Eu tinha começado esse post falando que eu mal saia de casa, que o Tinder era um festival (até bastante divertido) de bizarrices diversas e que com a minha vida louca, a chance de eu conhecer alguém no supermercado passando com o meu carrinho no pé dele só para ele se apaixonar por mim é um sonho bem distante. Mas não é bem isso que eu quero falar. (e não fiquem com pena de mim, eu tô vivendo uma vida bem interessante, thank you very much).
Esse post é sobre outra coisa.
Há uns anos atrás, quando eu tinha recém me separado e sair com alguém era algo que eu mal contemplava, uma amiga me disse que tinha começado a namorar um moço e já tinha apresentado pra filha.
MAS COMO ASSIM?
Foi a minha pergunta, bem chocada mesmo. Eu sempre tive na minha cabeça que a gente só apresenta pessoas pros filhos quando estamos na porta do altar. Ou muito sérios, pelo menos.
Ao que ela me responde: Mas, Camila, como eu vou fazer? Ela mora comigo, está comigo a semana toda. O pai até é presente, mas não o suficiente. Nosso acordo me deixa com muito tempo livre. Eu amo a minha filha, mas eu quero namorar, quero encontrar com ele quando der vontade. Não quero que seja somente uma trepada às quartas e finais de semana alternados. Eu quero reconstruir a minha vida.
Eu não estava nem pronta pra ouvir aquilo. Era algo tão fora da minha realidade que eu concordei com ela e continuei comendo o meu galeto.
Anos depois eu me envolvi com um cara. Era princípio de verão, final do ano, praia rolando, por do sol na praia depois do trabalho. A gente tava ali, vivendo um amor intenso. Não dava pra ser só quintas feiras e finais de semana alternados. Ele queria mais, eu queria mais. Ele queria participar da minha vida e eu queria ele nela.
E aquela conversa com a minha amiga Carol caiu como uma bigorna na minha cabeça.
COMO MÃE NAMORA?
Gente, é muito difícil. Já é tão complicado a gente conseguir tempo pra academia, pra fazer hortifruti. Quando você tenta estar presente no começo da manhã antes de ir pro escritório e depois pega na escola e passa a noite com a criança, o que te sobra? Quintas-feiras e finais de semana alternados?
Você espera a criança dormir pra comer uma pizza depois das dez da noite com o bofe e assiste um Netflix madrugada adentro e acorda estragada no dia seguinte? Faz sexo na despensa lutando pra criança não acordar? Encontra com o sujeito no domingo de manhã “por acaso” na Lagoa e finge que é amigo enquanto todo mundo vai tomar água de coco e vocês lançam olhares furtivos enquanto a criança sobe na árvore?
VOCÊ NÃO TÁ MUITO LOUCA NÃO, CAMILA?
Tudo bem. Talvez. Eu nunca aleguei sanidade, certo? O que eu quero dizer é que tem aquele contatinho que você conheceu no Bumble, com quem você viveu uns sábados alternados divertidos e calientes. Você quer que a coisa evolua. Mas não é preciso mais? Não só mais tempo, mas também mais espontaneidade? E se você quiser encontrar na terça ao invés de quinta? E se o show daquela banda que ele te apresentou for na segunda, no mesmo dia da reunião da escola e seu ex-marido não vai mesmo e alguém tem que saber o que está acontecendo?
O quanto realmente você consegue separar as coisas – a sua vida adulta e sexual da sua vida em família? Quando é correto fazer as apresentações?
Quantos sapos você beija até achar o príncipe… ops analogia muito 1995 essa. Deixa pra lá.
É SIM MUITO DIFÍCIL
Eu já escrevi muito sobre equilíbrio na maternidade, sobre se sentir sexy, sobre ser mãe e também mulher, sobre o quanto a vida da mãe é tão mais sobrecarregada sim, por que o trabalho mental que envolve a maternidade é gigante e interminável.
E além de boxe, hortifruti, encontro com as amigas e ver a sua família, você ainda quer um namorado secreto? Mas que seja secreto só até você ter certeza que é de verdade mesmo e não é só um amor de verão que sua filha conheceu e você mal lembra o nome dele mas sua filha até hoje faz desenho pra ele?
Sinto que tô em looping aqui. Alguém pode me dizer então, como uma mulher consegue, em sã consciência ser mãe e ainda namorar alguém? Viver aquele amorzinho que vocês sabem bem como é. Sair dessa roda viva de encontros casuais que não significam nada, só por que é mais fácil?
Alguém?