Dizem as pessoas que “nasce uma mãe e a culpa vem junto”. E a gente até já falou sobre a culpa aqui no Mundo Ovo. Na semana passada eu participei da gravação de um video e dentre os muitos assuntos relacionados a maternidade que conversamos, terminamos na famigerada culpa.
Mas é aqui que eu queria instigar uma reflexão mais ampla sobre o assunto, até para ver se a gente consegue se livrar um pouco dessa pressão tão grande que colocamos em nós mesmas: onde que a gente mistura a culpa com saudade?
Por que nos sentimos culpadas?
Eu não sei vocês, mas todas as vezes que me senti culpada quando a Vicky ainda era um bebê, era por que eu não me sentia suficientemente presente na vida dela. Toda a minha culpa é gerada pela minha ausência. E 80% da minha ausência na vida dela era por que eu estava trabalhando.
Durante muito tempo, entre ela ter meses e completar dois anos, eu não fazia nada direito. Me sentia culpada por estar longe dela e quando estava longe dela me sentia culpada por não estar produzindo/rendendo nada no trabalho pois estava sempre correndo para chegar logo em casa, ou atrasada por que me demorava com ela. Eu não estava em lugar nenhum, só em um limbo gigantesco gerado pela culpa.
Quando ela cresceu mais um pouco eu percebi que parte dessa culpa era uma grande bobagem, pois ela estava bem-cuidada, feliz e independente. E eu deveria estar feliz por que estava recuperando uma parte importante de mim: a Camila mulher, que trabalhava, que pensava e falava de outras coisas que não criança, xixi, cocô, amamentação e o preço da fralda. Eu pensava em livros, no mercado, no Mundo Ovo, em exposições. Eu tinha amigos que eu via, pessoas que eu convivia que eram completamente fora do meu adorável mundo materno. E isso era bom pra caramba!
E a culpa foi se dissipando, eu fui me sentindo mais validada como mãe. E ligando menos para o que as pessoas poderiam pensar de mim: que eu não era uma boa mãe ou uma mãe suficiente por que eu não estava com ela acoplada no meu quadril 24 horas por dia.
Hoje em dia eu ainda me sinto um pouco culpada. Não tanto por trabalhar o dia todo enquanto ela segue na escola integral. Mas por que eu quero mais de mim de volta. Porque eu quero chegar em casa e depois do combo banho-pijama-jantar eu quero sentar e ler um livro ou ver um filme, quando ela quer jogar 300 partidas de dominó. Porque eu quero bater papo com uma amiga no telefone (sim, eu ainda falo no telefone) e ela me interrompe 400 vezes para falar assuntos banais que não podem esperar, aparentemente.
É muito ruim querer mais da gente quando temos filhos? Eu penso nisso e fico culpada por estar com medo da “patrulha” que vai dizer para mim que eu não sou uma mãe suficientemente boa por que eu sinto saudades da minha parte que não é mãe. Essa patrulha, claro, está na minha cabeça, sou eu, a parte minha que é mãe, que diz pra mim que eu tenho que abandonar meus desejos, minhas necessidades e me realizar exclusivamente na maternidade.
E quando é culpa e quando é saudade?
Lembro quando eu finalmente me livrei da culpa da ausência, quando eu passei um final de semana romântico longe dela. Era meu aniversário, eu ainda estava casada e fomos pra serra. Deixei Vicky com minha mãe e fomos.
A culpa tava ali do meu lado, mas eu afoguei ela, por que mais importante pra mim naquele momento era curtir o meu marido, que eu tava sentindo tanta falta dele, da gente, da nossa vida de casal.
Mas o tempo todo daquele final de semana prolongado, a gente se curtia e lembrava dela. Se curtia e lembrava o quanto ela iria se divertir ali. Se aquecia e pensava no quão linda ela estaria toda encasacada aproveitando aquele gramado todo. E depois da gente se aproveitar bastante, em um hotel que não aceitava crianças, a gente desceu no domingo de manhã, porque a saudade dela falou mais alto e a gente queria sentir de novo o cheirinho de bebê.
E eu tive um insight tão grande, tão profundo, que mudou toda a minha dinâmica em torno da culpa. Eu não estava me sentindo culpada por estar longe. Eu estava com saudades. E sentir saudade é uma dorzinha gostosa, sobretudo quando você vai ver a pessoa logo mais.
E como a gente resolve isso?
Sim, algumas reações ou atitudes que provocam culpa em mim ainda precisam ser trabalhadas. E acho que não existe nada melhor do que o autoconhecimento pra isso. Saber quem você é e de onde vem suas atitudes e fragilidades são o primeiro passo para livrar uma pessoa das suas amarras. E eu estou nesse processo. Muita análise, e muitos momentos de reflexão, que acabam gerando tantos dos meus posts aqui no Mundo Ovo. Essa troca saudável com minhas queridas leitoras ajudam um bocado em saber exatamente como resolver minhas neuroses.
Porque somos todos meio neuróticos. Está na condição humana. O importante é aprender a criar mecanismos para lidar com essas neuroses e aplacá-las. E tudo isso transforma você na mãe perfeita, na mulher perfeita. Naquela pessoa que se conhece o suficiente para saber separar a realidade dos desejos e saber conviver com cada pedacinho da sua complexa pessoa.