Estava tudo bem. Estávamos tirando o puerpério de letra (na medida do possível). Todo mundo feliz até que me vi com um bebê gripado e o mundo ficou um pouco mais escuro.
Tá bem. Parece um pouco dramático dizer que o mundo ficou escuro ou meu coração ficou pesado quando o me deparei com o bebê gripado. Mas a verdade é que eu me senti culpada, impotente e muito (muito!) cansada.
Era só uma gripe, eu sabia disso. Como boa filha de médico, também sabia que não há nada para se fazer numa gripe a não ser hidratar, descansar e esperar passar. Meu lado lógico sabia disso. Meu lado prático mandou uma mensagem para a pediatra perguntando o que mais poderia fazer e ela acrescentou à lista: medicar febre acima de 37,8, usar soro no nariz entupido e observar qualquer chiado no pulmão.
Mas o cérebro materno é um negócio muito louco. Metade está lá funcionando lindamente de forma prática. A outra metade está correndo de um lado pro outro pensando nos piores cenários possíveis, carregando o bebê de um lado e um saco de culpa cimentada no outro.
Os meus sentimentos foram chegando, arrebatadores e em sequência, arruinando meu lado prático e me transformando numa mãe-zumbi-preocupadíssima por quatro dias inteiros.
Primeiro, a culpa. Eu fiquei gripada primeiro. Sei lá como eu peguei uma gripe forte durante o puerpério se a única coisa que eu fazia era cuidar do bebê. Mas eu fiquei gripada e pensei “não tem jeito, ele vai pegar a gripe”. Não deu outra, alguns dias depois estava lá o diagnóstico: eu adoeci o meu próprio bebê. Como lida com essa culpa? Se eu fosse de chorar, tinha chorado.
Segundo, a impotência. Eu sabia tudo que ele estava sentindo. Afinal, tinha tido a mesma gripe uns dias antes. E se eu, adulta, tinha me sentido um lixo, imagina um bebê que não faz ideia do que está acontecendo naquele corpinho? Dei muito peito, muito aconchego, muito colo em pé (ai minhas costas). Horas seguidas do processo suga catarro do nariz, põe soro, dá mamá, dorme no colo. E eu só conseguia repetir pra ele: “vai passar, filho, eu prometo”.
Terceiro, o medo do apocalipse. Quando ele adormecia e eu começava a pensar que “ufa, está tudo bem”, era tomada por uma onda imaginária dos piores cenários possíveis. Pneumonia, bronquite, não ser uma gripe, ser uma doença mais grave. Vai ficar com dificuldade de respirar dormindo? E se ele ficar com febre e eu não perceber? Sinusite. Choque. Convulsão. Meu deus, meu deus. Corri mil vezes pro google pra reler os sintomas de pneumonia. Essa não sou eu, gente.
Mas a verdade, a verdade verdadeira, é que bebê encarou a gripe muito melhor do que eu. Melhor do que eu encarei a minha própria gripe até. Então, posso dizer que o último sentimento que me acometeu de surpresa foi um orgulhinho. Orgulho do meu filho ser forte e saudável, orgulho de ele conseguir passar por uma gripe sem parar de sorrir.