você diz pra eles que eu sou só uma menina normal?”. Eu respondi que eles sabiam que ela era uma “menina normal” (como se houvesse algo de normal na Victoria, rá!), mas que eles achavam que chamar menininhas de “princesas” era um apelido carinhoso. Aí precisei explicar o que era apelido e aí já viu: a conversa se alongou.

Filha, senta aqui, hora de problematizar

Como mulheres, nós do Mundo Ovo estamos de olho nessa revolução bonita que a nossa geração está fazendo que é a de empoderar nossas meninas. Algo que tivemos muito menos chance de aprender. Mas como única mãe de menina aqui no site, sou eu a viver na pele o que é criar uma menina empoderada.

Vivo diariamente o que é se preocupar em apresentar opções, a lutar para quebrar estereótipos. A evitar, ou pelo menos desviar a atenção de tanto cor de rosa, de tanto glitter, de tanta vontade que as pessoas têm de maquiar e colocar esmalte em meninas que são praticamente bebês. Mais Patrulha Canina e Detetives do Prédio Azul e menos Princesas da Disney. Mais rolar na areia, empunhar uma espada e aprender a andar de bicicleta e skate. E menos sentar na sombra pra brincar de hora do chá com coroa e cetro. Mas, desprincesar, vai além do problema com a cor rosa, é claro.

Se a gente pensar nas princesas da Disney, é ainda pior. A maioria não tem pais, são todas damas que não sabem se defender e ainda têm madastras que são, muitas vezes literalmente, bruxas – o que é um desserviço para todas as madastras maneiras que existem por aí. Você realmente quer que sua filha se identifique com essas personagens vulneráveis que precisam de um príncipe para conseguir realizar seus sonhos? Tá, tudo bem, até a Disney já se tocou e temos princesas “badass” como Merida. Mas pra cada Elsa e Anna, existem as pragas da Cinderela e da Aurora garganta abaixo das nossas meninas, ainda impressionáveis.

Não, não sou contra princesas

meninas

No fundo o desprincesamento das nossas pequenas não é tanto uma questão de aversão ao mundo cor de rosa dessas futuras mulheres inseguras, mas EQUILÍBRIO. O melhor que temos a fazer pelas meninas é oferecer  na mesma proporção outros mundos que elas possam se identificar. A hora do chá não pode ser com astronautas? Com futuras cientistas fazendo experimentos com folhas e detergente em potinhos de plástico?

Antes que vocês taquem pedra em mim nos comentários do Facebook (eu sei que vocês não vão me perdoar) aqui em casa a Victoria se veste de princesa. Embora o único desenho das Princesas que ela realmente curta seja Frozen), adora uma coroa etc e tal. Não estou tacando as princesas na fogueira, não. Tudo o que eu desejo é discernimento e ampliação dos limites do sonho e da fantasia. As princesas, na verdade são somente a porta de entrada para um mundo que eu considero um pouco perigoso e um bocado limitado.

E sim, talvez eu esteja sendo a “chatinha” do politicamente correto. E até consigo lidar com vocês aborrecidas comigo nos comentários. Mas eu ainda não consigo achar que “tudo bem e que deixa ela gostar do que ela quiser”. Acho que temos que orientar e direcionar o pescoço dos nossos filhos para além do horizonte que eles conseguem enxergar. E se você me segue aqui no Mundo Ovo, sabe que tudo o que eu prego é EQUILÍBRIO E BOM SENSO.

As princesas precisam ser apenas mais uma fantasia entre outras, não um objetivo de vida

Detesto pensar que Freud tem razão, mas a culpa dessa obsessão é um pouco nossa. Afinal, elas são esponjas que absorvem primeiramente tudo aquilo que oferecemos. E pais e mães de meninas que fazem enxoval exclusivamente cor de rosa? Que acham que menininhas podem e devem sair maquiadas e de unhas feitas? Que meninas de cinco anos devem usar saltos, e compram exclusivamente brinquedos “de meninas”? (AAARRRRGGGHHHHH) Eles estão contribuindo, e muito, para perpetuar esse problema.

Você realmente quer ser igual ao pai nos Estados Unidos que pegou um pedaço do deserto e fincou uma bandeira para que sua pequena déspota possa reinar e agora está tentando realmente fazer com que essa terra vire de fato um país? Talvez, se nos primeiros anos  sua filha não for sufocada por tanto princesamento, quando chegar a hora dela frequentar meios que você não têm tanto controle, como a escola, as princesas virem somente mais uma fantasia e não um objetivo de vida.

 

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2 Comentários

  1. Lili
    4 de junho de 2016 at 10:26 — Responder

    Parabens !!! É preciso começar o movimento nao só da questao de desprincesamento pelo fato de que isso cria uma realidade negativa para as nossas meninas mas tambem por fugir da apelaçao comercial que faz com que o marketing Disney empurre guela abaixo qualquer porcaria. É preciso pensar fora da caixa… fugir da moda. O que a Disney traz de beneficios para o futuro das crianças ?

  2. ERIKA DÊGELO
    13 de setembro de 2016 at 20:26 — Responder

    ADOREI! inha filha Maryah adora Patrulha Canina e Detetives do Predio Azul! Acha as brincadeiras dos meninos muito mais legais, e são, e das meninas chatas! Viva, minha filha não é uma princesa! Prabens!

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