Vai chegando o dia das mães e a tal “mãe de pet” surge das profundezas para dizer que ter um cachorro e ter um bebê é tudo igual. Notícia: não é.
Outro dia eu estava brincando dizendo que bebês e gatos são animais da mesma espécie. Já fazia 10 minutos que o meu lindo bebê de sete meses estava brincando de perseguir uma garrafa de coca-cola vazia e a comparação foi inevitável. É super engraçadinho como piada, mas tem gente que realmente acha que ser “mãe de pet” é igual ser mãe de ser-humano. E gente, não. Menos.
Eu tenho dois gatos (já contei sobre eles aqui). Tenho total conhecimento de causa para dizer que bicho dá um trabalho danado. Filhotes precisam ser educados e disciplinados, precisam ser alimentados, têm indigestões e alergias, têm um monte de doencinhas. Filhotes de bicho, assim como os filhotes humanos, têm que tomar vacinas, ir ao médico, ser entretidos e fazem cocô fora do lugar.
Dá para listar inúmeras semelhanças entre bichinhos e bebês. Sério. Dá pra dizer que eles são fofos. Que pedem colo. Que precisam ter alguém pra cuidar quando você não pode. Que são muito amáveis.
Com tanta coisa parecida, não é de se estranhar que as pessoas pensem que ser mãe de pet ou mãe de humanos é quase a mesma coisa.
Só que ser mãe de humanos é uma experiência extremamente pesada e transformadora. Um trabalho interminável. Uma experiência que faz com que você reavalie “pequenos detalhes” como por exemplo toda a sua própria identidade. Se você adotar um cachorro isso acontece? Claro que não.
A maternidade muda o seu status social. Para a sociedade, você deixa de ser um indivíduo para ser, antes de tudo, mãe. O mundo passa a exigir de você uma série de comportamentos específicos compatíveis com o seu novo “cargo” na humanidade. E ai de você se questionar quaisquer desses pré-requisitos de boa mãe.
Ser mãe é ser julgada o tempo inteiro – por tudo e todos. Ser mãe é ter que conviver diariamente com sentimentos de culpa e medo. Ser mãe é perder completamente a privacidade. Ser mãe inclui ser alvejada por opiniões não solicitadas e críticas infundadas que te fazem chorar e repensar toda a vida. É extremamente solitário. É ser absurdamente frágil enquanto se é absurdamente forte.
Não estou comparando amores ou dedicação. Cada um sabe o que sente.
Eu poderia estar aqui dizendo que o amor de mãe é o mais forte sentimento do mundo. Incomparável. Incomensurável. Mas não é o meu ponto. Você pode dispor todo o amor que tem no peito para seu animal de estimação. Quem sou eu para duvidar? Mas ser mãe (de humanos) tem uma carga prática e emocional que ser mãe de pet jamais terá.
Sim, você vai ficar arrasada se o seu bichinho sofrer de dor ou tiver uma doença. Vai te fazer muito feliz vê-lo brincar e dormir satisfeito. Mas eu duvido muito que você vá ser demitida do emprego porque escolheu adotar um cão. Eu duvido que se você for em busca de um emprego vão te perguntar: “mas você tem um gato? Com quem ele vai ficar quando você estiver na empresa?”.
Eu também duvido que vão te julgar ou que você vá sofrer qualquer tipo de constrangimento porque seu cachorro não tem um “pai”. Também não vão te julgar se você deixar o cachorro aos cuidados de outra pessoa para poder viajar ou quem sabe pintar o cabelo. Aliás, você já chegou ao ponto de ter que escolher entre comer ou tomar banho por causa da rotina exaustiva com seu pet?
Duvido. Então, por favor, seu cachorro é uma gracinha. Mas mãe de pet não é mãe.