São 9 da manhã e eu fui dormir de madrugada. Já estou de pé desde as 7 da manhã. Devo ter dormido umas 4 horas, no máximo. Não, gente, lembra? Victoria já tem sete anos e dorme feito uma rocha. O problema é comigo mesmo.
Insônia por que os dias estão cheios, por que ainda não deu pra desligar do trabalho, por que ainda tem 4 malas de viagem pra fazer, por que …. por que a cabeça não para.
Acho que esse é um dos grandes dilemas das mulheres. Mais do que o trabalho braçal – que é infinito enquanto eles são bebês e que vai ficando mais fácil na medida em que crescem -, o trabalho mental é o mais desgastante de todos. E pior: é pessoal e intransferível.
Lembro que conversando com o pai de Vicky, eu estava dando um pequeno ataque de pelanca, quando ele me diz: “Camila você precisa entender que eu penso diferente. Você acha honestamente que eu vou comprar 20 presentes unissex para já facilitar a vida durante o ano? Isso é coisa de mãe.”
E caiu a ficha. Essa coisa que é mais do que leva na escola, busca na escola, dá banho, diz 132 vezes que precisa escovar os dentes. É mais do que encher a banheira do bebê todos os dias para o banho da manhã. É pensar, refletir e decidir que o banho do bebê vai ser às 8 da manhã e às 5 da tarde, por motivos que foram pesquisados à exaustão.
Quantas das suas tarefas são braçais? E o quanto que a sua cabeça desliga durante o dia. Entre pegar trânsito para ir ao trabalho e ir ao supermercado antes de pegar a criança na escolinha, quantas listas mentais você já fez na sua cabeça? O quanto você já pensou que talvez seja uma boa você ir no bazar da Converse, por que as crianças precisam de tênis para a escola no ano que vem, em fevereiro?
Honestamente, você acha que eu já fiz uma lista mental de todas as roupas que eu farei para as 4 malas que preciso preparar hoje? Sim ou sim? Que eu já estou há um mês lavando todas as roupas de frio, pra ir adiantando e viajar com tudo cheirosinho? Claro ou óbvio?
E esse trabalho silencioso, que massacra tanto ou mais do que o trabalho braçal, é o que te dá dor de cabeça, que faz você tomar ansiolítico igual bala, que faz você chorar no banheiro escondida. Por que é esse trabalho completamente invisível que faz com que as mães tenham síndrome de burnout igual a qualquer executivo de multinacional. Não é levar e pegar a criança na escola. É todo o trabalho de pesquisa, de reflexão, que fez com que você escolhesse a escola em primeiro lugar.
Maternidade e o trabalho mental
Mas o que fazer? Não sei bem. Como a gente desliga a cabeça de uma mãe? Quando a gente consegue parar de fazer listas mentais de tudo o que precisa ser feito, antecipado, refletido, discutido internamente. Por que as batalhas mentais são muito desgastantes, e nós temos milhares delas por dia com a gente mesmo.
Como a gente para tudo se a gente dorme só pra sonhar com uma fórmula infalível pra criança comer brócolis? (história verdadeira. Antigamente eu sonhava com projetos pessoais e ideias para livros. Agora eu sonho com fórmulas para incentivar a Victoria a arrumar o quarto sem drama),
Só consegui pensar em meditação, ioga e acupuntura. Coisas que vão te manter presente. De repente uma atividade física de alto impacto (aqui estamos tentando boxe e estou amando). Sei que, para fazer qualquer uma dessas coisas, até acontecer, sua cabeça vai exigir de você matemáticas infalíveis para organizar o seu tempo, o das crianças, o do parceiro (a), contas mirabolantes e até no trânsito você vai pensar. Acabei te dando mais trabalho. Desculpa.
Mas a verdade é que a vida não pode ser uma série de trabalhos físicos (que você divide com a sua rede de apoio, espero) + trabalhos mentais que te enlouquecem pouco a pouco. Equilíbrio é necessário e você precisa desligar. Muito mais do que mandar pela vigésima vez o seu filho guardar os legos antes que você pise numa pecinha.