Menino não é príncipe e menina não é princesa. Por que essas alcunhas “carinhosas” deveriam ser evitadas?
Quando descobri que estava grávida me preparei mentalmente para, caso tivesse uma menina, escrever textões na internet e brigar com familiares. O motivo? Recusaria, com toda a força, que minha filha fosse chamada de princesa. A ideia de impor as qualidades da realeza Disney – fragilidade, delicadeza, fofura – para uma criança, sem nem mesmo conhecer sua personalidade era impensável para mim.
Porém, eu descobri que teria um menino e pensei que poderia deixar essa batalha de lado. Mas a verdade é que meninos também são constantemente chamados de “príncipes” e “reizinhos”. A diferença é que essas alcunhas não impõem delicadeza ou fofura, e sim o papel central que é esperado que eles tenham em casa.
Aliás, para o pai, ninguém chama o filho de príncipe. A mesma sociedade que diz que uma menina deve ser delicada como uma princesa, é a que diz que as mães devem tratar a cria do sexo masculino com alguma reverência. Como se as mães devessem servir a seus filhos homens e poupá-los das funções domésticas.
E se você acha que isso é uma ideia ultrapassada, se prepara.
meu bebê não é príncipe e nem reizinho
Depois que anunciei que estava esperando um bebê do sexo masculino ouvi, incontáveis vezes, a proclamação dele à realeza. Ouvi que ele seria o reizinho da casa e mandaria em todo mundo. Ouvi que deveria aprender a cozinhar (!) porque menino gosta da comida mãe. Ouvi que meninos “amolecem” a mãe e por isso mimá-los é algo natural. Ouvi que o reizinho teria muito ciúmes da mamãe e que isso é muito fofo. Ouvi que não iríamos resistir em fazer todas as suas vontades.
Quis sair correndo. Depois, quis explicar que meu filho não é e nem vai ser tratado como um senhor da realeza. Quis contar pra essas mães que é assim que se criam meninos machistas, desses que acreditam que a mulher existe para servi-los. Quis dizer que quem manda em casa são os adultos e que ele vai ter que lidar com frustrações.
Chamar um menino de príncipe ou de reizinho é reforçar a ideia de que aquela é uma criança especial, que merece tratamento especial e não deve ser contrariada. Mais do que isso, coloca a cria como o “cargo mais alto” dentro da família, principalmente em relação à mãe. Sinceramente, esse papel de mãe servil não combina comigo.Muito menos, criar um ser-humano, em pleno 2017, que ache que o mundo gira em torno do seu reino.
Então, por favor, não me chamem meu filho de príncipe.
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