Tenho pensando muito na maternidade e responsabilidade. Como nosso papel vai mudando com a mesma velocidade da mudança de fase dos nossos filhos. E elas são tantas, né?
A primeira infância é marcada por desafios práticos e emocionais profundos. Passamos pela gestação preocupada com o bebê e com a própria saúde para ser o melhor forninho para o seu pãozinho. Nossa responsabilidade aqui é física: comer bem, exercício, seguir nosso obstetra, buscar informações para um parto respeitoso e possível.
Depois passamos pelo puerpério que é avassalador da maneira mais linda e drástica que existe.
Isso se tudo der certo, claro. São muitos desafios neste período. Uma fase de ajustes, um momento aonde o bebê decide toda a sua vida, você perde as vontades, se exaure e ao mesmo tempo está tão cheia de amor. Realmente uma fase de muitas contradições e isso abala demais nosso sistema emocional. Acho que a maior responsabilidade aqui é emocional, conosco. A cabeça precisa estar semi sã pra gente conseguir aguentar essa barra pesada. Pedir ajuda, tentar ficar bem quando você acha que vai enlouquecer de cansaço. Temos uma responsabilidade imensa com essa criaturinha que a gente mal conhece mas já ama imenso. Tem sim, claro, o trabalho e a responsabilidade braçal de garantir aí não falte nada, que ele esteja bem cuidado fisicamente. Mas aqui, o emocional, é o maior ajuste.
Aí vem o trabalho braçal e mental interminável.
Engatinhar, andar, dentição. Fraldas, chupetas, regras intermináveis.
Isso pode e isso não pode. Você só é uma boa mãe se fizer dessa maneira e não dessa. Acho que aqui a responsabilidade materna é ainda mais dura por que passa por escolhas. E a turma da patrulha não te deixa esquecer seus papéis. E eu acho que aqui é onde a culpa se instala.
Acho esse início da primeira infância a fase mais cruel da maternidade. Onde mais sofremos julgamentos; onde toda e qualquer micro decisão vida uma tarefa hercúlea, pois ai de você que não siga as regras determinadas por essa galera que finge que te acolhe, mas faz bullying. Exige empatia mas não doa. Que te coloca contra a parede com tantas demandas. E essas pessoas nem te conhecem. Ou pior: te conhecem demais e não estão te vendo.
Mas o final da primeira infância acaba. E te confesso que foi onde comecei a me deparar com a responsabilidade em um nível macro, sabe?
Quando a Vicky era bebê eu não me preocupava com: “minha responsabilidade é criar um ser humano decente, bom, empático etc.”. Tava implícito que era assim que a banda ia tocar.
Mas hoje, com ela chegando aos oito anos, eu me pergunto diariamente:
Estou tomando decisões conscientes para que ela se torne a pessoa que eu gostaria que ela fosse?
Estou tomando atitudes que vão contribuir para que ela faça parte de uma geração que seja melhor (muito melhor) do que a nossa que está falhando em tantas coisas? Estou criando um ser humano que não vai se deixar corromper?
Acho que à medida em que eles crescem e nosso papel é menos se preocupar se está vestido e sapato amarrado, coisas que ela faz com maestria.
Meu envolvimento é muito mais existencial.
As coisas práticas a gente já tira mais de letra; a criança passa a ter mais papel ativo e escolhas, acho que a gente vai impondo menos e guiando mais. E enxergando essa criança desabrochar, virar um cidadão, uma pessoa individual, que a gente tem orgulho de ter ao lado.
Olho pra Victoria hoje e sinto orgulho de alguns de seus comentários e muitas de suas escadas fazem parte, claramente, dessa criação que ela está recebendo.
E, aqui, minha responsabilidade como mãe é só fazer que ela vire um ser humano incrível. E isso me dá orgulho e, confesso, um pouco de medo. Mas, nessa hora e em tantos outros momentos, a gente vai com medo mesmo. E vive.
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